Editorial do Nascente: Exército na refinaria

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp

Militares iniciaram na última quarta, e terminam hoje, treinamento de rotina nas dependências da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia. A prática é comum em outras bases da Petrobrás, inclusive em Macaé, na base de Imbetiba. Em princípio, portanto, em situação de respeito às garantias constitucionais vigentes, não haveria do que suspeitar em relação à atividade da força armada em instalações petroleiras.

Mas, vacinados em décadas de repressão aos movimentos sindical e social, os petroleiros e as petroleiras assistem a estes sinais com uma cautela especial nestes dias em que fala-se abertamente em privatização da Petrobrás em fatias. Além disso, é de triste memória a presença de militares em bases petroleiras, dada a pesada repressão sofrida pela categoria durante a greve de 1995, nos anos FHC, quando soldados tomaram refinarias no Paraná (Repar) e em São Paulo (Recap e Revap).

As manobras militares na Petrobrás se justificam pela razão oposta do que defendem os privatistas: petróleo é estratégico. Em caso de ataque externo, instalações petroleiras são alvos prioritários. Se forças militares servem para defender um país, natural que defendam áreas onde há atuação da companhia.

Não há também desconhecimento da categoria acerca do importante papel desempenhado pelo Exército, do movimento republicano à atuação em ações humanitárias, quando dentro dos marcos legais.

O problema é como o novo governo militarizado entenderá o papel do Exército e das demais forças. Se, como é comum aos regimes autoritários, elas forem entendidas como braços da repressão aos opositores internos, as manobras em refinarias e outras bases deixam de ter um caráter patriótico e passam a ter um caráter de intimidação a categorias organizadas como a dos petroleiros.

A categoria petroleira está na iminência de uma das suas maiores batalhas, possivelmente em maior proporção que a de 1995, e é preciso manter a atenção a cada detalhe. Não cederemos em nossos direitos de organização, expressão e reivindicação. Custe o que custar.