O abraço coletivo de trabalhadores, movimentos sociais e estudantes no fim do curso de extensão da Universidade Federal do ABC (UFABC), nesta sexta-feira (9) foi a demonstração do entendimento da importância da integração das sociedades para organização e luta na defesa da energia, da soberania, pelo controle do acesso democrático da energia e contra os impactos negativos das transformações do setor no mundo do trabalho e para a população.
O neoliberalismo avança no mundo, em especial na América Latina. O Brasil, desde o golpe de 2016, tem sido rifado pelo presidente ilegítimo Michel Temer e seus aliados. A venda das hidrelétricas, o pré-sal, a água e o saneamento brasileiro são pautas que entram e saem da do Congresso Nacional e só não foram concretizadas devido a pressão e luta dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Comprador não falta, vários países estão de olho nas riquezas brasileiras, que são moedas de troca em nome de um desenvolvimento explorador e desumano que transforma vidas e a natureza, gerando mais riquezas para os ricos e mais exploração dos trabalhadores e da população em geral.
Além de demonstrar pouco ou nenhum interesse em combater as mudanças climáticas no planeta, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, já sinalizou que continuará com a política entreguista do ilegítimo Michel Temer, que favorece outras nações e prioriza em atender os grandes empresários e corporações transnacionais e não está preocupado com as consequências da exploração do capital na vida e no trabalho de toda população brasileira.
Foi com esta preocupação que a CUT e a Universidade Federal do ABC (UFABC) com apoio da Central Sindical das Américas (CSA) promoveram o curso de extensão “Energia,Trabalho e Relações Internacionais”, em São Bernardo do Campo. O diretor do Sindipetro-NF, Benes Júnior, participou do curso.
“Com este curso conseguimos equalizar ideias sobre a Geopolítica da Energia de modo geral e perceber mais ainda a importância de união dos movimentos na luta contra a entrega da nossa Soberania, seja com o Petróleo, Eletricidade ou Minérios” – comenta Benes.
Em quatro dias de curso mais de 40 trabalhadores de mais de seis ramos diferentes tiveram aulas com docentes do bacharelado de Relações Internacionais da UFABC e especialistas na área para discutir importância da integração de toda sociedade em defesa da democracia energética e de políticas que assegurem uma transição justa para estas transformações garantindo melhores condições de vida para a população brasileira e oportunidades aos trabalhadores e as trabalhadoras e às comunidades envolvidas.
As discussões em aula aprofundaram temas como panorama energético brasileiro, a geopolítica do petróleo, gás e suas transformações, dos agrocombustíveis e do setor elétrico, o neoliberalismo neste contexto, o futuro do trabalho e debates a partir da realidade de cada setor presente no curso.
O desafio agora, dos petroleiros, eletricitários, metalúrgicos, químicos, trabalhadores do ramo do vestuário e movimentos sociais, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que participaram do curso, é ampliar este debate para a sociedade e trazer mais gente para a luta, que é de todos.
“Vai haver um grande processo de alteração do perfil produtivo e de emprego que envolve todos os ramos. Ao alterar este perfil de produção teremos que exigir dos governos recursos para possibilitar adaptações, qualificações e formação, assim como acordos para mitigar os impactos destas alterações para os trabalhadores”, explicou o secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio.
Para ele é fundamental debater a transição justa e cobrar que os governos e empresas tomem providencias necessárias para reduzir o impacto do aumento da temperatura do mundo para garantir a sobrevivência de todos nós.
“Para nós da CUT, em especial para a Secretaria do Meio Ambiente, está cada vez mais clara a importância da centralidade do tema energia na política e para o movimento sindical. Algumas categorias como os trabalhadores da água e esgoto, os eletricitários e os petroleiros já estão inseridas no debate e na luta, mas não são só os trabalhadores afetados diretamente com a exploração das nossas riquezas que devem estar preocupados, toda a população brasileira será impactada”, explicou Daniel.
CUT
Da esquerda para direita: igor Fuser, professor da UFABC, Rosane Bertotti, secretária de Formação da CUT, Daniel Gaio, Carmen Foro, vice-presidenta da CUT e Artur Henrique, dirigente da Fundação Perseu Abramo
Todo mundo ganha com o debate de energia e o fortalecimento da integração dos trabalhadores
Para o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José de Moraes, todo mundo ganhou com este curso porque é fundamental entender que apropriação dos recursos naturais, principalmente os energéticos, é que move uma grande disputa no mundo há décadas e na atualidade e foi central nas disputas políticas no país desde o golpe no Brasil.
“Para entender estas disputas é preciso se apropriar de conhecimento, porque a área de energia é muito técnica e afasta o povo do debate. Nós saímos daqui com mais conhecimento para a luta e deixamos um pouco da nossa experiência para a academia e juntos ficamos mais fortes”, contou Moraes.
