Editorial do Nascente: Arriba, México!

O Golpe de 2016 no Brasil, a prisão de Lula, a decretação de prisão preventiva do ex-presidente Rafael Correa, no Equador, as perseguições a Cristina Kirchner, na Argentina, não são meras coincidências. São reações a governos de esquerda, ou minimamente vilculados a um projeto popular, em uma onda conservadora que não é exclusiva da América Latina — também varreu boa parte da Europa — mas, nos países mais frágeis economicamente, reforçam as estratégias de dominação do capitalismo centrado nos interesses das grandes corpora-ções financeiras.

Por isso, em meio a todo este revés que impõe disposição para longa resistência, celebre-se a eleição, no último domingo, do candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador, do Movimento Regeneração Nacional (Morena), para a Presidência do México.

Ciente da complexidade de governar em uma sociedade violenta e partida — durante a campanha, 133 políticos ou ativistas foram assassinados —, Obrador sinaliza com uma política de conciliação de classes, que pode não servir de música aos ouvidos mais extremados, daqueles que legitimamente reivindicam caminhos mais curtos entre o presente de desigualdades e um futuro sem exploração, mas pode, como ocorreu no Brasil sob os governos Lula, ser a alternativa viável para a inserção cidadã de milhões de excluídos.

Sua vitória para a Presidência, a primeira de um partido da esquerda no País, não é tudo. Será necessário garantir a sua posse, prevista para 1º de dezembro — uma preocupação que se torna trivial numa América Latina que tem sua história marcada por golpes — e, sobretudo, garantir que tenha condições de governar.

Obrador vem de herança trabalhista, do chamado nacionalismo revolucionário mexicano, que costuma ser comparado com modelos como o de Vargas, no Brasil, ou de Perón, na Argentina. Tudo o que o neoliberalismo reinante não quer ver revigorado.
Parte do seu desafio é semelhante ao dos movimentos sociais brasileiros. Como país produtor de petróleo, e vizinho de quem é, sua maior missão é manter sob controle do México as suas riquezas naturais, como o petróleo.

Que o Brasil vote a trilhar esse caminho em breve, assim como os demais países vizinhos.

 

[Nascente 1047]