Editorial do Nascente: Unidade do povo oprimido

Do Boletim Nascente 936

Se restou algo de positivo da votação patética na Câmara dos Deputados, no último domingo, foi a exposição nacional do nível de representação política que conta o País nesta casa legislativa. Era possível que eleitores isoladamente suspeitassem desse descalabro por conhecerem um ou outro deputado da sua região, que eventualmente pudesse ser tomado por caricato, mas o desfile geral de suas excelências, com poucas dezenas de exceções honrosas, deu o quadro completo do fundo do poço em que estamos metidos.

Todos aqueles que culpam “Lula, Dilma e o PT” por todos os males do País deveriam admitir agora, se tomados por honestidade intelectual, que o que está inviabilizando o Brasil em termos políticos institucionais está muito além das possibilidades do poder executivo. É difícil mensurar qualidade de representação, mas não é infundado afirmar que a atual legislatura na Câmara Federal é a pior da história republicana brasileira — não por acaso comandada por alguém da estirpe de Eduardo Cunha.

Por trás daquelas excentricidades, com ares por vezes até cândidos ou apenas risíveis, estão correntes poderosas de mentalidades e de interesses ultraconservadores, vocalizados em expressões como “defesa da família” e reiteradas referências a Deus. A chamada bancada BBB (Boi, Bíblia e Bala) é a maior do Congresso Nacional e, se os trabalhadores não reagirem com extremo vigor, todas as condições formais estão colocadas para que a direita avance de modo avassalador sobre todas as conquistas sociais recentes e sobre direitos trabalhistas históricos.

Somente as ruas poderão reverter esse quadro. Perdemos uma batalha muito importante, mas a guerra continua. Por décadas e décadas os trabalhadores empreenderam lutas contra a exploração, formaram sindicatos e partidos populares, fundaram movimentos camponeses e urbanos, e não vão aceitar agora que bandidos ventríloquos da Fiesp tomem de assalto o poder, de forma indireta, para tentar implantar a agenda conservadora de corte de direitos e desnacionalização das riquezas brasileiras.

Vamos para as praças, em greve geral se preciso, para retomar o curso democrático do País.

 

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