FUP apresenta à Petrobrás propostas para uma política de SMS que defenda a vida

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Imprensa da FUP

A Federação Única dos Petroleiros se reuniu com o presidente, os diretores e as gerências executivas da Petrobrás no Fórum sobre Segurança, Meio Ambiente e Saúde do Trabalhador, realizado na manhã desta terça-feira, 06, no Rio de Janeiro. Participaram da reunião, diretores da FUP e dos sindicatos filiados, todos vestidos de preto, em protesto e luto pelos mais de 300 trabalhadores mortos nos últimos 16 anos.
 
 
A realização do Fórum foi um compromisso assumido pela empresa na campanha salarial de 2010, em resposta às cobranças da FUP de mudanças estruturais na gestão e na política de SMS, com base nas propostas dos trabalhadores. Para isso, foram necessárias várias mobilizações, 17 mortes de trabalhadores desde setembro do ano passado (sendo que oito óbitos em um mês) e uma decisão de um juiz do trabalho afirmando que uma greve pela vida “sempre contará com o apoio do Poder Judiciário Trabalhista”, para que a diretoria da Petrobrás encontrasse tempo em sua agenda para realizar o Fórum de SMS.
Petrobrás não respeita a vida humana
 
 
O diretor da Secretaria de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da FUP, José Maria Rangel, ressaltou para o presidente José Sérgio Gabrielli e demais executivos da Petrobrás que há anos, os dirigentes sindicais têm cobrado medidas urgentes de preservação da vida, que garantam dignidade, saúde e segurança para todos os petroleiros. Ele frisou que os trabalhadores, ao contrário dos gestores, que administram a empresa à distância, sofrem na pele as conseqüências da insegurança. “Em nossa mesa de negociação coletiva, os gerentes da Petrobrás confessaram desconhecer o significado do dia 16 de agosto (acidente de Enchova, em 1984, na Bacia de Campos que matou 37 trabalhadores). A empresa tampouco se dignou a promover qualquer lembrança pelos 10 anos do acidente da P-36, no último dia 15 de março”, lamentou José Maria.
Em sua falação, o diretor da FUP também condenou as práticas antissindicais da Petrobrás e sua aliança com o judiciário para barrar as greves e mobilizações da categoria, colocando ainda mais em risco os trabalhadores para tentar garantir a produção a qualquer custo. Ele repudiou as punições aos trabalhadores que fizeram a Greve pela Vida, na Bacia de Campos, no último dia 22 de agosto, e os ataques da empresa, mentindo ao judiciário para impedir o movimento. Em tom emocionado, José Maria leu para todos os diretores e gerentes a carta que o Sindipetro-NF enviou ao presidente José Sérgio Gabrielli, denunciando que a Petrobrás tem fracassado em seu maior desafio: crescer e produzir respeitando a vida humana.
Mundo Virtual: o SMS-maravilha
 
 
A Petrobrás se ufana de sua política de SMS e afirma para a imprensa, os acionistas, gerentes e trabalhadores que “adota rígidos padrões de segurança e exige isso das empresas que prestam serviço”. No Fórum desta terça-feira, o gerente executivo de SMS da Petrobrás, Ricardo Azevedo, apresentou o que considera “evolução” da política de gestão de Saúde, Meio Ambiente e Segurança desde 1997, destacando a revisão dos sistemas, ocorrida no ano passado para que as diretrizes de SMS sejam colocadas em prática e não “restritas ao papel” A realidade é bem outra.
Mundo Real: mortes e dor
 
