Editorial do Nascente: Muito além do ACT

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Brasil, 1993. Primeiro ano do governo FHC, que sucedeu Itamar Franco. Enfrentar a miséria havia sido um tabu superado muito lentamente após a redemocratização e com resultado praticamente nulos, em um País desigual e autoritário que se acostumara a “naturalizar” a fome e a miséria. Foi neste ano que o sociólogo Herbert de Souza, junto a milhares de outras lideranças sociais, conseguiu convencer mesmo os setores mais retrógrados de que a permanência de 32 milhões de pessoas, quase a população do Canadá, em miséria extrema, abaixo da linha da pobreza, não era algo aceitável. 

Brasil, 2003. Primeiro ano do governo Lula incorpora o combate à miséria como prioridade absoluta, cria o Fome Zero e o Bolsa Família. Avançamos “como nunca antes na história do País”, na inclusão social. O direito básico de “fazer três refeições por dia” passou a ser acessível a todos.

Brasil, 2007. A míséria extrema pôde, enfim, ser considerada extinta no Brasil. Uma luta que parecia impossível foi vencida. A Ação da Cidadania interrompeu as atividades de arrecadação e distribuição de alimentos da campanha Natal Sem Fome.

Brasil, 2017. Vinte anos depois da morte de Betinho, e dez anos depois do encerramento da campanha, a arrecadação e distribuição de alimentos volta a ser necessária no País e a Ação da Cidadania é relançada. O Brasil tem hoje aproximadamente 9, 3 milhões de pessoas vivendo em miséria extrema, abaixo da linha da pobreza (com renda per capita menor de R$ 140,00 mensais), e outros 20,8 milhões em situação de pobreza.

Não há agenda mais urgente no País que não seja a de restabelecer a ordem democrática, derrotar o golpe, e retomar o rumo das políticas públicas inclusivas, que protejam os direitos trabalhistas e sociais. É uma tarefa de sobrevivência, de projeto de nação e avanço civilizatório.

Há campanhas reivindicatórias em que lutamos contra o corte de direitos. Nesta, no entanto, não somente. Estamos muito além do ACT. Lutamos é contra a barbárie.

[Nascente 1015]