BOLETIM PRIMEIRA MÃO 1204 – FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS – 06/11/15
A Pauta é pelo Brasil!
Mais uma vez, os petroleiros fazem história. Em uma greve contundente, a categoria disputa os rumos da maior empresa do país, deixando claro, como em maio de 1995, que não permitirá a privatização da Petrobrás. Para aqueles que subestimaram a força e o poder de luta dos petroleiros, a resposta tem sido dada no dia a dia da greve, com os trabalhadores enfrentando de cabeça erguida o assédio dos gestores e a covardia dos pelegos.
A Petrobrás, que durante quatro meses ignorou a Pauta pelo Brasil, finalmente, se dispôs a negociar com a FUP e com os seus sindicatos as propostas da categoria para garantir os investimentos e a manutenção dos empregos, condições seguras de trabalho, recomposição de efetivos e a preservação dos direitos conquistados pelos petroleiros. A greve, portanto, deve ser ainda mais fortalecida. Cada petroleiro e cada petroleira que estão nessa disputa serão fundamentais nos próximos embates.
O enfrentamento com os gestores não tem sido fácil, nem nunca pensamos que seria. Durante a construção da greve, a FUP e seus sindicatos buscaram exaustivamente negociar com a Petrobrás cotas de produção e efetivos mínimos de trabalhadores para garantir a segurança operacional e as necessidades imediatas da população, como determina a Lei de Greve. A empresa, no entanto, se recusou a negociar e nem sequer compareceu às audiências convocadas pelo Ministério Público do Trabalho.
A truculência e as tentativas de criminalização da greve, a afronta e a insegurança causada pelas equipes de contingência, os assédios e intimidações, nenhuma dessas condenáveis práticas antissindicais estaria ocorrendo se a Petrobrás tivesse se disposto a negociar. Foi preciso uma greve por tempo indeterminado e com parada de produção para que a empresa reconhecesse a Pauta pelo Brasil. A luta, portanto, só está começando. E como ensinou Mujica, “a única luta que se perde é a que se abandona”.
Gestores criminalizam greve. Petroleiros não se intimidam
Como em maio de 1995, os gestores da Petrobrás têm feito de tudo para reprimir a greve da categoria, atacando a liberdade de organização sindical e recorrendo à truculência da Polícia Militar para mandar agredir e prender trabalhador. Em um intervalo de menos de 48 horas, dois dirigentes sindicais foram detidos pela PM, em meio a cenas de violência que remetem aos tempos da ditadura.
Bahia, madrugada de terça (03) – a gerência geral da Rlam, que vem cometendo diversas arbitrariedades durante a greve, acionou a Polícia, para reprimir e intimidar os trabalhadores que se manifestavam na porta da refinaria, entre eles o representante dos petroleiros no Conselho de Administração da Petrobrás, Deyvid Bacelar. Os policiais partiram para a truculência, jogando as viaturas contra os trabalhadores, quando Deyvid, ao tentar resolver o conflito, foi agredido e, arbitrariamente, preso, junto com outro dirigente sindical e um fotógrafo que registrou a agressão.
São Paulo, manhã de quinta (05) – durante uma mobilização pacífica em frente ao Terminal de São Caetano do Sul, a gerência da unidade acionou a PM para reprimir os trabalhadores. Os policiais tentaram dispersar os grevistas, agindo com truculência, inclusive, disparando spray de gás de pimenta contra os trabalhadores. Em meio ao tumulto criado pela Polícia, o dirigente do Sindipetro Unificado, Jair Campos, o Jairzinho, foi algemado e preso.
Esses dois episódios absurdos ilustram bem o despreparo dos gestores que foram colocados na linha de frente para combater a greve. Várias denúncias têm sido feitas sobre a truculência e as intimidações das gerências, que chegam ao ponto de ligar para as casas dos trabalhadores e assediar suas famílias.
Os interditos proibitórios são outra ilegalidade utilizada pela Petrobrás para impor multas absurdas aos sindicatos, num claro atentado contra o direito de greve e de organização sindical. As multas chegam a R$ 150 mil por cada dia de greve! Além disso, a empresa, com a conivência da justiça, está repetindo uma das mais abusivas ações da greve de maio de 1995, confiscando as contas bancárias dos sindicatos. Na Bahia, o sindicato já teve uma conta bloqueada.
