Desinvestimentos da Petrobras atingem indicadores da sociedade

Desinvestimentos da Petrobras atingem projetos socioambientais e culturais

A redução dos investimentos da Petrobras, que vem acontecendo desde 2016 no Norte Fluminense e em outras partes do país, atinge os mais diversos setores da região. As cidades vêm perdendo importantes incentivos a projetos artísticos, sociais e esportivos, empobrecendo a região com perda de postos de trabalho e o fim de opções culturais e de lazer, além de dificultar a vida de muitas famílias. O fim desses apoios reforça o círculo vicioso que já vem acontecendo na região da Bacia de Campos, por conta do fechamento de vagas diretas: dificulta o crescimento de negócios e reduz a arrecadação tributária.

Não há dados específicos sobre o impacto desses cortes no Norte Fluminense, mas os números apresentados pela Petrobras para todo o país dão uma dimensão clara da queda. De acordo com análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) baseada nos Relatórios Sociais da Petrobras, entre 2005 e 2014 a aplicação da estatal em indicadores da sociedade foi crescendo ao longo do tempo. Entre 2015 e 2019, porém, a queda foi vertiginosa.

Em 2013, os investimentos somaram R$ 779 milhões, sendo R$ 495 milhões em programas socioambientais; R$ 203 milhões na cultura e R$ 81 milhões em esportes. Em 2017, houve o menor incentivo do século – R$ 142 milhões, divididos em R$ 60 milhões para a área socioambiental; R$ 61 milhões em cultura e R$ 21 milhões para esportes.

Em 2019, a contrapartida cresceu um pouco, mas ficou muito longe da última década. Foram R$ 224 milhões, sendo R$ 116 milhões em ações socioambientais; R$ 37 milhões para a cultura; e R$ 71 milhões no âmbito esportivo.

 

EFEITOS SOBRE EMPREGO E RENDA

Para o economista Cloviomar Cararine, assessor técnico do Dieese para a Federação Única de Petroleiros (FUP), o impacto socioambiental pode ser dividido em dois elementos. O primeiro é como essa redução prejudica diretamente onde antes havia projetos apoiados pela Petrobras. O segundo é uma espécie de “efeito dominó” na cadeia de geração de valor, emprego e renda.

“A redução de patrocínio da Petrobras atinge diretamente uma série de iniciativas locais que vinham sendo desenvolvidas e foram abortadas, deixando essas populações sem um retorno positivo para contrabalançar o fato de estarem em área de produção de petróleo. Municípios como Campos dos Goytacazes, Macaé e seus entornos são impactados pela exploração e produção de óleo e gás, atividade que é muito perversa, ambiental, social e culturalmente. O segundo efeito negativo é a própria geração de empregos que se perde. Os apoios sociais, culturais e esportivos geravam renda e novos empregos na cadeia, porque outros setores eram estimulados. Por exemplo, se a cidade tinha uma peça de teatro patrocinado pela Petrobras, ela gerava renda para atores, técnicos, cenógrafos e produtores, além de estimular empregos relacionados, como uma vendinha de lanches próxima ao teatro”, explica Cararine.

Além dos riscos de acidentes e a constante ameaça de degradação ambiental, os municípios onde há exploração de petróleo têm outros pontos negativos que, ao longo dos anos, recebiam a contrapartida de projetos socioambientais e que hoje estão se escasseando. Um exemplo é o efeito causado pelas plataformas marítimas e os barcos de apoio sobre a atividade pesqueira. A atividade atinge diretamente os pescadores, além de interferir nas comunidades costeiras e no turismo local.

Só o Petrobras Cultural, que foi o maior patrocinador de artes do Brasil, já contemplou mais de quatro mil projetos. Mas a realidade agora é outra. Há escassez de eventos artísticos e esportivos, e faltam ações pelo meio ambiente.