 
Desde 1995, os petroleiros já choraram a morte de mais de 300 companheiros e incontáveis mutilações e adoecimentos. Acidentes que são acompanhados e precedidos por inúmeros incidentes e quase tragédias, cotidianamente relatados e denunciados pela FUP e seus sindicatos.
“Quantos trabalhadores a mais precisarão morrer para garantir os índices de crescimento da Petrobrás e a produção do pré-sal a qualquer custo?”, questionou o diretor da FUP, Simão Zanardi Filho. “É preciso responsabilizar os gestores por estas mortes. Estamos à beira de um grande desastre industrial na empresa, se não houver uma mudança de rumo no SMS”, frisou.
Márcio Dias, coordenador do Sindipetro-RN, criticou a “terceirização selvagem, sem respeito à dignidade humana” e a gestão autoritária e antidemocrática da Petrobrás. Deyvid Bacelar, diretor do Sindipetro Bahia, desmistificou os índices de acidentes apresentados pela Petrobrás, destacando que a empresa tem que valorizar o SMS, como estratégico na gestão, ouvindo sempre os trabalhadores.
Os trabalhadores têm propostas e devem ser ouvidos
O coordenador da FUP, João Antônio de Moraes, apresentou as principais propostas da categoria para uma nova política de SMS, onde a garantia da vida seja prioridade absoluta dos gestores da Petrobrás. Ele ressaltou a necessidade dos trabalhadores serem sempre ouvidos e partícipes das mudanças propostas. “Na Noruega, os índices de acidentes fatais são baixíssimos, porque há participação dos trabalhadores na gestão de SMS da Statoil (empresa estatal de petróleo), bem como o registro de todos os tipos de acidentes e incidentes. Na Petrobrás é o inverso, há uma verdadeira máquina de subnotificação de acidentes”, destacou Moraes.
Presidente da Petrobrás condena subnotificação, mas ressuscita “ato inseguro”
 
 
Em sua falação, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, concordou com algumas propostas da FUP relacionadas à realização de um grupo paritário para discutir conjuntamente uma nova política de SMS, o fortalecimento das CIPAs e o combate às subnotificações de acidentes. “Subnotificação é inadmissível. Essa não é a orientação da empresa. Vamos fazer uma auditoria nos procedimentos de notificação dos acidentes com e sem afastamento. Se houver, tem que ser motivo de justa causa”, declarou. Por outro lado, o presidente da Petrobrás ressuscitou a velha e condenada lógica da gestão neoliberal: o ato inseguro. “A cultura de segurança industrial deve ser preventiva e não punitiva, por isso é preciso maior disciplina operacional”, declarou o presidente, refletindo a opinião e as práticas dos gestores da Petrobrás, que acreditam que a culpa dos acidentes é do trabalhador.
O coordenador da FUP encerrou o Fórum, frisando que os responsáveis pelas mortes e acidentes de trabalho no Sistema Petrobrás são os gestores da empresa. “Por trás da morte de cada um dos mais de 300 trabalhadores está a disputa clara entre o capital e o trabalho. Nenhum trabalhador busca a morte. Os acidentes são resultado direto da forma como os gestores da Petrobrás administram a empresa. A participação dos trabalhadores na construção de uma nova política de SMS é fundamental para alterar essa realidade”, ressaltou João Antônio de Moraes.
Propostas da FUP para uma nova política de SMS
  •  Formação de uma Comissão Paritária entre a FUP e os gestores da Petrobrás para fazer um diagnóstico e propor soluções conjuntas para uma nova política de SMS, com uma nova reunião do Fórum para avaliação.
  •     Fortalecimento das CIPAs, com eleição de todos os integrantes, com mandato de dois anos e liberação dos trabalhadores.
  •  Primeirização de todos os postos de trabalho das áreas de saúde e segurança.
  •  Aprofundar os estudos de efetivos em todas as unidades estabelecendo negociações sobre a questão, conforme cláusula 82 do ACT 2009/2011.
  • Combate ferrenho a todas as formas de subnotificação de acidentes, com fim das metas corporativas baseadas em taxas de acidentes com afastamento.
  •     Incentivar o registro de todos os acidentes, através de campanhas para todos os trabalhadores.
  •     Notificar aos sindicatos todos os acidentes ocorridos na empresa.
  •        Divulgação e incentivo para os trabalhadores exercerem o Direito de Recusa.
  •      Rever a política de formação em SMS do Sistema Petrobrás para trabalhadores próprios e terceirizados, com participação da FUP e dos Sindicatos.