Greve petroleira: categoria assombra governo

Do Boletim Nascente – Após avaliação conjunta com os sindicatos, a FUP indicou ontem a suspensão da greve na Petrobrás e a continuidade das ações solidárias que os petroleiros estão realizando desde a segunda, 25, para denunciar as demissões em massa e o aumento da insegurança. No Norte Fluminense, os dois dias de greve foram marcados por forte mobilização da categoria e por grande presença em espaços públicos, com trancaço em Cabiúnas, ato no Heliporto do Farol de São Thomé e Doação de Sangue. Ontem, mesmo com a greve encerrada, houve venda de gás a preço justo para a população em Campos dos Goytacazes e há previsão de continuidade das ações solidárias e intervenções públicas.

Hoje, às 17h, acontece audiência pública na Câmara de Vereadores de Macaé, na Câmara Velha (Museu do Legislativo, av. Rui Barbosa, 361, Centro), com o tema “Petrobras e os impactos da privatização nos empregos e na segurança”, promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de Macaé, por solicitação do Sindipetro-NF.

A ação da venda de gás serviu para mostrar à população qual poderia ser o valor de venda do gás de cozinha — e também de outros combustíveis — se o governo Brasileiro utilizasse a Petrobrás para promover justiça social, e não para atender a interesses internacionais.

Luta continua

Para a FUP e os sindicatos, após essa grande demonstração de força da categoria petroleira, mesmo enfrentando reação antissindical e reacionária da gestão bolsonarista da Petrobrás e do ministro Ives Gandra, do TST (Tribunal Superior Eleitoral) — que considerou a greve ilegal antes mesmo de ser realizada, baseado em premissas equivocadas, e arbitrou multas milionárias impagáveis aos sindicatos —, a greve foi muito importante na sequência de uma luta que precisa continuar.

“A resistência à privatização deve ser daqui pra frente a pauta principal dos trabalhadores do Sistema Petrobrás. A mobilização desta semana apontou o caminho. A FUP e seus sindicatos começam agora a construção de uma nova greve. A Petrobrás é do povo brasileiro e cabe a nós, os trabalhadores da empresa, chamar à luta a sociedade organizada, para que juntos possamos defender esse patrimônio que é de todos nós”, afirmou o coordenador geral da FUP, José Maria Rangel.

A reação à greve dos petroleiros trouxe momentos de histeria do governo, que busca acirrar conflitos sociais para manter o seu projeto fascista — para o qual é indispensável a construção de inimigos imaginários. Na segunda, 25, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a afirmar que demitiria os grevistas se fosse o presidente da Petrobrás, demonstrando desconhecer tanto a legislação trabalhista e de greve — mesmo a que sobrou após tantos ataques — quanto a realidade da Petrobrás. Na mesma entrevista o mesmo ministro defendeu a volta da adoção do AI-5, Ato Institucional que fechou o Congresso e agravou o horror da ditadura, demonstrando o verdadeiro espírito autoritário dos liberais brasileiros.

HELIPORTO DO FAROL – Coordenador do NF, Tezeu Bezerra, informa a categoria sobre os passos do movimento, orienta o atraso nos embarques, a relação com o forte aparato de policiamento e conscientiza sobre o direito que todos têm de protestar contra o descumprimento de cláusulas do Acordo Coletivo. Os trabalhadores permaneceram juntos, em sintonia com o sindicato.

CRIMINALIZAÇÃO – Forte aparato policial que foi enviado para o Heliporto do Farol, durante o ato da terça, 26. Estado brasileiro continua a ver o trabalhador como inimigo, desconhecendo o direito de organização, protesto e greve. Como era previsto pelos petroleiros, a mobilização foi tranquila. As viaturas e os policiais poderiam ser destinados a locais de maior necessidade na região.

CABIÚNAS – Logo no primeiro dia da greve, a categoria realizou um trancaço em todas as entradas do terminal de Cabiúnas, em Macaé. Das primeiras horas da manhã até às 9h os trabalhadores permaneceram mobilizados nos portões, em protesto contra o descumprimento do ACT, os assédios e o desmonte da companhia. O protesto também enfrentou a tentativa da polícia de desmobilizar a categoria.

HEMOCENTRO – Grupo de petroleiros foi recebido na terça, 26, para doar sangue no Hemocentro de Campos dos Goytacazes. A atitude solidária foi repetida em vários pontos do país e estimulada pela FUP e sindicatos. Categoria, que dá o sangue pela Petrobrás, mostrou que também pode doar a quem precisa.

GÁS A R$ 30 – Uma das mais emocionantes ações da categoria petroleira da região nesta semana foi a venda de 200 botijões de gás de cozinha ao preço justo de R$ 30. A diferença para o preço cobrado no mercado pela distribuidora foi subsidiado pelo sindicato. Desde o início da madrugada uma fila se formou na praça São Benedito, em Goitacazes, distrito de Campos dos Goytacazes, mostrando a grande demanda social que poderia ser atendida por uma Petrobrás gerida para atender ao povo e não aos interesses internacionais. Mesmo com toda a procura, a venda ocorreu em ordem e foi muito elogiada pela comunidade.

 

[Fotos: Luciana Fonseca e Eduardo Hypólito]