Impacto da Covid-19 na Petrobrás foi maior do que na média da população brasileira

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Os impactos da Covid-19 foram proporcionalmente mais fortes no Brasil do que na grande maioria dos países e, na Petrobrás, o impacto foi maior do que o da média da população brasileira. Estes são os principais apontamentos de apresentação feita em mesa de debate, nesta manhã, durante o 18º Congresso dos Petroleiros e Petroleiras do Norte Fluminense. O evento está sendo realizado de modo híbrido, no Teatro do Sindipetro-NF, em Macaé, e por meio de interação pelo Youtube, Facebook e plataforma Zoom.

De acordo com o técnico do Dieese-NF, o economista Carlos Takashi, o mundo registrou, entre 28 de janeiro de 2020 e 12 de abril de 2022, cerca de meio bilhão de casos de Covid-19, que resultaram em mais de 6 milhões de mortes. Estudos apontam que a pandemia está entre as cinco mais mortais da história da humanidade.

No Brasil, foram 30 milhões de casos, com 661 mil mortes, o que coloca o país na condição de 3º maior em número de casos e 2º maior em casos de óbitos, mesmo sendo a 6ª maior população do planeta. O economista associa este desempenho trágico do país ao negacionismo do governo federal em relação à pandemia.

Impactos entre petroleiros

Embora os dados da Petrobrás não sejam transparentes em relação à Covid-19, foi possível identificar que a categoria petroleira ficou mais vulnerável do que a média da população brasileira. Até dezembro de 2021, foram 8.462 casos na empresa, de acordo com o Ministério das Minas e Energia, o que representa 21% da força de trabalho da companhia. Na população geral, o número de casos representou 14%.

Nas mortes, no entanto, o impacto foi menor, o que pode ser atribuído ao melhor acesso a atendimento à saúde desfrutado pela categoria petroleira, em comparação com a população em geral. Também até dezembro de 2021, e apenas considerando empregados da Petrobrás, 59 trabalhadores morreram em decorrência da Covid-19.

Outro indicador do impacto da Covid-19 sobre os petroleiros é o de atendimentos do Departamento de Saúde do Sindipetro-NF. Os casos representaram 72% de todos os atendimentos nos últimos dois anos, quando, apenas na Bacia de Campos, morreram 34 trabalhadores em decorrência da doença — neste caso incluindo próprios, terceirizados e aposentados.

Para o médico do trabalho que presta assessoria ao Sindipetro-NF, Ricardo Duarte, a Covid-19 reforçou o modo como a saúde ocupacional é vista pelas empresas. “Desde a Revolução Industrial, a lógica histórica das normas é não prejudicar a produção. As empresas aceitam discutir saúde ocupacional sob o prisma da produção. A Petrobrás, por exemplo, criou um bando de normas que os trabalhadores nem conheciam. Foi preciso que o sindicato entrasse na justiça para conhecer”, afirma o médico.

Duarte defende que a única maneira de mudar essa lógica é com a participação dos trabalhadores nos fóruns de discussão da saúde, como os conselhos municipais. “Não cai do céu. As conquistas não são dadas”, destaca.

Temor entre trabalhadores e covardia das empresas

A mesa com o economista Carlos Takashi e o médico Ricardo Duarte foi moderada pela diretora do Sindipetro-NF, Jancileide Morgado, e pelo também diretor Alexandre Vieira, que coordena o Departamento de Saúde da entidade.

Jancileide chamou a atenção para o fato de que, além de pouco transparentes, os números sobre os impactos da Covid-19 no setor petróleo tendem a não refletir a realidade por inteiro. Ela lembra que houve grande apreensão entre os trabalhadores, que tiveram medo de demissões e perseguições, e foi comum a ausência de relatos sobre os casos.

Vieira também chamou a atenção para este aspecto, lembrando que a Petrobrás aproveitou a instabilidade do momento para submeter trabalhadores a condições ainda mais cruéis, como o embarque de 21 dias. Ele mostrou que diversas normas e cláusulas do Acordo Coletivo foram sistematicamente desrespeitadas pela companhia, assim como não foi implementado o protocolo de prevenção desenvolvido pelo sindicato, com aprovação da Fiocruz. “É uma covardia o que a empresa tem feito. Certamente o número de casos e mortes poderia ser menor no setor petróleo”, afirma o sindicalista.

[Fotos: Rui Porto Filho / Para Imprensa do NF]