Fim do auxílio emergencial agrava quadro de extrema pobreza no país

Mesmo com o crescimento de casos de covid-19, o auxílio emergencial pago a 25 milhões de brasileiros nos últimos meses, com valor inicial de R$ 600 fixado pelo Congresso Nacional, está reduzido pelo governo federal a R$ 300 e tem previsão de encerramento em janeiro de 2021. Pesquisa Datafolha repercutida pela Rede Brasil Atual (RBA) mostra que esta fonte de renda foi a única para 36% das famílias que receberam o benefício.

Este percentual chegou a ser mais alto, de 44% em agosto, também segundo o Datafolha. A pesquisa mostrou ainda que a renda familiar de 51% das famílias brasileiras diminuiu.

“Outro dado que chama a atenção é a influência do corte do auxílio na rotina das pessoas. Com apenas R$ 300, o principal efeito foi a adoção de ações para cortar gastos. Cerca de 75% da população diminuiu a compra de alimentos e outros 65% cortaram despesas com remédios. Além disso, 55% deixaram de pagar as contas da casa e 51%, pararam de pagar escola ou faculdade”, afirma matéria da RBA.

O fim do auxílio emergencial tem sido criticado por lideranças no Congresso que têm atuação mais sensível aos temas sociais. É o caso do deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ), que disse em sua conta no Twitter que “a fome está batendo na porta dos brasileiros depois que Bolsonaro acabou com o auxílio emergencial, que é a única fonte de renda de 25 milhões de pessoas. Nós não podemos abandonar essas famílias, por isso estamos lutando na Câmara para criar a renda básica permanente”.

Também citada pela RBA, a economista Tânia Bacelar, que pesquisa a desigualdade social no país, defende que a manutenção do auxílio emergencial é até mesmo uma necessidade econômica. “O auxílio emergencial foi central e não pode desaparecer. É irrealista pensar que a economia vai dar conta do mercado de trabalho em 2021. Não vai dar”, afirmou, lembrando ainda que “a desigualdade é abissal e está se aprofundando”.

O quadro de miséria que havia sido revertido no Brasil no início dos anos 2000, e voltou em 2017, será agravado com o fim do auxílio. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, com dados de 2017 e 2018, o Brasil mantinha 10,3 milhões de pessoas em domicílio com privação severa de alimentos. De acordo com previsão do FMI (Fundo Monetário Internacional), a situação de extrema pobreza poderá afetar 24 milhões de brasileiros em 2021.

[Foto: Marcello Casal Jr./EBC]