Os trabalhos da manhã de sábado, 27, do Conperj – Congresso dos Petroleiros do Rio de Janeiro tiveram início às 8h45 com a montagem da mesa para a leitura do regimento interno e posteriormente sua aprovação. A mesa foi composta pelos diretores do Sindipetro-NF, Conceição de Maria e Sergio Borges e a diretora do Sindipetro Caxias e FUP, Andressa Delbons.
A primeira mesa do dia teve o tema “Desafios à esquerda: organizar e sobreviver [Inverno está Chegando], composta pelo professor Doutor em Politicas Públicas e Formação Humana Hélder Molina e a publicitária e assessora de comunicação do sindicato dos trabalhadores dos Correios do Espírito Santo, Luara Ramos.
O professor Molina fez um balanço dos 120 dias do governo Bolsonaro, mas antes falou do processo histórico e político que desdobrou na eleição dele.
“O Brasil tem uma herança escravocrata, foi o único país da América Latina, que desde a colonização esteve junto ao latifúndio. E que historicamente construiu uma classe dominante reacionária de costas para o povo. Primeiro foi agrária e depois migrou para indústria e finanças”.
Molina disse que a relação casa grande senzala tem sido reinventada várias vezes, nas relações econômicas, de trabalho com a recusa de direitos fundamentais e em relação aos direitos sociais.
Explica que na transição da escravidão para república a classe dominante só mudou de forma. Sobre o Estado conta que desde a colonização, a classe dominante usa o Estado como um comitê dos seus negócios e agência dos seus interesses privados. “Grande desafio nosso é quebrar esse estado como aparelho de interesse dos burgueses” – diz.
Na sua visão, a exclusão social do Brasil tem cor, as cadeias tem cor e é negra. “Ser negro é ser pobre. Nossa exclusão é porque o país não superou o regime escravocrata até hoje”.
A burguesia brasileira é subalterna e submissa por escolha ao capital estrangeiro. Ele exemplifica com o que estão fazendo com a Petrobrás, a reserva mineral, subsolo, água e commodities. “A visita do Bolsonaro aos EUA mostra qual a nossa visão em relação ao estado americano que é de neocolonização” – comentou.
Já na era FHC ele mostra que aconteceu o aprofundamento das políticas neoliberais dentro da lógica capitalismo. Depois veio o neodesenvolvimentismo no período Lula, que acabou não mexendo com o grande capital e não fazendo as grandes Reformas. Houve o crescimento de consumo, crédito e de direitos que eram historicamente negados ao povo.
Para o professor, a intenção do atual governo, capitaneado por Paulo Guedes (banqueiro do Pactual; Escola de Chicago) é recolonizar a América Latina e voltar à lógica subalterna ao EUA, através de uma ditadura empresarial militar, porque serve ao capital estrangeiro, de característica entreguista.
No seu ponto de vista, o governo Bolsonaro possui eixos específicos. Entre eles, liberalizar a economia e mudar radicalmente a estrutura do mercado e do desmonte do Estado e liquidar a hegemonia progressista em todos os espaços hegemônicos, por isso atacam as universidades, os intelectuais e o pensamento crítico.
Como tarefa ele sugere disputar a consciência das massas, que estão distantes, escutando o pastor da igreja evangélica, assistindo Record e buscando sua sobrevivência. “Nosso trabalho é fazer o trabalho pedagógico, discutindo e conversando. Não tem resistência que não seja a luta!” – concluiu.
A segunda palestrante foi Luara Ramos que iniciou sua fala explicando que na sua posição o que nos diferencia da direita é que nós temos solidariedade e nos percebemos como classe. Para ela a solidariedade deve ser o ponto de partida das esquerdas para reorganizar o povo brasileiro e implantar o nosso projeto para nação.
Ressaltou o papel de importância que tem a comunicação, básica para disputar corações e mentes. “Toda defesa de democracia passa pelo Comum , por isso a informação tem que chegar para todos, furando as bolhas onde estamos inseridos” – disse.
Sobre como a direita atua na comunicação ela explicou que “a direita aprendeu a hackear a comunicação e conhecer quem somos. Isso porque na internet o produto somos nós e nossos dados. O capitalismo usou isso. Estudou os nossos dados e como nos posicionávamos, para aprender a nos manipular” .
Ela destaca a necessidade de entender o que se passa e reaprender se comunicar. “Temos dificuldade de sair das nossas bolhas de comunicação, que são nossas redes sociais, grupos do sindicato e das famílias” e como sugestão afirmou que “precisamos organizar pessoas, não só produzir conhecimento, mas disputar o povo. Parar com a idéia de que somos vanguarda, e partir para dialogar e escutar o outro”.
Luara lembra que democracia é coexistência de idéias, através do diálogo e da busca de solução para a divergência. E para dialogar com o diferente, a comunicadora diz que são necessárias técnicas de comunicação, pensar de forma estratégica e não esquecer que ponta do processo tem pessoas comuns.
Quando fala do diálogo como solução para reestruturar a esquerda, reforça a importância do afeto com quem se fala. Não entrar em choque, mas buscar acolher idéias até se fechar um consenso.
Ao final de sua fala, comentou sua esperança na construção da unidade, por intermédio do diálogo contínuo. “Para mim, nessa conjuntura nosso diferencial é a solidariedade e nesse contexto, temos que nos unir na defesa de Lula Livre, um presidente que foi preso por defender a soberania nacional e um país melhor para todos” – encerrou com apoio da plenária gritando o slogan #Lula Livre.