Encontro Nacional: Somos todas irmãs e estamos cada vez mais fortes

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Da Imprensa da FUP – Inspiradas no lema “somos todas irmãs”, mulheres petroleiras realizam sétimo encontro nacional com propósito alcançado: tomar consciência de que o empoderamento já é real, agora é se apropriar dele. Durante os três dias do encontro, o Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP, apresentou a análise de conjuntura, contou a trajetória histórica de conquistas, chamou para a luta, e sobretudo, reafirmou o quanto as mulheres são fortes e estão preparadas para resistir diante do difícil momento em que se vive.

Acompanhe abaixo o resumo das homenagens, mesas, painéis e palestras que aconteceram nos dias 5, 6 e 7 de abril de 2019 em Vitória ES.

Abertura, dia 5

Com emocionante abertura no Cine Metrópoles da Universidade Federal do Espírito Santo, o Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras começou com as falas políticas do coordenador geral do Sindipetro-ES, Paulo Rony; da secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/ES, Maria da Penha Barreto; da deputada estadual Iriny Lopes; do diretor da CTB/ES, Wallace Overney; da representante do Fórum de Mulheres do Espírito Santo e diretora do Sindibancários, Evelyn Flores, da Secretária Nacional de Mulheres da CUT nacional, Graça Costa; do deputado federal Hélder Salomão e de José Maria Rangel, coordenador da FUP. Em suas falas eles destacaram a necessidade do empoderamento feminino, da união da classe trabalhadora para manutenção de direitos e defesa do patrimônio público.

José Maria Rangel, comparou o sétimo encontro nacional de mulheres petroleiras da FUP, a um grande desafio, diante da conjuntura e da reforma da previdência que prejudica ainda mais as mulheres, e completou, “as mulheres têm a capacidade de encorajar e ter coragem. ”

Já é tradição do Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras homenagear uma mulher que se destacou na sociedade por seus feitos progressistas, este ano a homenagem foi para a educadora capixaba Zilma Coelho, conhecida como “A louca do Itapemirim” por causa de seu projeto de erradicação do analfabetismo, que, para muitos, era algo extremamente ousado. A homenagem contou com a exibição de um documentário sobre Zilma Coelho, a entrega do documentário para a família da educadora e uma fala de Deane Monteiro, biógrafa de Zilma Coelho.

Duas palestras sobre feminismo

Por, Sindipetro MG

O feminismo foi tema do debate conduzido pela professora do Núcleo Interinstitucional de Pesquisa em Gênero e Sexualidades da UFES, Erineusa Silva, e pela deputada federal pelo Distrito Federal, Erika Kokay (PT-DF). Ambas destacaram o quanto a sociedade ainda é machista e patriarcal, mas lembraram o quanto as mulheres têm coragem e foram e são essenciais nas lutas por direitos no Brasil e no mundo. Erineusa fez uma retomada história sobre o conceito de feminismo no Brasil e no mundo e também explicou como o feminismo é algo crescente dentro de cada uma das mulheres – ainda que elas não se reconheçam como tal.

“O feminismo surgiu para mim quando via meu pai tratando diferente o meu irmão de mim, quando ele podia sair mas eu tinha que ficar em casa. Foi nas coisas cotidianas que o feminismo surgiu pra mim e acredito que para a maioria das mulheres, mas eu não sabia naquela época e, até hoje, tem muita gente que não sabe que é feminista”.

Ela também reforçou que o significado de feminismo nunca foi o contrário de machismo e que consiste, na verdade, em um movimento de luta por direitos e contra as injustiças sociais. Ela retomou a luta das mulheres pelo voto, a conquista do direito ao divórcio, a aprovação da Lei Maria da Penha e outras importantes conquistas que só se deram pelo que depois passou a ser chamado de feminismo.

Porém, mesmo diante de tantos avanços, as mulheres ainda são sub-representadas na política brasileira, ainda recebem salários menores que os homens e estão em menor número nos cargos de chefia – apesar de estudarem mais e serem maioria entre a população brasileira.

Também as mulheres têm uma carga horária de trabalho maior a dos homens (em média 51 horas semanais contra 40 horas semanais dos homens) em função dos cuidados com a casa, os filhos e a família que vão além do trabalho formal, como bem lembrou a deputada Érika Kokai.

No entanto, apesar dessa diferença, a proposta de Reforma da Previdência recentemente apresentada pelo governo Jair Bolsonaro ao Congresso quer acabar com o reconhecimento que hoje a atual previdência tem ao garantir à mulher o direito de se aposentar mais cedo que os homens. “Uma das poucas políticas que temos no sentido de enfrentar essa desigualdade é a previdência e agora querem nos tirar até o direito à aposentadoria”.

Ainda segundo a deputada Erika Kokai, há uma luta que precisa ser feita que é contra a desumanização simbólica que, segundo ela, é “quando não somos donas das nossas próprias vidas ou quando não somos donas dos nossos corpos”. Isso ainda acontece nos dias de hoje em razão da opressão, do machismo e da desigualdade de gênero.

É no contexto da desumanização simbólica que a violência contra a mulher é naturalizada no Brasil. “A mulher não tem direito à cidade. Ela não pode sair a qualquer hora, ou vestida como quiser pois pode ser alvo de assaltos ou outros crimes. Isso é a violência sendo naturalizada pela desumanização”.

