RBA – Segundo relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), a América Latina registra avanços importantes no combate à doença, como reduções nas infecções infantis e diminuição das mortes por complicações da Aids, devido a avanços no tratamento. No entanto, o contágio segue como o principal desafio na luta contra a epidemia, já que o número de novos casos tem permanecido constante nos últimos anos.
O estudo foi publicado nesta quinta (30), véspera do Dia Mundial de Luta contra a Aids, para alertar sobre um dos mais graves problemas de saúde – que já matou mais de 35 milhões de pessoas no mundo, 1 milhão delas somente em 2016.
Na América Latina, cerca de 1,8 milhão de pessoas viviam com HIV em 2016. Aproximadamente 97 mil novas infecções ocorreram no continente no ano passado. Essa taxa de novas infecções se manteve estável nos últimos sete anos, o que demonstra os desafios no combate ao contágio pela doença. No período, cerca de 36 mil pessoas morreram por doenças relacionadas à Aids na região – contudo, entre 2010 e 2016, o número de óbitos diminuiu 12%.
“Evitar novas infecções requer a intensificação dos esforços e que as pessoas mais vulneráveis tenham acesso a todas as opções e novas tecnologias de prevenção existentes em um ambiente livre de discriminação”, diz o texto.
O relatório “Prevenção ao HIV em Foco — Uma Análise da Perspectiva do Setor de Saúde na América Latina e no Caribe” recomenda levar adiante a prevenção combinada, que é baseada em evidência científica, respeitando os direitos humanos e a não discriminação, incluindo três elementos: a ampla oferta de intervenções biomédicas mais apropriadas aos usuários, a promoção de comportamentos saudáveis e o estabelecimento de ambientes que facilitem o acesso e a adoção de medidas de prevenção.
A maioria (64%) dos novos casos de HIV ocorrem entre gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e seus clientes, mulheres trans, usuários de drogas injetáveis e casais que fazem parte desses grupos-chave da população. Além disso, um terço das novas infecções ocorre em jovens com idade entre 15 e 24 anos.
Métodos de prevenção
O relatório defende a distribuição de preservativos e lubrificantes, a oferta de teste para sífilis ao mesmo tempo em que se oferece o teste para HIV, bem como o acesso universal ao tratamento, algo que melhora significativamente a saúde das pessoas com HIV e reduz o risco de infecção de seus parceiros. O documento também recomenda a promoção de atividades de divulgação em comunidades lideradas por pares e a prestação de informações e educação sobre saúde sexual.
Na América Latina, duas em cada 10 pessoas com HIV não sabem que têm o vírus. O autoteste, que pode ser feito em casa, e a expansão da oferta de testes fora dos estabelecimentos de saúde, são formas apontadas para auxiliar na prevenção e no tratamento, já que o diagnóstico precoce melhora a qualidade de vida das pessoas com HIV e também contribui na prevenção de novas infecções.
Por fim, o documento reivindica que governos, sociedade civil e organizações internacionais trabalhem em parcerias para acelerar a introdução de novas tecnologias de prevenção, ampliando as opções e garantindo o acesso universal a esses serviços, de modo a reduzir novas infecções, com o objetivo de acabar com a epidemia de aids até 2030.
Brasil
O país, que foi referência internacional no combate à Aids nas últimas décadas, agora sofre com o desmonte dos sistemas públicos de saúde. Além do choque provocado pelas políticas neoliberais – não apenas no Brasil –, as políticas de prevenção e de tratamento da doença também têm sido afetadas pela crescente onda de conservadorismo, que tem criado resistências a programas de educação sexual nas escolas.
Essas foram conclusões tiradas em seminário da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), realizado na semana passada no Rio de Janeiro.