Da Imprensa da FUP – A FUP recebeu na segunda-feira, 09, a equipe do Laboratório de Futuros, que está debatendo a transição energética com trabalhadores e trabalhadoras de setores impactados pelas mudanças necessárias no atual modelo de produção para conter o avanço da crise climática. O evento integra a Caravana do Futuro, idealizada pela Aurora Lab, em parceria com o Instituto Procomum, que tem percorrido diferentes estados do país, provocando a discussão de iniciativas para influenciar políticas públicas e compromissos dos governos com uma transição energética justa, a partir da escuta ativa dos trabalhadores. As propostas também serão apresentadas na COP30, que será realizada em novembro, em Belém, na região amazônica.
A Caravana do Futuro já passou em maio por São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, onde o debate foi feito com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sobre a descarbonização dos transportes. O Rio de Janeiro sediou a segunda etapa do projeto, tendo a FUP como interlocutora na construção de propostas para transição no setor de óleo e gás. Até novembro, a Caravana do Futuro percorrerá outros estados do país, envolvendo nesse debate mais categorias de setores impactados pela transição energética, como os trabalhadores da extração de carvão mineral, da agricultura (biocombustíveis) e os que atuam em outros setores de energias renováveis, como a indústria eólica.
Na etapa do Rio de Janeiro, a sede da FUP transformou-se em um efervescente laboratório de ideias e de ações, a partir da interlocução com os facilitadores da Aurora Lab, que realizaram diversas dinâmicas em grupos. Pela manhã, as atividades se concentraram em torno dos impactos da transição energética na indústria de óleo gás e dos riscos que isso pode apresentar para os trabalhadores e as trabalhadoras do setor. Na parte da tarde, foram debatidas ideias para que o setor de óleo e gás alinhe a transição energética ao contexto de crise climática, tendo os trabalhadores no centro do processo.
O evento contou com a participação do coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar; da diretora de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da FUP, Miriam Cabreira; do diretor técnico do Ineep, Mahatma Ramos; do economista do Dieese, Cloviomar Cararine; e de diversos outros dirigentes da FUP e de seus sindicatos. Todos enfatizaram que o capitalismo já se apropriou da transição energética e que a disputa em curso é para que ela seja justa e inclusiva, o que só terá êxito com a participação dos trabalhadores e das comunidades impactadas.
Os dirigentes sindicais reforçaram que o Estado não pode ser um instrumento para reduzir os riscos do capital na transição energética, da mesma forma que o setor de óleo e gás não pode continuar sendo vilanizado nesse debate, enquanto o agronegócio e o desmatamento, que são responsáveis por 75% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, são tratados de forma secundária.
Eles lembraram que a nossa matriz energética é uma das menos poluentes do planeta, com cerca de 50% de fontes limpas ou renováveis. Enquanto no resto do mundo, o setor de energia e o segmento de óleo e gás são responsáveis por 66% das emissões dos gases de efeito estufa, no Brasil, a indústria de energia, incluindo a produção de combustíveis fósseis, representa 18% das emissões.
Para o diretor do Ineep, não cabe mais a dicotomia entre ambientalismo e desenvolvimentismo, pois é possível avançar em um projeto de industrialização verde, com geração de empregos de qualidade, produzindo-se petróleo até chegar na neutralidade das emissões de carbono. “Um dos problemas que enfrentamos é a vilanização do petróleo e, consequentemente, dos trabalhadores e sindicatos do setor, sem aprofundar o debate e a busca por saídas coletivas para uma transição energética que seja efetivamente justa”, afirmou Mahatma.
As trabalhadoras e os trabalhadores petroleiros reforçaram que a transição energética para ser justa, passa não só pela preservação do meio ambiente, mas também pela garantia de empregos de qualidade e dos direitos sociais. Para isso, é fundamental incluir os trabalhadores e as comunidades impactadas no Plano Nacional de Transição Energética (Plante), que já foi criado pelo governo Lula.
Neste sentido, uma das ideias propostas é a construção de um plano sindical de transição energética justa, nos mesmos moldes que a FUP e seus sindicatos criaram a Pauta pelo Brasil, envolvendo também a Plataforma Operária e Camponesa para a Energia (POCAE), o Ineep e o Dieese. Além disso, foi também proposta a criação de um observatório da transição energética no setor de óleo e gás para subsidiar as entidades nesse processo, a partir de diagnósticos, monitoramentos, pesquisas e formação da classe trabalhadora, produzindo conhecimento sobre as dinâmicas e os impactos da transição energética no setor de óleo e gás no Brasil.
Outra questão enfatizada pelos dirigentes sindicais é de que a Petrobrás, enquanto empresa estatal e com compromisso social, precisa liderar a transição energética no Brasil, com participação dos trabalhadores e da sociedade. Para isso, a empresa deve priorizar investimentos na transição energética justa e sustentável e não a distribuição de dividendos exorbitantes para os acionistas.
Outro eixo central do debate feito em conjunto com a Autora Lab é a segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras durante a transição energética. Além da pactuação de acordos coletivos que garantam os empregos e os direitos da categoria, foi destacada a importância da formação e da qualificação das próximas gerações de trabalhadores do setor energético, levando-se em conta, inclusive, a perspectiva de gênero. “Se hoje na indústria do petróleo nós (mulheres) somos 16%, nós gostaríamos que numa futura indústria da transição energética, a gente fosse 50% e para isso nós precisamos de políticas públicas”, afirmou a diretora da FUP, Míriam Cabreira, enfatizando a necessidade de se fortalecer as organizações sindicais enquanto atores sociais relevantes nesse processo.
Ao final do evento, a diretora executiva do Aurora Labs, Gabi Vuolo, agradeceu os dirigentes da FUP pela interlocução, ressaltando a importância de se apostar no diálogo, em um mundo polarizado, em que as pessoas estão conversando cada vez menos. “O diálogo depende do outro querer e o que estamos encontrando nos laboratórios de co-criação com vocês, da categoria petroleira, e com trabalhadores de outros setores, a partir das provocações que temos feito (sobre a transição energética), é muito espaço para dialogar”, afirmou.