A FUP tem denunciado as práticas antissindicais da empresa, deixando claro que os trabalhadores não se intimidarão. Pelo contrário, quanto mais a Petrobrás atacar a greve, mais irá fortalecer a luta da categoria.
Tragédia em Minas Gerais foi causada por mineradora da Vale
Apesar da maioria dos órgãos de comunicação omitir, a Vale detém metade do controle da mineradora Samarco, cujas barragens de rejeito mineral romperam-se no último dia 05, provocando uma avalanche de lama contaminada com mercúrio, arsênio e ferro, que arrasou a comunidade de Bento Rodrigues, em Mariana, região central de Minas Gerais. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Mariana (Metabase), entre 15 e 16 pessoas teriam morrido e 45 estão desaparecidas.
A FUP e seus sindicatos se solidarizam com os familiares das vítimas e toda a população impactada por essa tragédia anunciada, como revela o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB). Em nota divulgada nesta sexta-feira (06), o MAB denuncia que há muitos anos, a comunidade vem alertando os gestores da mineradora sobre os riscos das barragens.
“Ontem (05), na hora do almoço, trabalhadores ouviram estrondos, mas as atividades continuaram. Suspeitas de que um terremoto teria provocado o acidente não se sustenta visto que foi um tremor de baixíssimo impacto. Não havia nenhum mecanismo de aviso e socorro à população, como exigido em lei. Todo o processo de socorro aos desabrigados está sendo feito pela Prefeitura de Mariana. A negligência das empresas é total”, enfatiza o MAB.
Relações perigosas
A Vale é comandada por Murilo Ferreira, presidente licenciado do CA da Petrobrás, que, estranhamente, afastou-se da estatal, alguns dias antes de ser anunciada uma suspeita negociação para venda de 49% da Gaspetro à Mitsui. A multinacional japonesa é uma das controladoras da Vale e, portanto, tinha relação hierárquica direta com Murilo. A FUP denunciou o fato e entrou com uma ação para barrar a venda da Gaspetro, que, além de suspeita, é lesiva.
Produção a qualquer custo. Morte e incidentes no rastro da contingência
Uma morte e três incidentes graves, nos seis primeiros dias de greve. Este é o saldo da irresponsabilidade dos gestores da Petrobrás, que, em vez de negociarem efetivos e cotas de produção, como determina a Lei de Greve, preferem colocar em risco os trabalhadores, delegando a operação das unidades a grupos de contingência insuficientes e despreparados. A FUP orienta os petroleiros que compõem essas equipes a entregarem os seus postos de trabalho e a somarem-se à greve, preservando suas vidas e fortalecendo o nosso movimento.
Supervisor da Repar morre, após infarte
O supervisor de mecânica, Pedro Alexandre Bagatin, 48 anos, que integrava a equipe de contingência da Repar, sofreu um infarte na noite de quinta-feira, 05, dentro da refinaria e faleceu na manhã desta sexta-feira (06). A FUP e seus sindicatos lamentam o ocorrido e se solidarizam com a família do petroleiro. Em ato neste domingo (08), petroleiros e militantes de outras categorias e movimentos sociais protestam contra a insegurança e as arbitrariedades dos gestores.
Vazamentos na Lubnor e na Recap
Apesar das denúncias dos sindicatos e da FUP sobre os riscos de acidentes em função das condições inseguras das equipes de contingência, as gerência têm se recusado a negociar a substituição desses trabalhadores e a garantia de cotas de produção, como prevê a Lei de Greve. Em menos de 24 horas, dois incidentes graves quase resultaram em tragédias na Lubnor (CE) e na Recap (SP), que estão sendo operadas por grupos de contingência que atuam com número reduzido e sem preparo técnico.
No último dia 03, a unidade de HDT da Recap parou, impactando em 50% o refino, após o rompimento de uma solda na saída do reator. Houve vazamento de uma mistura tóxica e com alto risco de incêndio e explosão e a unidade teve que ser retirada de operação. Acidente semelhante ocorreu na Lubnor, no dia seguinte (04), quando a linha de hidrocarboneto da Unidade de Vácuo (UVAC) também rompeu.
