Esqueça o Lula como um político. É assim que a Globo quer que você pense. No Lula como “um político qualquer” que foi flagrado em desvio por nossa briosa Justiça. Esqueça o Lula como pessoa física — esse, mesmo encarcerado injustamente, vai bem, obrigado, como relatam os que o visitam na cela.
Lula é um patrimônio simbólico e político estratégico para os trabalhadores, algo que transcende o PT e as esquerdas, e é o único a atingir uma parcela gigante da população que ainda pode virar o jogo do golpe. Nenhuma força política desprezaria um potencial de 30% de votos numa eleição presidencial, mesmo após todos os ataques conhecidos. Mesmo assim querem te fazer acreditar que isso não existe, ou que não deve ser utilizado para não causar “insegurança jurídica”.
Portanto, toda vez que você pensar em pautas específicas, ainda que muito legítimas, como a Participação nos Resultados, pense também que ela poderá perder o sentido se a política atual de desmonte e privatização não for revertida — assim como não haverá PR se não houver Petrobrás.
Não é o caso — nunca foi e nunca será — de esquecer qualquer reivindicação, mas também não é o caso de negligenciar aquela que está na base de todas as demais.
O petroleiro ou a petroleira tem razão quando exige do seu sindicato o atendimento imediato das suas demandas mais próximas — e isso é feito todos os dias, o tempo todo —, mas também cresce o número dos que percebem que um sindicato, assim como fazem as entidades patronais, tem o papel de atuar politicamente nas raízes dos problemas, no plano institucional, e não apenas na superfície. Trata-se de consciência de classe: entender que nós, trabalhadores, devemos ser protagonistas da história, e não apenas vivermos submissos ao poder financeiro e às autoridades que o protegem.
Fosse apenas “um político qualquer”, Lula mereceria tanta comiseração quando a que desfruta um Sérgio Cabral — ou seja, nenhuma. Fosse apenas uma pessoa física, estaria em condições muito melhores do que a de milhares de outros presos e presas, no Brasil, vítimas de arbitrariedades da Justiça ou de abusos policiais. Mas Lula não é “apenas” um ex-presidente ou “apenas” um cidadão. Lula é uma ideia, como poucos chegaram a se tornar na história brasileira.