Alessandra Murteira / Da Imprensa da FUP
Sem configuração alguma de crime de responsabilidade, a Câmara dos Deputados Federais aprovou por 367 votos o pedido de impeachment da presidente Dilma Roussef. Foi um show de horrores protagonizado por parlamentares que envergonham o povo brasileiro.
O golpe, comandado por uma conspiração do vice-presidente da República Michel Temer e do presidente da Câmara e réu, Eduardo Cunha, começou a ser gestado no dia seguinte à derrota do PSDB na eleição de 2014.
A Globo e demais órgãos da imprensa comercial participaram ativamente da articulação do impeachment, estimulando o ódio de classe que dividiu o país e contaminou parte significativa da população.
Federações e confederações de indústrias, comércio, bancos e agronegócio passaram a defender abertamente a derrubada da presidente da República, com campanhas milionárias e patrocínios de movimentos golpistas, alguns deles de cunho claramente fascista.
Há denúncias de que vários deputados que votaram a favor do impeachment viajaram a Brasília em jatinhos particulares bancados por empresários.
A desmoralização das instituições que deveriam zelar pela democracia foi sacramentada neste domingo, 17 de abril de 2016.
Enquanto milhares de brasileiros diziam não ao golpe, moralistas sem moral declaravam seus votos a favor do impeachment, evocando Deus e suas famílias, criminalizando os movimentos sociais, vaiando e desqualificando os parlamentares de esquerda, acusando a presidente Dilma de crimes inimagináveis, num espetáculo dantesco, que indignou a nação brasileira.
Eduardo Cunha, réu de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, anunciou seu voto pelo impeachment pedindo que “Deus tenha misericórdia da Nação”. Um escárnio.
Jair Bolsonaro enalteceu Cunha e dedicou ao ex-chefe do DOI-Codi, órgão de repressão da ditatura militar, o torturador Carlos Alberto Ustra, seu voto a favor do impeachment.
Parecia a reedição da velha TFP (Tradição, Família e Propriedade), corrente católica de ultra-direita que defendeu o golpe em 1964.
A sociedade organizada, que levantou-se contra o golpe, divulgando manifestos, fazendo debates em defesa da democracia e ocupando por dias a fio as ruas e praças do país com atividades culturais, atos políticos e manifestações, continuará mobilizada. Não só para barrar o impeachment no Senado, como para impedir o desmonte de direitos que virá no rastro do golpe.
Impeachment segue para o Senado
Nesta segunda-feira, 18, o pedido de impeachment será enviado ao Senado e no dia seguinte lido no plenário da Casa. Ainda na terça-feira, 19, os líderes partidários deverão indicar os 42 parlamentares que irão compor a comissão que analisará o assunto, com 21 titulares e 21 suplentes. A comissão do Senado tem prazo de 48 horas para eleger o presidente e o relator. Por causa do feriado de 21 de abril, na quinta-feira, isso deverá ocorrer somente na próxima segunda-feira, 25.