Editorial do Nascente: Polícia treinada contra “vermelhos”

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O que há em comum entre os grandes e recentes protestos pelas Diretas Já, em Brasília e no Rio? Sim, isso mesmo, ambos foram convocados por militantes sociais e sindicais, reunidos na Frente Brasil Popular e na Frende do Povo Sem Medo, com adesão tanto de atores políticos experientes quanto de cidadãos que não chegam a ter uma militância diária, mas se sentem impelidos a atuar em um momento grave como este.

E o que estes dois protestos têm de diferente? Sim, também é possível que você tenha notado. No primeiro, de Brasília, dia 24, houve “cenas de vandalismo” e o uso farto, pela imprensa, do “a polícia dispersou a manifestação”. No segundo, do Rio, dia 28, não houve isso. Será que foi por não haver “vândalos”? Ou foi por não haver polícia?

Está evidente que, em algumas manifestações, os governos estão orientando as suas polícias a atuarem de modo a “quebrar o movimento”, criar uma ambiência tal de aparente descontrole que acabe por desencorajar quem está em casa a aderir também. Podem, para isso, tanto usar de reação desproporcional a eventuais agressões dos manifestantes quanto, o que é mais usual do que se imagina, plantar agentes provocadores em meio à multidão.

O que justifica o que aconteceu ao próprio coordenador do Sindipetro-NF, Marcos Breda, em Brasília? Ele foi ferido por uma bomba de efeito moral não por uma má sorte de ser atingido entre milhares por um petardo vindo do céu, mas por ser sido alvo direto, a queima roupa, de um policial com quem tentava dialogar, pedindo que não atirasse bombas em um local aonde havia pessoas sendo atendidas pelos bombeiros. 

Reprimir na base da porrada um protesto na zona sul do Rio, com atores e cantores famosos tanto no palco como no chão, seria um custo muito maior, que o governo do Rio decidiu não pagar. Daí que no caso do protesto fluminense o policiamento se ateve ao que deve ser: manter-se à margem, protegendo o cidadão que exerce o direito de protestar, sem atuar como agente político.

Mais de 60 anos após o golpe de 1964, ainda são profundas as raízes de uma formação militar da polícia que é treinada para odiar “os vermelhos”, não para amar a democracia.

 

[Nascente 994]