Editorial do Nascente: Não nos percamos de nós

Após uma das mais dramáticas eleições da história brasileira, as forças progressistas têm a necessidade de fazer uma profunda reavaliação e se prepararem para os embates duríssimos que virão. Por responsabilidade histórica, toda a resistência ao arbítrio, por todos os meios possíveis, precisará ser exercida. A política agora é de redução de danos. 

Não se sabe ao certo qual o nível de calamidade será verificado no futuro governo Bolsonaro, mas as primeiras ações da transição impõem o desafio de resistir a agendas há muito combatidas pela categoria petroleira. A disponibilidade oferecida pelo moribundo mas ainda muito perigoso MiShell ao presidente eleito, de avançar no Congresso com as medidas que este desejar, coloca de pronto ameaças sérias em relação ao Pré-sal e à Previdência Social.

É iminente também, e anunciado para os primeiros dias do futuro governo, uma investida pesada em privatizações. “Uma das primeiras medidas, no início de janeiro, será o anúncio das empresas e participações controladas pela União que serão privatizadas. Assessores de Bolsonaro dizem que a lista está pronta e passa por últimos ajustes. A ideia é primeiro fazer a venda de subsidiárias de grandes estatais e, depois, extinguir a controladora. Nesse grupo terão prioridade empresas que operam com prejuízo”, relatou matéria da Agência Folha Press, publicada em vários veículos de comunicação na segunda, 29.

O exercício da democracia não se esgota nas urnas. É claro que elas, ainda que sob impacto de métodos desleais de comunicação, disseram que queriam Bolsonaro na Presidência da República. Mas a maioria dos votos, em um regime republicano — e até mesmo em uma monarquia constitucional —, não confere poderes imperiais ao governante. Toda a resistência em defesa da soberania nacional, dos direitos trabalhistas e sociais, das liberdades individuais, de expressão e de mobilização será empreendida para proteger a população dos ataques do governo.

Não nos percamos de nós, não desfaçamos a força reunida até aqui. Como ensinou Beto Guedes, “vamos precisar de todo mundo pra banir do mundo a opressão”. Quem é de luta, nunca desiste.

 

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