O editorial do boletim Nascente desta semana (1194), que traz a posição da entidade acerca dos temas em debate na categoria petroleira e no país, foi publicado especialmente na capa da publicação para marcar com destaque a indignação do Sindipetro-NF em relação à política negacionista do governo deferal, que já provocou mais de 500 mil mortes pela Covid-19. Confira a íntegra do texto:
Fora, genocida!
No momento em que este texto é produzido, os dados oficiais registram 504.717 mortes pela Covid-19 no Brasil. Chega-se a 18.054.653 casos confirmados da doença. Desde a primeira morte, em 17 de março de 2020, houve um crescimento médio trimestral constante, estabilizando o país em um platô macabro que irrompe o gráfico de modo consistente, irrefreável, em meio à inicialmente adiada e agora lenta compra de vacinas pelo governo federal.
As disputas políticas de momento podem turvar para boa parte da população a devida tipificação do que está ocorrendo no país, mas, no futuro, os historiadores não terão dúvida: trata-se de um genocídio.
Sobre a especificidade do conceito, sobre a tecnicalidade jurídica do termo, sobre o enquadramento ou não pela Corte de Haia do caso brasileiro na galeria trágica dos genocídios mundo afora, ainda muito haverá o que se discutir. Mas mostra-se claramente que a expressão, que pode ser utilizada para identificar a ação deliberada de um determinado agente para exterminar uma população ou um segmento dela, é o que se aplica ao Brasil atual.
Chamar Bolsonaro de genocida não resolve de imediato nossa gravíssima crise humanitária. Não faz cair a curva sinistra de mortes. No entanto, dar o devido nome ao que se vê é o primeiro passo para que se faça justiça.
Desde o início da pandemia, quando um dos homens do presidente, Osmar Terra, previu que as mortes por Covid-19 no Brasil não passariam as causadas pela H1N1, que foram 2.247 (próximo do que a Covid tem matado em um dia), a aposta do governo foi a de minimizar, negligenciar, negar e até mesmo zombar do sofrimento dos que perdiam familiares.
Como agora se levanta e se sistematiza na CPI da Covid-19, são fartas as provas documentais e os depoimentos que atestam esse extermínio como política deliberada. Bolsonaro fez de tudo para não comprar vacinas (o fez e ainda o faz apenas sob pressão da opinião pública), disse que não iria tomá-la e deu declarações debochadas sobre quem a tomaria, deixou sem respostas ofertas de farmacêuticas enquanto o mundo todo as buscava, apostou de modo muito suspeito na cloroquina, condenou o uso de máscaras, estimulou aglomerações, demitiu ministros que minimamente tentavam enfrentar o tema com racionalidade.
Bolsonaro sequestrou para seu doentio universo paralelo a condução do enfrentamento à pandemia. Como típico dos autoritários, quer controlar tudo, nos detalhes, à sua imagem e semelhança. Não ouviu a ciência, não ouviu a Organização Mundial de Saúde, não ouviu sequer o quadro de carreira do próprio Ministério da Saúde. Preferiu cercar-se por conselheiros de um agora descoberto gabinete das sombras, afeito às teses tresloucadas do bolsonarismo. Tudo, para ele, precisa estar imerso nesta espécie de seita, este é o tamanho de país que consegue enxergar.
O Sindipetro-NF, entidade que representa parcela da categoria petroleira do país, tem atuação ampla em várias frentes de luta. Em 25 anos de história, que se completam no próximo dia 2, sempre aliou a vocalização e a defesa das reivindicações mais diretas dos trabalhadores do setor petróleo com a participação junto a outros sindicatos e movimentos nas questões essenciais do povo. Não seria diferente agora com a pandemia.
Por isso, a entidade registra profunda indignação, revolta, repulsa em relação ao governo Bolsonaro e ao genocídio em curso no país. Estes sentimentos se materializam em disposição, organização, mobilização para a luta que precisa ser travada a cada minuto para livrar o Brasil deste período de trevas, dor e morte. Fora, genocida!