Ela lembrou ainda que o Brasil é o quinto País onde mais se mata mulheres no mundo e que, a maior parte dessa violência, acontece dentro de casa. “Temos milhares de mulheres que têm medo de voltar para suas próprias casas ou, quando voltam são controladas e moldadas por um homem”.

E também no esteio da construção da desumanização simbólica e do papel histórico da mulher na sociedade surge ainda outro conceito: a ditadura da perfeição. “A culpa é a maior forma de dominação das mulheres e elas sempre se sentem culpadas quando quando não são perfeitas, quando são agredidas, quando o casamento acaba, quando não conseguem deixar a casa limpa, ou estar disponíveis aos seus maridos, ou quando têm que sair pra trabalhar e deixam o filho chorando”.

E completou: “Se hoje temos poucas mulheres no Parlamento isso é fruto dessa sociedade. Lutar contra as desigualdades de gênero e a desumanização simbólica na sociedade é estruturante de qualquer luta. Não é a toa que o maior movimento por direitos no mundo, que foi a Revolução Francesa, teve a pauta feminina decapitada. Mas, isso não é mais permitido hoje: ou a gente avança na equidade de gênero e no empoderamento feminino ou simplesmente não avançamos em nada.

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Segundo dia, 6 de abril

O segundo dia do Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP começou com a análise do setor de petróleo e gás no Brasil e no Espírito Santo, com uma mesa composta pela diretora do Sindipetro-ES Patrícia Jesus, a pesquisadora Ana Maria Leite de Barros, a representante do Dieese/ES, Sandra Bortolon; e a militante do Movimento dos Atingidos por Barragem, Tchenna Fernandes.

Segundo Tchenna Fernandes, os recursos do petróleo devem ser destinados para o desenvolvimento social, e não para o fortalecimento do imperialismo norte americano.

Para a representante do Dieese/ES, Sandra Bortolon, os elementos para compreensão da crise pela qual o Brasil está passando são extremamente importantes e por isso ela traça o processo histórico da geração desse problema para promover um debate com aspectos que nem a imprensa em geral e nem os analistas de mercado abordam quando falam da crise atual.

A pesquisadora Ana Maria Leite de Barros apresentou para as participantes do Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras da FUP sua pesquisa “Efeitos do Dinamismo Econômico e Regional do Setor de Petróleo e Gás Natural no Espírito Santo”.

A segunda mesa com o tema “A luta contra a privatização: o papel dos trabalhadores e trabalhadoras” trouxe Rita Serrano, Coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas; Fabiana dos Anjos, Representante dos Trabalhadores no CA da Transpetro; e Danilo Silva, Representante dos Trabalhadores no CA Petrobras.

Fabiana dos Anjos, destacou em sua fala a importância de haver representantes dos petroleiros e petroleiras no Conselho. Esses representantes, segundo Fabiana, buscam a defesa dos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras junto à alta administração, além de levar para a sociedade a importância das estatais para o bem comum.

Rita Serrano, explicou como funciona o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, que surgiu em 2015, por causa de um projeto de lei que facilitava a privatização das empresas estatais. O projeto foi derrubado, mas o comitê continua, pois, a luta contra a privatização das estatais é constante.

Danilo Silva falou sobre a realidade atual da Petrobrás com a dinâmica das relações dentro da estatal, uma discussão sobre o processo de recuo que se vem enfrentando nas pautas minoritárias, como as maiorias são tratadas como minorias.

Impactos da Reforma Trabalhista e Previdenciária na vida das trabalhadoras e os direitos ainda preservados na lei foi o tema da mesa seguinte que contou com a participação de Euci Santos Oss, Advogada Trabalhista assessora do Sindipetro-ES; Lujan Miranda, Especialista em Direito Constitucional /Núcleo Auditoria Cidadã da Dívida/ Sindiprev/ES; e Jossandra Rupf, Advogada especialista em Gestão de Politicas Publicas de Gênero e Raça / CTB-ES.

Euci Santos, recordou a luta dos trabalhadores e trabalhadoras até a conquista da Consolidação das Leis do Trabalho. Lujan Miranda, apontou a necessidade de fazer com que as pessoas compreendam o que é a dívida pública e como ela afeta a classe trabalhadora. E, Jossandra Rupf, mostrou em sua palestra os impactos da reforma da Previdência na vida das mulheres.

Terceiro dia, 7 de abril

A trajetória do Coletivo de Mulheres da FUP foi contada por Mônica da Silva Paranhos, pesquisadora associada do Arquivo da Memória Operária do Rio de Janeiro IFCS-UFRJ, juntamente com a Marbe, uma das criadoras do Coletivo de Mulheres da FUP.

Ao final, Priscila Patrício, Sindipetro ES, Andressa Delbons, Sindipetro Caxias e Cibele Vieira do Sindipetro São Paulo receberam os encaminhamentos, resoluções e moções das petroleiras presentes no 7° Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras.

Andressa Delbons, coordenadora geral do coletivo encerrou o evento lembrando que o lema “somos todas irmãs” remonta à luta operária de meados do século XIX, e nós do coletivo pensamos que agora é um momento propício para fazer esse resgate histórico de valores do movimento das trabalhadoras e trabalhadores. E afirmou, “Precisaremos de muita coragem, força e união para atravessar mais esse momento político desfavorável. Só assim conseguiremos êxito nas lutas contra as privatizações, retiradas de direitos trabalhistas.”