Rede Brasil Atual – Os cerca de 50 estudantes que permanecem no plenário da Casa, apesar da presença ostensiva de policiais, passaram noite “tranquila” e hoje esperam debater com os deputados a implementação da CPI
Estudantes secundaristas que ocupam a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) desde o final da tarde de ontem (3) passaram a noite no local. A intenção é manter a ocupação até que uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) seja aberta para investigar a máfia da merenda no estado. Até o momento, 24 deputados assinaram o pedido de abertura da CPI, sete a menos do que o necessário.
“A gente ocupou com uma pauta muito clara, que é a abertura imediata da CPI para investigar o roubo da merenda. Desde o início do ano a gente vem denunciando o caso e, até agora, a Alesp não abriu a CPI por falta de quórum, por indisposição dos deputados em assinar a abertura”, disse o presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), Emerson Santos.
Durante a noite de ontem, o padre Júlio Lancellotti levou ao plenário pães e chocolate quente, preparados por cidadãos em situação de rua, para distribuir aos alunos. “Hoje esses jovens ressuscitaram a Assembleia Legislativa, que deveria dar um grande prêmio para eles, porque estava morta e a fizeram voltar à vida”, afirmou o padre Júlio.
Anteriormente, o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), um dos alvos do protesto, havia tentado impor a proibição da entrada de alimentos, que flexibilizou a medida. Café e pães seguem entrando, mas outras comidas, fruto de doações, seguem proibidas, como informa a presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes. O acesso aos banheiros da Casa também foi autorizado.
Também na noite de ontem, os estudantes receberam o apoio do músico Chico César. Apesar da noite “tranquila”, Camila relatou a presença ostensiva de policiais nos corredores da Casa, e que o ar condicionado funciona em máxima potência para causar desconforto aos estudantes. A energia das tomadas também foram cortadas, dificultando a comunicação, já que não podem carregar seus celulares. A movimentação de deputados também é constante, relatou.
Hoje, os cerca de 50 alunos que permanecem ocupando o plenário da Alesp pretendem realizar oficinas, com professores e artistas, e debates com os deputados estaduais para reforçar o pedido para a instalação da CPI que investigue os desvios relacionados à merenda. “A gente vai tentar chamar as pessoas para virem para frente da assembleia para construir uma mobilização para que a polícia compreenda que a gente não está sozinhos aqui dentro”, disse a presidenta da Ubes, no início da manhã.
O presidente da Assembleia, Fernando Capez, decretou ponto facultativo para esta quarta-feira e informou, via assessoria de imprensa, que prepara pedido de reintegração de posse do prédio, o que aumenta o temor dos estudantes sobre uma eventual invasão da Polícia Militar. Capez, um dos suspeitos de envolvimento na máfia da merenda, proibiu ainda a entrada da imprensa e o envio de alimentos aos estudantes.
Durante a madrugada, os estudantes também divulgaram “carta aberta” com reivindicações. Confira:
QUEM VAI PUNIR OS LADRÕES DE MERENDA?
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, 03 de Maio de 2016,
Na tarde de hoje 300 estudantes ocuparam o plenário da ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). A educação pública do estado de São Paulo vai de mal a pior há muitos anos, e mais do que nunca os estudantes tem se mobilizado para mudar essa realidade.
Fomos vitoriosos no final do ano passado quando ocupamos mais de 200 escolas estaduais, dando resposta ao projeto de reorganização em ciclos e ao fechamento de 94 escolas da rede pública. Derrubamos o Secretário Estadual de Educação que tentou impor o projeto que não nos representava.
Voltando para as aulas em 2016 nos deparamos com vários problemas como o fechamento de salas de aula que é uma reorganização disfarçada e o mais grave de todos: a falta de merenda nas escolas estaduais em diversos lugares do estado de São Paulo.
Descobrimos que há meses estava ‘abandonada’ no Ministério Público uma investigação sobre possíveis desvios da merenda.
A investigação avançou e o presidente da ALESP, Fernando Capez (PSDB), foi desmascarado como o principal envolvido; junto ao ex-chefe de gabine da Secretaria de Educação, Fernando Padula e outros servidores públicos do Governo do Estado de São Paulo.
Começamos a nos mobilizar, viemos diversas vezes até aqui (na ALESP) pedindo que os deputados fossem contra a impunidade dos corruptos que roubam dinheiro da merenda dos secundaristas.
E os estudantes de São Paulo querem saber CADÊ A MERENDA QUE TAVA AQUI? É por isso que nesse momento ocupamos a ALESP pedindo a CPI da Merenda JÁ e vamos sair quando tivermos a garantia da instalação IMEDIATA da CPI da merenda.
Somos solidários aos tantos outros estudantes secundaristas que nesse momento ocupam escolas em São Paulo e Brasil a fora contra o sucateamento da educação e por uma nova escola pública.
RESISTIREMOS,
RUMO A VITÓRIA #CPIdaMerendaJÁ