Anunciadas na semana passada, em evento na base de Imbetiba, em Macaé, as ações de revitalização da Bacia de Campos se inserem em uma política de reconstrução do sistema Petrobrás. Os novos rumos da empresa estão sendo possíveis em razão dos novos rumos do governo federal.
Em uma série de entrevistas e matérias, a Imprensa do NF está repercutindo essa retomada da Bacia de Campos, neste momento em que celebra os 50 anos de atividades no Norte Fluminense, ouvindo atores políticos e especialistas.
Para o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra, a revitalização é resultado da luta do movimento sindical. Ele adverte, no entanto, que um eventual revés político no futuro poderá comprometer essa retomada, chamando à responsabilidade as lideranças políticas da região.
Confira:
Imprensa do NF – Você volta à coordenação geral, após ter cumprido uma missão na política tradicional ao se candidatar a vereador em Campos dos Goytacazes, e já dá de cara com esse anúncio de revitalização da Bacia de Campos, que é empresarial e técnico, mas também é carregado de sentido político. Como você avalia a relação entre o governo Lula e esse anúncio de revitalização da exploração de petróleo na região?
Tezeu – Em relação à revitalização da Bacia de Campos, a técnica foi a desculpa que a gente arranjou para fazer a questão política, pra legitimar a decisão política de voltar com investimento. Porque lembremos que, por exemplo, durante o governo Bolsonaro, Urucu [No Amazomas] nunca deixou de dar lucro para a Petrobrás, era um ativo extremamente rentável, com promessa de manter a rentabilidade, e mesmo assim eles queriam vender. Então não era uma questão técnica e empresarial, era venda por uma questão política. Então, agora, a gente volta com esses investimentos a partir de uma luta que a gente fez, lembremos a campanha Petrobrás Fica, que nós fizemos em 2020, a Greve de 2020, a Greve de 2015 que era contra o plano de desinvestimento, e toda luta que a gente fez durante o governo Bolsonaro, foi exatamente para manter a Petrobrás firme e forte e a Bacia de Campos com a Petrobrás presente no Norte Fluminense. Isso é fruto da nossa luta, da nossa organização, da nossa articulação, com toda a mudança de gestão que foi feita no Brasil e principalmente na Petrobrás.
Imprensa do NF – Há pouco tempo, em governos anteriores, o discurso dominante era o de que a Bacia de Campos iria acabar. O Sindipetro-NF chegou a desenvolver essa campanha “Petrobras fica” justamente porque a perspectiva era essa, de perdermos a empresa. Que papel você acredita que teve aquela campanha para que, agora, se possa falar em revitalização?
Tezeu – Essa campanha Petrobrás Fica foi extremamente importante, porque à época nós conseguimos fazer com que todos os prefeitáveis de Campos e Macaé assinassem uma Carta-Compromisso de luta pela Petrobrás na região. É claro que entre eles assinarem e cumprirem de fato o que prometeram existe uma distância. Mas a gente conseguiu chamar atenção à época, todos eles gravaram vídeos, inclusive os vencedores, tanto Welbert, em Macaé, quanto Wladimir, em Campos, que foram reeleitos, assinaram e falaram sobre isso. Fizemos reuniões com eles sobre isso para cobrar esse compromisso. Quando chega agora no governo Lula, nada mais normal do que esse investimento ser retomado na Bacia de Campos. É fruto da luta dos trabalhadores, da organização, e a volta de uma perspectiva para a Petrobrás de desenvolvimento regional e nacional.
Imprensa do NF – Mesmo com o anúncio de revitalização, e com a previsão de que possa ser produzido tanto petróleo nos próximos 40 ou 50 anos quanto já foi produzido pela Bacia de Campos desde os anos 1970, há um limite aí colocado para um futuro nem tão distante assim. Você acredita que as prefeituras da região estão se preparando para esse momento pós-royalties, por exemplo?