Para o operador de refino na Replan e diretor sindical, Arthur Raguza, “a coisa mais importante deste curso foi a integração de diversas categorias envolvidas diretamente e indiretamente com as riquezas do País. Que esta integração fortaleça a solidariedade entre nós para as lutas que serão de todos”.
O metalúrgico da Volkswagen e diretor sindical dos Metalúrgicos do ABC, Welington Damasceno, concorda com o petroleiro e diz que só a integração e a organização dos trabalhadores conseguiram deter os impactos destas transformações.
“O que os grandes detentores do capital têm pensado pro Brasil não tem nada de transição justa, isso se conseguirmos chegar na transição. Nós precisamos interferir nos processos, cobrar as políticas públicas do governo como aquele que deve organizar o setor, proteger os recursos naturais e os trabalhadores”, explicou Wellington.
Segundo o professor e organizador do curso, Diego Araujo Azi, “o que a gente quer é um modelo alternativo que possa enfrentar as mudanças climáticas, que possam tratar avanços tecnológicos sem com isso tirar o trabalho e o trabalhador do centro da organização social e o bem coletivo”.
A CUT, UFABC e CSA afirmaram que haverá a continuação do curso com maiores integrações, com professores, alunos, sindicalistas e movimentos sociais das Américas para 2019.
“A maioria das transformações na história foram injustas e a ideia do sindicalismo é que essa transformação do modelo energético leve em conta os trabalhadores e possibilitem de alguma forma que eles façam a transação num pouso e não relega para o desemprego”.
ROBERTO PARIZOTTI (SAPÃO)
Daniel Gaio no encerramento do curso
O que esta luta tem a ver com você e com as relações internacionais?
Nos governo neoliberais e ultra conservadores a política de controle dos bens naturais é prioritariamente de entregas e privatizações. Outros países exploram e levam os lucros para suas nações, explorando a natureza e a mão de obra brasileira.
Para o coordenador político da CSA, Iván González, a troca de conhecimento entre academia, sindicalistas e movimentos sociais sobre os desafios do futuro, da energia, da estratégia da defesa dos bens comuns tem tudo a ver com o cotidiano das pessoas e com a democracia.
Na medida em que o Estado não controla os bens que tem e transfere as responsabilidades nas mãos de outros países que só querem lucro e exploração, o resultado é que define o preço do gás, da luz, dos combustíveis e afeta a vida de toda população.
A política de preços da Petrobrás atual, que reajusta os combustíveis e o gás de cozinha de acordo com o dólar é um bom exemplo. Mesmo tendo estrutura para produzir o combustível internamente, uma decisão política de Temer entregou a refinaria do petróleo brasileiro para o mercado internacional americano que coloca o preço que quiser.
“É importante conhecer como funciona a dinâmica econômica e o papel da energia neste jogo todo. Saber que a energia faz parte de uma disputa global, que explica muito da geopolítica e também da disputa que está acontecendo no Brasil. Os sindicatos e movimentos sociais brasileiros saem desta experiência com forças para contribuir na disputa frente ao modelo autoritário, antidemocrático, que prioriza o lucro e o poder das empresas, principalmente as internacionais”, contou Iván.
Segundo ele, a CSA apoia esta formação porque a experiência brasileira impactará também o resto do mundo, principalmente a América Latina. Para Iván, uma possível derrota dos movimentos sociais nesta pauta pode ter impacto negativo a nivel internacional.
“Se a agenda de exploração e a entrega das riquezas e dos trabalhadores que está sendo colocada aqui é exitosa no Brasil pode ser implantada no resto do mundo. Por isso para o movimento sindical internacional é fundamental fazer formação, na organização, mobilização e no fortalecimento do sindicato e na disputa democrática. Por isso o brasil é fundamental para os sindicatos das Américas”.
O papel da universidade pública para a sociedade
Em tempos de ataques ao livre pensamento dos estudantes e nas universidades públicas no Brasil, é papel das instituições do ensino superior abrir as portas para a sociedade. “Não só trazer a sociedade para dentro da universidade como a gente fez agora neste curso, mas os nossos professores também estão sempre dispostos a participar de debates e seminários movimentos sociais e sindicais convidam”, explicou Diego Azzi.
Para o professor da UFABC e organizador do curso de extensão, “está troca de conhecimento faz parte do exercício da democracia e da construção do conhecimento a partir da pluralidade de visões. Estes quatro dias nos mostraram o quanto a universidade tem a aprender com a experiência concreta dos trabalhadores e aproximar os nossos conceitos, as vezes teóricos e abstrato para a realidade cotidiana, pode influenciar tanto no trabalho quanto na luta desta parte da sociedade”.