Equidade assusta o patriarcado, afirma diretora do Sindipetro-NF

Vitor Menezes – Responsável por alavancar, junto a tantas outras companheiras de luta, a campanha #PorMaisMulheresaBordo, a diretora do Sindipetro-NF, Bárbara Bezerra tem atuação destacada nas causas feministas e na defesa das reivindicações das mulheres petroleiras. Nesta entrevista, que teve principais trechos antecipados pelo Nascente que circula hoje, ela avalia o quadro de participação feminina no movimento sindical, a falta de mulheres na indústria do petróleo e mostra-se otimista em relação ao crescimento desta participação. Confira a íntegra:

Nascente – O que os movimentos de mulheres petroleiras destacam neste 8 de março como principais reivindicações?
Bárbara – O movimento das petroleiras destaca que precisamos continuar reivindicando um espaço mais democrático, principalmente dentro da indústria do petróleo e gás. Precisamos de mais representatividade, mas precisamos também de mais oportunidades para que as mulheres petroleiras consigam exercer cargos de liderança, consigam ter carreiras, consigam ter espaços, consigam ter proteção à maternidade. Sem mulheres não há democracia. Precisamos ter um espaço mais igualitário e mais respeitável ao universo feminino.

Nascente – Você é uma das lutadoras pela maior presença de mulheres a bordo. Como está esse quadro? Você tem percebido aumento nessa presença?

Bárbara – A Simone de Beauvoir tem uma frase que diz que quando começam a retirada de direitos sempre começam pelas mulheres. Então, não é diferente o reflexo nas mulheres a bordo. Em plataforma a gente sempre tem um universo bem pequeno de mulheres. Em geral em torno de 3º. Com o avanço do fascismo no Brasil, a gente foi diminuindo mais ainda. Quando começaram a diminuir os quadros nas plataformas, começa-se a diminuir pelas mulheres. Por exemplo, quando começou a pandemia, eu fui a primeira a ser retirada da plataforma onde eu trabalhava. Só tinha eu e mais uma mulher, eu fui a primeira. É muito complexo isso. Quando tem um quadro político que apoia esse desmonte a gente vai ficando com mais dificuldade de espaço. É por isso que a gente precisa falar mais sobre isso. Reivindicar, pedir que tenha infraestrutura básica e, principalmente, que não seja proibido camarotes femininos. A grande dificuldade de as mulheres estarem a bordo é que só tem um camarote feminino, ou dois, e por mais que os outros camarotes estejam até desocupados eles não permitem que sejam femininos. Então tem que acabar com essa limitação por gênero. A gente pode ter quantas mulheres forem necessárias a bordo, basta abrirem mais esses espaços.

Nascente – Nas atividades do sindicato neste mês da mulher tem sido destacado o valor da união para promover a liberdade. Você tem percebido este espírito nas mulheres? Estão mais unidas nas lutas?

Bárbara – Sim. Essa frase é muito bonita e importante para a mulher, né? A nossa liberdade está na nossa união. Isso são os elos de afeto que a gente observa para a gente avançar, que se chama dentro do movimento feminista sororidade. Esse carinho, essa rede de apoio que as mulheres podem se dar quando a gente também entende que em geral o espírito que nos une é a dor, quando a gente olha para outra mulher em geral e a gente revela que sempre dores muito semelhantes. Então a gente conseguindo acabar com esse silenciamento a gente consegue ter uma rede de apoio a fazer lutas coletivas.

Nascente – Na sua avaliação, por que o feminismo ainda incomoda tanta gente? Quais são as barreiras a superar?

Bárbara – Eu acredito que o feminismo incomoda o patriarcado, incomoda uma cultura capitalista , uma cultura machista, uma cultura onde é necessário manter a mulher nos serviços, no servir, no cuidar, de forma gratuita, para que outros possam enriquecer e manter essa estrutura de capital, de patriarcado tão grande. Eles criam muitos rótulos negativos ao feminismo, falam que a mulher feminista é feia, é descuidada, é abortista. Criam vários termos pejorativos, mas é apenas para desestruturar o movimento. Porque o lema do feminismo é só equidade de direitos. A quem interessa não ter direitos iguais? Quem está incomodado com igualdade de direitos? Então, direitos iguais é um princípio dos direitos humanos, não é para ser um mistério e nem para ser demonizado. Então eu acredito que a gente tem sim muito o que falar sobre o feminismo. Desmistificar o que é ser feminista. É lutar pela igualdade de direitos e acho que isso é um princípio comum para a vida em nossa sociedade.

Nascente – No sindicalismo especificamente, o que é preciso ser feito para aumentar a participação das mulheres? Quais as suas expectativas quanto a isso?

Bárbara – Eu gostaria muito de ter mais mulheres no movimento sindical, mas assim como outros espaços de poder, o movimento é muito violento à presença feminina, é muito hostil, é muito difícil de convencer uma mulher… Toda mulher tem uma história de violência já, aí você diz vamos para aquele ambiente lutar, sabendo que ele vai ser mais violento ainda, então é muito difícil fazer esse convencimento, mas é necessário. Tenho muita esperança de termos mais mulheres aqui , de ter mais mulheres com esse envolvimento político, pois esse movimento é muito importante para que a gente consiga fazer modificações a médio e longo prazo, não haverá mudanças sem essa ocupação, sem essa presença feminina. Ninguém vai reivindicar o direito de uma mulher senão as próprias mulheres, fazendo essas conquistas. Mas entendo a dificuldade de entrar para o movimento sindical, entendo como todo espaço de poder é difícil de ser ocupado por uma mulher, mas tenho expectativas muito positivas de que isso há de mudar e, aos poucos, a gente vai conseguindo ocupar esse espaço e transformá-lo também. No Brasil, onde a política é extremamente violenta à mulher, e quando eu falo violenta é violenta mesmo, eu falo da morte de Marielle, do impeachment da Dilma sem nenhum crime, então é um país misógino e é difícil querer ocupar um lugar onde você vai ter mais exposição à violência, mas tenho esperança de que a gente vai conseguir fazer essas ocupações com muita sororidade e aumentando essa representatividade e aumentando a nossa representação, aumentando os nossos elos. Acredito que dias melhores virão.

 

[Foto: Rui Porto Filho / Para Imprensa do NF]