Há muitas críticas ao Lula, inclusive na esquerda. É um político, um ser humano, alguém tão falível quanto qualquer um. E, como figura pública, deve mesmo todas as explicações e está sujeito a toda sorte de investigações. Mas, daí a ser escolhido como alvo prioritário de uma perseguição jurídica e midiática que demonstrou, sem qualquer pudor, negligenciar exigências mínimas de imparcialidade, há uma grande distância.
Para nós, de um sindicato, a questão vai além: há o Lula pessoa física, há o Lula ex-presidente, mas há também um Lula que, ao ser atingido, leva com ele o simbolismo de toda uma visão de mundo, toda uma luta social. Ele é um dos milhares de construtores dessa caminhada, mas inegavelmente uma das suas maiores expressões, e não apenas no Brasil.
A mobilização social em torno do ex-presidente não significa a legitimação de seus eventuais erros — não comprovados até agora, diga-se, a despeito de todos os esforços legais e ilegais —, mas a defesa dos inúmeros acertos que a luta dos trabalhadores e trabalhadoras já produziu neste país. O que queremos para Lula é um julgamento justo, como deveria ocorrer para com qualquer agente público, mas sem que isso signifique criminalizar todo um pensamento social. É preciso entender a questão como processo histórico, não como vínculos a personagens.
O ódio ao Lula é a expressão do ódio de classe no Brasil. Todo o aparato de repressão montado para o depoimento da última quarta, em Curitiba, não pode ser visto apenas como uma proteção física ao inquiridor Moro. Tratou-se de uma espécie de desfile militar e um aviso: se o povo se levantar, haverá derramamento de sangue, como houve em 1964.
O julgamento, portanto, não é apenas de Lula. É um julgamento de todos os que se insurgem contra as injustiças, contra a miséria, contra a concentração de renda, contra os privilégios históricos da elite. É uma luta que havia antes de Lula, com Lula, e terá que seguir pelas próximas gerações.