Editorial: Greve dura a caminho

Todos os indícios são de que a categoria petroleira caminha para uma das mais duras greves da sua história. O indicativo de aprovação de Estado de Greve, nas assembleias que começaram ontem, é a sinalização formal dessa tendência, mas há bem mais do que isso: o movimento sindical sabe que a disposição da Petrobrás e do governo é tomar o Acordo Coletivo da companhia como uma espécie de “exemplo” para as demais categorias e sindicatos.

Neste semestre, os petroleiros são a única grande categoria organizada com negociação coletiva em curso. O que acontecer com o ACT petroleiro baliza todo o ambiente sindical. O governo tem consciência disso, e joga pesado para cortar direitos, na busca por desmontar as conquistas da última década. Em 2002, o ACT dos petroleiros e petroleiras tinha aproximadamente 90 cláusulas. Atualmente o documento possui cerca de 180. O dobro, portanto, com avanços especialmente na área de segurança, saúde e meio ambiente, mas também em muitos benefícios.

A meta da gestão neoliberal da Petrobrás é cortar uma a uma essas conquistas, e retornar o ACT para patamares mínimos, como sonhado pela primeira grande onda neoliberal no País, nos anos 90.

Além dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, o governo Mishell e a gestão da Petrobrás atuam para atender às encomendas do golpe que empreenderam em 2016, entregando para o setor privado os ativos da companhia, reduzindo o seu papel em todos os pontos da cadeia produtiva do petróleo. A privatização nem mais é disfarçada, avança descaradamente com o anúncio de áreas de petróleo, inclusive na Bacia de Campos, sem qualquer pudor ou cerimônia.

Nunca na história recente do Brasil os entreguistas estiveram tão à vontade para atuar no desmonte da Petrobrás e no corte de direitos dos trabalhadores.

Ontem mesmo atuaram com desenvoltura no leilão de áreas do petróleo, que teve, pela primeira vez, a participação da Petrobrás em condições muito mais propícias a um comportamento irresponsável em relação aos interesses brasileiros, sem a obrigação de ser operadora mínima de 30% e sem qualquer política de conteúdo nacional. Foi uma festa dos privatistas e entreguistas.

A categoria petroleira é uma das últimas frentes de resistência a tudo isso, e não fugirá da luta.