Frente Povo Sem Medo completa um ano e propõe plebiscito contra retrocessos

Isaías Dalle / Da Imprensa da CUT

A Frente Povo sem Medo está completando um ano. Neste sábado, dia 19, entidades que compõe a frente realizaram seminário nacional para fazer um balanço das atividades e analisar o que deve e pode ser feito daqui por diante contra o avanço da agenda conservadora.

Entre os acertos da Frente, na opinião do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, está a capacidade de ter defendido a legalidade do mandato de Dilma Rousseff sem deixar de criticar a opção pelo chamado “ajuste fiscal”, que levou aquele governo a um posicionamento à direita do eleitorado que lutou por sua reeleição.

“Este equilíbrio nos tornou referência”, comentou. “Também tivemos capacidade de mobilizar com rapidez, como no dia em que o Senado votou pela admissibilidade do processo de impeachment. Naquele mesmo dia, colocamos mais de 30 mil na Paulista”, disse. “Conseguimos também, no período do mês de setembro, mobilizar setores não organizados, autonomistas, que queriam vir pra rua para protestar contra o golpe. Depois, houve um refluxo”, pontuou Boulos.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, esteve presente ao seminário e encerrou os debates da manhã com uma breve fala. Para ele, o Brasil vive uma ditadura – “mais inteligente que a de 64, que foi mais tosca” – e que a perseguição política, que já atinge os partidos, chegará aos movimentos sociais. “Vai ter criminalização dos movimentos. Alguém tem dúvida disso? Gente nossa será presa”, chegou a dizer, prevendo que a direita vai levantar acusações de corrupção a partir da Lava Jato.

Exatamente por isso, na opinião do presidente da CUT, é preciso muita unidade dos movimentos e entidades do campo popular. “Vamos celebrar a diversidade. A diversidade é muito importante. Mas nós temos de fazer chegar o discurso até os mais pobres”, disse, pois do contrário a tarefa não estará completa.

Vagner também apontou para fissuras que surgem entre os representantes da direita. “Há um ponto fora da curva para eles que é a (Operação) Lava Jato. Agora percebe-se um embate entre os poderes legislativo e judiciário”, disse o sindicalista, para quem a ideia de que a direita tinha o controle total da Lava Jato já não é mais uma certeza. “Mas para nos destruir, eles não vão hesitar nem se dividir”, completou.

A CUT faz parte tanto da Frente Povo sem Medo quanto da Frente Brasil Popular, lembrou Vagner, para em seguida dizer que há na Central o desejo de que as duas frentes venham a se tornar uma só. “Não a fórceps, mas por concepção”, disse.

Boulos havia apontado para dificuldades de organização da Frente nos diferentes estados do Brasil. Disse também que, no momento, a Frente, por conta da conjuntura, ficou na “reativa”, pois campanhas que se antecipassem aos fatos não teriam emplacado.

Uma das sugestões debatidas no encontro é a realização de um plebiscito popular, à semelhança do plebiscito da Alca e da Reforma Política, para difundir os reais perigos da PEC 55 – que congela por 20 anos investimentos públicos em saúde e educação – e conclamar a população a se manifestar contra. Outra proposta apresentada aponta para a aproximação com movimentos chamados “horizontais”, como os estudantes que ocupam escolas pelo país. Na análise da Frente, a “resistência heróica, sem o instrumento organizativo, pode se perder”. O seminário foi realizado na sede do Sindicato dos Químicos de São Paulo.

 

[Boulos abre a atividade: equilíbrio tornou Frente uma referência – Foto: ID]