Editorial do Nascente: O ano do golpe

Daqui a cem anos, quando estiverem estudando a história brasileira da segunda metade do século XX e primeira metade do século XXI, se lembrarão do Golpe Militar de 1964; da Campanha das Diretas em 1984; das primeiras eleições diretas após a redemocratização, em 1989; do impeachment de Collor, em 1992; da posse de Lula, em 2003; da posse da primeira mulher na Presidência da República em 2011; e do Golpe Parlamentar de 2016.

Olhar os fatos contemporâneos em perspectiva ajuda a avaliar melhor as nossas escolhas. Por vezes, em meio ao redemoinho do presente, nos deixamos envolver por convicções baseadas em referência efêmera, sem profundidade, como a de alguém que defendeu o “impeachment” de Dilma Rousseff neste ano por não gostar da presidenta, mas sem avaliar no longo prazo os efeitos de tal opção.

Muitos dos brasileiros que bateram panelas com a camisa da CBF se deixaram levar por um ódio de classe, por um sentimento atávico de diferenciação e status, sem perceber que estavam afundando o País junto com os seus preconceitos e miopias.

Não poderá ser chamado por nome diferente de golpe o fato de uma presidenta ser deposta por ter feito algo que seus antecessores e seu sucessor golpista fizeram, assim como centenas de governadores e prefeitos. As tais pedaladas fiscais, que foram consideradas ilegais apenas no intervalo do julgamento do impeachment pelo Congresso, entrarão para a história como um arremedo vergonhoso de justificativa para uma deposição indefensável. Um crime inventado sob encomenda para enquadrar alguém sobre o qual não pesavam outras acusações.

Daqui a cem anos, de qual lado seus netos e bisnetos poderão dizer que você esteve quando esta lição for dada em suas escolas?