Grito dos Excluídos em Campos é marcado por repressão policial e tentativa de silenciamento

O Grito dos Excluídos, em Campos dos Goytacazes, foi marcado por forte repressão dos agentes da Guarda Civil Municipal e da Polícia Militar. Por volta das 10h, um desfile pacífico organizado pelo Sindicato dos Bancários de Campos e região foi impedido de entrar na avenida do Cepop (Centro de Eventos Populares Osório Peixoto), onde ocorriam as atividades do Sete de Setembro. O presidente da entidade, Rafanele Alves precisou enfaixar o braço após ser segurado com violência por um guarda.

Presidente do Sindicato dos Bancários, Rafanele Alves, tem o braço enfaixado após ser agredido por guarda municipal

“Nós fomos tratados como bandidos, quando só estamos aqui para defender a democracia e os direitos dos trabalhadores. Eu fui agredido, outros colegas também, e proibidos de entrar sob a desculpa de que estávamos fazendo política, quando todo mundo está fazendo política lá dentro”, desabafa Rafanele.

O Sindipetro-NF também participou do Grito dos Excluídos no município. Diretores e militantes de base se concentraram na avenida Alberto Lamego, próximo ao local do evento, e interditaram o trânsito em vários momentos, estendendo faixas e erguendo cartazes para conscientizar os motoristas sobre as pautas dos movimentos sindical e social no Grito dos Excluídos.

Entre as principais reivindicações manifestadas no protesto estiveram a defesa da soberania nacional, contra a anistia aos golpistas do 8 de Janeiro, pelo fim da escala 6×1, pela isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, pela taxação dos super-ricos e a denúncia do massacre ao povo palestino.

“A gente comemora a nossa independência, o momento em que o Brasil deixou de ser uma colônia. E agora, principalmente com esses ataques contra o Brasil, é importante manter essa luta pela soberania, é importante manter a luta pelos direitos dos trabalhadores, e é importante também manter a luta para que todos os brasileiros sejam incluídos, que essa independência valha para todo mundo”, explica o coordenador geral do Sindipetro-NF, Sérgio Borges.

Coordenador do Sindipetro-NF, Sérgio Borges (de jaleco laranja), no momento em que se tentava um acordo para os manifestantes entrarem no desfile

“Então o que a gente está fazendo aqui é uma manifestação para chamar a importância dessa luta, que é muito além do 7 de setembro. Óbvio, passa pela defesa da soberania, mas também passa por incluir cada vez mais o povo brasileiro. Teve uma confusão, porque a organização não quer a faixa “sem anistia” aqui no ato, mas o pessoal nosso ainda está negociando aqui para ver como é que vai fazer. O importante é a gente desfilar, colocar nossa voz, fazer nosso protesto, lutar pela soberania brasileira, defender o Brasil, porque de fato o patriota é aquele que defende emprego e investimento aqui no Brasil e dar o recado para todo mundo. Não vai ter independência enquanto todo povo brasileiro não for independente de fato”, disse o coordenador da entidade, que também foi representada no protesto pelos diretores Luiz Carlos Mendonça (Meio Quilo) e Tezeu Bezerra.

Brasil soberano

Diretora do Sepe (Sindicato dos Profissionais em Educação), Odisseia Carvalho também registrou as suas impressões sobre as mobilizações de hoje: “esse dia é muito importante porque a gente está lutando pelo nosso Brasil soberano. A nossa luta é contra a escala 6×1, para que as pessoas que ganhem acima de 5 mil reais não seja cobrado o imposto de renda e aí a proporcionalidade. Também a questão da saúde, da água, do saneamento, importantíssimo para a vida dos cidadãos e cidadãs, mas principalmente a gente está lutando para que não haja anistia no nosso país para os golpistas”.

A sindicalista destaca ainda a gravidade das ações golpistas, que não podem ser aceitas pelos democratas e verdadeiros patriotas. “Nós tivemos aí um ato não só do 8 de janeiro, que foi um golpe, como também uma previsão de assassinato, não só do nosso presidente Lula, como de figuras importantes que defendem a nossa Constituição e defendem a democracia no nosso país. Então nós somos a favor da soberania nacional e da democracia”, afirma.

Mais repressão

Ao final do desfile, próximo às 14h, após o governo municipal ter fechado os portões do Cepop e mantido grande aparato policial para conter os militantes do Grito dos Excluídos, houve mais empurra-empurra e repressão. Apenas após a última escola do desfile ter tomado muita distância na avenida e o público nas arquibancadas ter se dispersado, a organização reabriu o portão e permitiu o acesso dos manifestantes, mas sempre contidos pela polícia.

O Sindipetro-NF manifesta seu repúdio ao comportamento repressor do governo municipal, que não garantiu a expressão dos movimentos sociais mesmo após negociações para que os manifestantes não levassem faixas ou gritassem palavras de ordem com referências políticas diretas aos golpistas do 8 de janeiro, como o “sem anistia”.

Mesmo muito reprimido, o protesto aconteceu. Além de ter feito a ação de bloqueio da Avenida Alberto Lamego por alguns momentos, a militância se concentrou na entrada do Cepop e foram vistos pelos integrantes das escolas e demais instituições que entravam para desfilar, levando o recado dos movimentos sindical e social para a população.

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[Fotos: Luciana Fonseca / Juliana Maciel e Vitor Menezes]