Editorial do Nascente: O pior do Brasil está no poder

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp

Este ano de 2018 foi de batalhas duríssimas para a classe trabalhadora brasileira. Ápice de um processo iniciado nos protestos de 2013, que sem um norte seguro redundou em apropriação pela direita, a trajetória recente tem sido de Golpe contra a presidente Dilma, prisão política de Lula e derrota nas eleições para Bolsonaro. E a agenda que já está sendo implementada e querem aprofundar reúne retrocessos que podem durar décadas em estragos sociais, trabalhistas, econômicos e culturais.

O pior do Brasil agora está no poder. E pelo voto. A crueza desta constatação impõe duas frentes de reação: a primeira, de resiliência na mobilização, de provocação às instituições que guardam alguma razoabilidade e de disputa na comunicação; a segunda, de profunda reflexão e análise sobre o porquê de chegarmos a esse fundo de poço.

Para o primeiro desafio somos talhados há décadas. Nossa vida nunca foi fácil e não há um só direito, uma só conquista, que não tenha nascido de muita resistência e luta. O “mercado liberal”, que gosta de propalar o super-heroísmo individual, o “empreendedorismo” e a ausência de regulação, esconde convenientemente que, historicamente, foram os trabalhadores organizados que refrearam tanto quanto possível a escravidão e a super-exploração. A expressão que eles gostam de usar, segundo a qual “não existe almoço grátis”, pode facilmente ser convertida em “não existe direito grátis”. Todos custam luta para criar, luta para ser cumprido e luta para continuar.

A democracia, o voto feminino, as políticas de proteção social, os direitos humanos, o combate ao racismo, o estado laico, a liberdade de culto, os direitos trabalhistas, a proteção ambiental, sempre foram resultantes da luta dos que se opuseram à opressão. Nada disso caiu do céu.

A segunda frente exige muito dever de casa. Entre nós, em nossos laços de solidariedade e militância, é preciso retomar um diálogo honesto e sereno sobre como fazer uma reconexão com a população, como vencer as fakenews e como explicar de modo didático tudo o que está em risco.

Todos os sinais são de que 2019 será de obscurantismo profundo no Brasil, mas a dialética ensina que desse cenário haveremos de sair ainda mais fortes.

[Nascente 1070]