Tezeu – As prefeituras com certeza não estão preparadas para este momento pós-royalties. Tanto é que existe uma deficiência, muitas vezes, de pagamentos e de estrutura, que provam que não estão preparados. Teve essa queda aí nos últimos anos, nesse ano de 2024 a gente continua com uma queda ainda maior, em especial para Campos dos Goytacazes, e é fruto dos campos que foram privatizados, quase todos eles eram produções que estariam de frente para Campos, pagariam royalties em Campos. Agora, com esse anúncio de revitalização, e também de manutenção da primeirização dessas plataformas que antes estavam com a perspectiva de serem afretadas, a gente vem agora com mais plataformas, com mais investimentos com plataformas próprias. As prefeituras ainda têm muito o que fazer como com a questão do Fundo Soberano e outras pautas, para garantir esse momento pós-royalties. Claro, brigar por mais industrialização fora da área do petróleo, ou com petroquímicas, mas principalmente com energias renováveis.
Imprensa do NF – Como você descreveria os impactos dessa revitalização para o dia a dia dos trabalhadores. Consegue vislumbrar algo concreto, facilmente perceptível? Como seria, por exemplo, se essa revitalização não viesse?
Tezeu – A gente não vê como um fechamento de fábrica. Por exemplo: se Cabiúnas fechasse, a gente sentiria falta daquele monte de gente que em sua maioria mora em Macaé, ou Rio das Ostras, ou em Campos, ali perto, não teria mais aquele monte de trabalhadores entrando no dia a dia, então você sentiria falta rápido. Na plataforma, fecha uma, demite cinquenta pessoas, depois demite cem, depois mais trinta, aí o pessoal da Petrobrás é transferido, então é diferente a dinâmica. Então a gente levaria um tempo para sentir esse desmantelamento, assim como também é para sentir a retomada.
Imprensa do NF – Que impactos você dessa revitalização para o Movimento Sindical Petroleiro? De alguma forma isso altera as perspectivas de organização dos trabalhadores? Impõe novos desafios?
Tezeu – Com certeza impõe desafios, e a gente vê uma boa perspectiva. Se você aumenta o número de trabalhadores, volta a ter campos de petróleo produzindo, volta a ter investimentos que por si só gera emprego, prova disso é a indústria naval, então se a gente consegue linkar essa volta dos investimentos com a retomada da indústria naval no estado do Rio de Janeiro, com o complexo de estaleiros que nós temos em Niterói e no Rio mesmo, temos potencial para termos isso em Campos dos Goytacazes, em São João da Barra, em Macaé, então a gente tem aí uma perspectiva de ter aí outras frentes de trabalho que tragam esses benefícios pra gente. E o movimento sindical, naturalmente, tem que estar antenado a todas essas mudanças, um desafio que o Sindipetro-NF tem, um dos poucos sindicatos do Brasil que conseguiu aumentar o número de filiações mesmo num período difícil, num período de desmantelamento, de desmobilização de unidades, a gente tem clareza que tem conseguido fazer a nossa parte aqui.
Imprensa do NF – Voltando à política: este anúncio vem num contexto de governo Lula 3. Você acha que essa revitalização pode ser sustentável no longo prazo e conseguir superar eventuais revezes na política, com por exemplo uma fatalidade da volta da extrema direita ou de qualquer direita privatista ao governo federal?
Tezeu – Como falei sobre Urucu, a Bacia de Campos também não está isenta disso. Então, por mais que nós tenhamos, e vamos trabalhar veementemente para que isso não aconteça, qualquer revés político pode realmente colocar em risco. E a gente tem que trazer essa responsabilidade inclusive para os governos municipais e estaduais, para os políticos que hoje estão no poder, que foram reeleitos e eleitos nesse ano de 2024 e que estarão nos governos nos próximos quatro anos. A gente tem que fazer um trabalho para que seja perene, para que tenha o máximo de aliados na defesa da pauta, mas sem dúvida um revés político coloca sim em risco, não só esses investimentos como a própria democracia, a institucionalidade, a política de Estado que está sendo implementada nesse momento.
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