Era maio de 95, o Brasil vivia um governo neoliberal que queria implementar um programa de privatizações e mantinha os servidores públicos sem reajuste. O governo de FHC (PSDB) havia enviado ao Congresso um projeto de emenda constitucional para acabar com o monopólio da Petrobrás sobre a exploração e produção de petróleo.
No dia 3 a categoria petroleira aderiu à greve geral que acontecia no país. Naquele dia iniciou o maior movimento paredista da história da categoria petroleira. Uma greve que durou 32 dias e que enfrentou a repressão do governo, que colocou tanques do exército nas principais refinarias.
A entrada na greve também foi motivada pelas demissões de petroleiros exigindo o cumprimento de acordos pactuados em 1994.
A frase dita pelo coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Antônio Carlos Spis, “Se mexerem com um petroleiro será como se tivessem mexido com todos”, entrou para a memória da categoria petroleira e é repetida até hoje.
“No início a categoria não estava totalmente coesa e os companheiros tiveram que voltar para a base e convencer a categoria” – disse Spis.
“Ninguém acreditava que o movimento iria tomar o tamanho que acabou tendo. Não queriam concluir a greve, porque os petroleiros acreditavam ter sido agredidos em sua dignidade”.
Ele lembrou do enfrentamento com os militares e os ataques sofridos pela imprensa. “Nada ameaçou o movimento, não vacilamos em nenhum momento” – comentou. Quando ameaçaram demitir os líderes da greve, o departamento jurídico preparou um documento de demissão coletiva dos 40 mil petroleiros.
Na Bacia de Campos
Durante um Congresso da categoria, o diretor Luiz Carlos Mendonça, Meio Kilo, fez um resgate da greve de 95. “A greve de 95 aconteceu para fazer cumprir um Acordo Coletivo de 94, assinado por um ministro de estado. Falar dessa greve é falar de uma luta que alguns companheiros que estão aqui fizeram. Foram 32 dias, sendo que 21 deles foram descumprindo ordem judicial de voltar ao trabalho com assinatura de demissão em massa. Ali nos sentimos novamente operários, sem salário, tendo que pegar cesta básica no sindicato e pagar multa diária de 100 mil”- explicou.
Mendonça lembrou dos companheiros da direção que fizeram parte da direção na época e que eram obrigados a ficar praticamente na clandestinidade porque existia uma ordem judicial para prendê-los. “Naquela greve enfrentamos a família diariamente para fazer essa greve. Nós estávamos no local de trabalho, quando o governo colocou a tropa nas refinarias”
Ele conta que durante a greve de 95, acamparam em Cabiúnas, o heliponto das plataformas foi ocupado pelos trabalhadores com tambores e que para não haver embarque de pelegos por Imbetiba, colocavam carniça para atrair os urubus. A sede do sindicato era um prédio velho, onde os diretores dormiam e dividiam o espaço com os funcionários.
“Ficamos 32 dias, sem salário e com carta de demissão. Nossa doçura tem limite! Ligavam para nossa família e ameaçavam. Muitos de nós não resistiram. O Sindicato dos Bancários emprestou 5 mil reais que foi dividido por diretores e funcionários. Chegamos a fazer uma assembleia com a categoria para reduzir o valor do desconto e fundar uma associação de trabalhadores para ter uma arrecadação paralela” – contou.
Para Luiz Carlos existe uma dívida social que o movimento sindical tem com os trabalhadores terceirizados, que é a conquista do 14 por 21 para todos. “O Sindipetro-NF tem que ser precursor dessa luta e ocupar Brasília para garantir essa conquista” – concluiu Mendonça.
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