A última mesa do Conperj apresentou a “Petrobrás em números” com o economista do Dieese, Iderlei Colombini e professor da UFRJ e o economista do INEEP (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra), Eduardo Costa Pinto.
O especialista do INEEP, Eduardo Costa Pinto, tratou da geopolítica internacional do petróleo e fez uma análise da gestão da Petrobras nos 100 dias de governo Bolsonaro e seus impactos.
A geopolítica do petróleo pós 73 se baseou na perda do controle das “Sete Irmãs” da produção de petróleo. Nesse período a OPEP passou a ser responsável por mais de 80% das exportações de petróleo mundiais na época e a Arábia Saudita tinha um papel central. Como os movimentos de preços afetavam os países importadores de petróleo, eles decidiram pela busca por diversificação da produção e o controle geopolítico das regiões produtoras, por isso algumas guerras se concentraram naquela região.
Nos anos 80, começou a hegemonia americana com o dólar como moeda-chave internacional , exercendo um papel central no mercado de petróleo. Em 90, o interesse americano passou a se voltar para o atlântico e a América Latina. Aconteceram descobertas de grandes reservas de petróleo não convencional na Argentina; a Venezuela e o México passaram a ser grandes produtores e foi descoberto o pré-sal brasileiro.
A China e a Índia passaram a ser grandes consumidores e saíram em busca de novas fontes energéticas e derivados de petróleo. Com a descoberta do pré-sal o Brasil passou a ser central nessa geopolítica e chamou a atenção do mundo. “O pré-sal foi a maior descoberta dos últimos 50 anos e vai colocar o país no quinto lugar de reservas de todo mundo” – disse.
Nesse mesmo período houve o aumento da oferta de petróleo americano com o gás não convencional (os chamados “shale gas” e “shale oil”).
Nos próximos anos, Eduardo analisa que ainda haverá uma demanda de combustível grande e o petróleo continuará forte como fonte de produção dos derivados.
Governo Bolsonaro
A nova estratégia no governo Bolsonaro é de desintegração vertical da Petrobrás, focada mais no setor de Exploração e Produção e a saída de outras áreas, indo no contra censo do mercado internacional que estão integrando suas empresas para minorar riscos. A proposta do governo para a Petrobrás é a redução de sua lucratividade. “Isso não existe em nenhum lugar do mundo! Utilizando como discurso a falácia de que os preços na ponta vão reduzir para o consumidor, o que não vai” – afirma.
Em sua análise, a mudança na redução de conteúdo local se intensificará, o que considera ruim para o Brasil. ”A cada 1 bilhão não investido em Conteúdo Local temos a redução na geração de empregos, além da redução geração do PIB. Se esse investimento continuasse, a taxa de desemprego cairia para mais da metade dos 12 milhões de hoje” – explica.
Com base de que tudo que é publico é ineficiente, o governo Bolsonaro caminha no sentido de privatizar toda empresa, com atração do capital estrangeiro para o refino e demais segmentos num cenário onde a projeção para 2040 seria de maior participação do Brasil e EUA na geopolítica mundial.
E numa conjuntura onde o Plano de Negócios da Petrobrás até 2023 mostra uma taxa de crescimento de 5% ao ano na produção de óleo e gás no país. Na opinião de Eduardo, esse seria o momento de mais investimentos no setor, integração da empresa, geração de mais emprego e renda no país, mas na realidade o que acontecerá será geração de mais empregos para os estrangeiros.
Números da Petrobrás
Iderlei Colombini focou sua apresentação nos ataques aos trabalhadores e suas organizações: Os novos petroleiros e as novas relações de trabalho
O período que a empresa cresceu mais foi durante o governo Lula com a descoberta do pré-sal, época também com maior número de concursos para a Petrobrás. Chegando a 86.612 empregados próprios e 360.712 terceirizados em 2012. Esse número caiu para 63.361 trabalhadores próprios e 116.065 terceirizados, de acordo com o Relatório Anual 2018.
Na Bacia de Campos ocorreu uma queda de 27% no número de trabalhadores da Petrobras de 13.186 para 9.660. O número de terceirizados na Bacia de Campos caiu 63%, de 47.438 para 17.695.
Saíram pelo PIDV 16.526 trabalhadores. Para a Petrobras , os ganhos com os PIDV´s foram que o total de indenizações pagas por conta dos PIDVs foi de R$ 5,5 bilhões, com retorno financeiro, até dezembro de 2018, de R$ 19,5 bilhões em custos evitados para a empresa.
Segundo Iderlei mudou o perfil da categoria que hoje é formada por 72% de trabalhadores com menos de 20 anos na empresa, chegando a 72%, a maioria também com nível superior.
Isso refletiu na área de saúde e segurança que apresentou uma queda no número de acidentes. As principais causas para essa queda foram a redução dos investimentos da empresa em novas obras e menor espaço de riscos de acidentes de trabalho; Redução do número de trabalhadores próprios e terceiros, além de crescimento no número de trabalhadores nos escritórios eos casos de subnotificação de acidentes.
Outro dado apresentado pelo economista foi a queda na remuneração dos trabalhadores na Petrobras, indo na contramão das outras empresas de petróleo do mundo, como a BP que aumentou em 6% o valor anual dos salários pagos.