Depois da aceitação, pelo ainda juiz Sérgio Moro, do convite para integrar o ministério do futuro governo de Jair Bolsonaro, todos precisamos atualizar as definições de malandragem.
A jogada ensaiada de Moro também ressignifica a expressão morosidade. Agora passa a designar o modo como um juiz carreirista e deslumbrado manda às favas qualquer escrúpulo e se torna ministro do presidente beneficiado eleitoralmente pelas suas decisões.
Tudo isso não apenas mantendo o discurso da mais absoluta lisura como sob a justificativa de que se trata de algo necessário para o combate à corrupção. É um guerreiro mesmo esse Moro. O escárnio elevado à máxima potência.
O movimento do juiz em férias está assentado em sua convicção interna de que a sua popularidade, somada ao tal “acordo nacional com Supremo e tudo” que caracteriza o ambiente brasileiro pós-golpe de 2016, garantem uma espécie de licença moral até para as decisões mais cretinas.
De tão escancarada a infâmia, passará por aceitável. De fato, não foram poucas as entidades togadas e vossas excelências que saudaram o desprendimento de Moro em abandonar a carreira como magistrado de primeira instância para cair para cima. E depois do Super-ministério da Justiça, todos sabemos, uma vaga no Supremo Tribunal Federal o espera, se não for possível a Presidência da República.
Constrangida, a imprensa não teve como deixar de registrar a nota inconveniente das vítimas — todos aqueles e aquelas que consideram injusta a prisão, a partir de sentença sem provas, do ex-presidente Lula, a começar pelo próprio. Preso político desde 7 de abril, o ex-presidente líder nas pesquisas foi impedido de se candidatar a um retorno à Presidência.
Missão cumprida, Moro ficou livre para assumir novos desafios profissionais. Morou?