Debate sobre gênero e etnia reforça a necessidade de debater esses temas diariamente

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A falta de registros históricos sobre a presença da mulher na sociedade e na política foi citado pela cientista social e petroleira Bárbara Bezerra, palestrante da sétima mesa do Seminário Nacional dos Petroleiros Terceirizados e do Setor Privado que teve como tema Gênero, trabalho e etnia e contou também com a participação da diretora do Sindipetro-NF, Conceição de Maria. A mediadora foi a Secretária de Mulheres da CUT, Marlene Miranda.

Bárbara centrou sua apresentação principalmente sobre gênero e trabalho. Mostrou que não há registros da atuação das mulheres, porque a história foi escrita por homens brancos e, o pouco que pode ser visto está presente nas artes, através principalmente das pinturas.

Lembrou de mulheres importantes como Tarsila do Amaral, Pagú e Simone de Beauvoir que foram artistas, intelectuais e ativistas, mas que são mais conhecidas por serem esposas de Oswald de Andrade e de Sartre. Continuou seu passeio histórico e chegou à primeira greve geral no Brasil que aconteceu em junho de 1917 e foi iniciada por mulheres em uma fábrica têxtil em São Paulo, que também não tem esse relato na história. Uma greve que durou 30 dias e não faz citação ás mulheres.

Chegou aos dias de hoje e mostrou quanto a presença de mulheres e seu protagonismo ainda é muito pequeno. “No setor petróleo o contingente de mulheres nas plataformas é de 3%. E a desculpa para não embarcar mais é que não há camarote” – disse. Foi por isso que Bárbara Bezerra decidiu em 2018 fazer um campanha “por mais mulheres a bordo”, onde passou a registrar por foto todas as mulheres que estavam trabalhando onde embarcava. Numa dessas fotos, as mulheres chegaram a sofrer advertência verbal ou escrita, numa demonstração do preconceito.

A cientista social alertou para o fato de dentro da luta de classes existir a diferença de gênero e, na Petrobras, entre as mulheres existe também a diferença entre o crachá verde e o marrom.

Chamou a atenção que a mulher precisa ocupar espaços. “Não tem na Bacia de Campos uma gerente mulher atualmente! Nos sindicatos também tem pouquíssimas diretoras mulheres.  É muito importante colocar mais mulheres nas representações, porque a história nos mostra que movimento não vai a lugar algum sem nós!” – concluiu Bárbara.

Conceição de Maria reforçou que “o tema da mesa tem tudo a ver conosco. Gênero é importante porque enquanto mulher lutamos direto. No trabalho ou no movimento sindical até pela forma que estamos vestidas somos questionadas. Temos que reafirmar nossa força diariamente.

Sua exposição foi muito voltada para a questão racial. “O trabalho do negro no Brasil começa com os 500 anos de escravidão. O país só perde para a Nigéria em contingente de população negra, entretanto não se reconhece como tal. Negros e mulheres são maioria no Brasil e não minoria, como querem cristalizar em nós. Apesar de sermos maioria somos invisíveis e temos poucas referências de negros em ascensão” – explicou.

O que sabemos é que Amarildo Dias de Souza, ajudante de pedreiro sumiu. Onde está Amarildo? Claudia Silva Ferreira que foi baleada, colocada em um carro da PM e acabou arrastada pelas ruas. Mariele Franco, socióloga e feminista, lutadora LGBT, foi assassinada. E por último,  William da Silva trabalhador em depressão, que foi morto na ponte essa semana. Todos negros, trabalhadores, mortos pelo Estado.

“É preciso reconhecer que nossos trabalhadores na maioria são homens e mulheres negros que vivem na periferia e podem ser mortos, por isso esse debate é importante” – disse Conceição mostrando que racismo não é uma coisa da cabeça dela que é negra. Ele existe.

“Nossa país é miscigenado e racista. No Brasil, branco é branco, índio é índio e negro não pode ser chamado de negro.  O racismo está presente também quando os filhos de famílias negras são criados para tomarem cuidados com as batidas policiais. A sociedade não pode me impedir de assumir os meus traços negróides, negar minha história e meus ascendentes. Eu estou aqui hoje por eles, para fazer o debate diário e falar da nossa identidade. Somos diferentes sim e precisamos ter orgulho, trazendo esse debate para as relações de trabalho” – concluiu Conceição.