Retomada da P-20 quase vira tragédia
Os trabalhadores da P-20, uma das plataformas da Bacia de Campos que aderiram à greve da categoria, denunciaram uma série de manobras irresponsáveis da Petrobrás para retomar a produção da unidade. Após parada segura da unidade, eles entregaram a plataforma ao grupo de contingência, que tentou, a qualquer custo, retomar a produção. Segundo os trabalhadores, que estão sendo mantidos contra a sua vontade na plataforma, após uma sequência de manobras erradas, a equipe que assumiu a unidade estourou uma linha de álcool, inundando todo o convés da Unidade Química. Em e-mail enviado ao sindicato, os trabalhadores alertam para a insegurança absoluta da unidade e exigem o desembarque imediato.
Solidariedade de classe. Mais de 40 organizações populares lançam manifesto em apoio à greve
Desde o começo da greve, os petroleiros receberam mensagens de solidariedade de vários movimentos sociais. Nesta sexta-feira (06), as principais organizações sindicais e populares do país lançaram um manifesto em apoio à greve, assinado por mais de 40 entidades, como CUT, MST, MAB, MPA, Levante Popular da Juventude, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento por Luta nos Bairros e Favelas, Instituto Paulo Freire, entre outros. Leia a seguir:
Porque a sociedade deve apoiar a greve dos petroleiros
1. Os petroleiros entraram em greve porque não aceitam que a Petrobrás e o petróleo do Brasil sejam privatizados. A luta é contra a privatização, em defesa da vida e da soberania. A maior empresa dos brasileiros sofre graves ataques que vem dos cartéis empresariais, da mídia, do judiciário e de todos que querem a sua privatização. Com um plano de desinvestimento, a atual Diretoria da Petrobrás quer privatizar partes da empresa, entregando o que é do povo brasileiro para as empresas privadas internacionais e nacionais, o que causará perda de soberania e a entrega de um setor estratégico para o desenvolvimento nacional, além de causar grandes aumentos nos preços do gás de cozinha, combustíveis e demissões de trabalhadores. Por isso, defender a Petrobrás é defender o Brasil, é defender a soberania de nosso país.
2. A greve dos petroleiros exige o fim do ajuste fiscal do atual governo. Este ajuste fiscal só aumenta as dificuldades econômicas do Brasil, retira os ganhos que o povo brasileiro teve nos últimos anos e não resolve o problema da crise. Os petroleiros exigem que a Petrobrás volte a realizar todos os investimentos necessários na exploração, refino e distribuição de petróleo e com estes investimentos se retome a industrialização e a geração de postos de trabalho no petróleo, como por exemplo a produção de todos os equipamentos necessários – navios, sondas, plataformas- para reaquecer a indústria naval nacional gerando mais empregos para nosso povo em nosso território.
3. A greve dos petroleiros quer a manutenção dos empregos e dos ganhos que a população teve nos últimos anos e exige que os recursos provindos da produção do petróleo seja usado para as áreas sociais em nosso país. Em especial, para que os recursos do pré-sal sejam para educação, saúde, emprego e direitos do povo brasileiro.
4. A greve dos petroleiros deve ser apoiada pois esta categoria profissional é muito importante para o Brasil. São os trabalhadores e trabalhadoras petroleiros que sempre e em qualquer condição produzem a partir do petróleo, inúmeros produtos necessários e fundamentais para o desenvolvimento do nosso país. Esta categoria profissional sempre esteve a favor do desenvolvimento nacional e da geração de empregos em nosso país, e com seu trabalho produzem riquezas para todo o povo brasileiro.
5. Porque é absolutamente justo que a categoria dos petroleiros tenham sim seus direitos reconhecidos tanto pela Petrobrás quanto pelo governo, recebendo seus salários com os reajustes necessários e tendo boas condição para sua vida e seu trabalho. E por fim, porque os trabalhadores em greve não compactuam com nenhuma prática de desvios dos gestores e dos cartéis empresariais que tentam se aproveitar desta importante empresa do povo brasileiro.
A Greve dos Petroleiros é justa e necessária, é para o bem do Brasil e do povo brasileiro que devemos apoiar a greve. Todo apoio à greve.
O petróleo é nosso. Defender a Petrobrás é defender o Brasil.
Privatização não é a solução.