Mariana Pitasse / Do Brasil de Fato – Centenas de pessoas estiveram reunidas neste sábado (15) para a inauguração do Armazém do Campo no Rio de Janeiro. Localizado em um casarão tradicional, no bairro da Lapa, na região central da cidade, o espaço de comercialização organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vende produtos de assentamentos da reforma agrária, cultivados por pequenos agricultores ou produzidos por empresas parceiras, de forma orgânica e agroecológica.
A festa de inauguração teve programação durante todo o dia. A principal delas foi o almoço, no cardápio: arroz carreteiro feito pelo dirigente do MST, João Pedro Stedile. A receita foi ensinada pelo seu avô, um carreteiro que fazia o trecho Antônio Prado (RS) até Sorocaba (SP) transportando carnes e mercadorias. O prato foi sucesso de público, que lotou o espaço para esperar as diversas paneladas servidas no início da tarde.
“Minha tarefa na inauguração foi preparar o almoço. Trouxe essa receita que no Rio Grande do Sul é tradicional. Nosso almoço é uma forma de confraternização com todos que vieram. A esquerda tem que recuperar formas mais alegres e culturais de fazer política. O povo quer música, teatro, trabalho, comida, renda. E para colocar em prática essa visão de fazer política estamos inaugurando essa unidade do Armazém no Rio com muita alegria”, explica João Pedro Stedile.
Durante a inauguração, as prateleiras lotadas colocaram em evidência a diversidade da produção do MST e empresas parceiras. Entre as opções, legumes, frutas e verduras frescas até mel, leite, arroz, feijão e achocolatados. Já as paredes exibiram pinturas de artistas populares para lembrar que além da comercialização de produtos da reforma agrária, o Armazém do Campo também é espaço de promoção cultural.
“Essa loja é fruto da luta pela terra que o MST faz. Com ela, os trabalhadores urbanos tem contato a produção, feita a partir da luta no campo. O Armazém cumpre o objetivo de proporcionar o acesso à produção dos assentamentos da reforma agrária, também de fazer o diálogo em torno da alimentação saudável, além de ser espaço das manifestações culturais. Com as diversas atrações que teremos, as pessoas podem se encontrar aqui e ocupar esse ambiente. É uma loja de nós trabalhadores. Queremos que seja construída no dia a dia”, acrescentou Ademar Paulo Ludwig Suptitz, coordenador do Armazém do Campo.
A loja do Rio de Janeiro é a terceira da rede do Armazém do Campo, que já tem unidades em São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. Na avaliação da pesquisadora Maureen Santos, coordenadora de projetos socioambientais da Fundação Henrich Böll Brasil, o Armazém do Campo mostra a potência da agroecologia e da agricultura familiar e camponesa.
“Para mim é um grande prazer presenciar a abertura dessa loja. Que a gente possa estar cada vez mais fortalecendo espaços de resistência como esse que traz comida de verdade para a população, fortalece os laços entre produtor e consumidor e mostra que a agroecologia é, sim, um modelo que a gente quer para o futuro”, afirmou.
Já a assistente social Renata Oliveira dos Santos conta que a movimentação no número 135 da avenida Mem de Sá chamou a sua atenção para entrar na loja e conhecer um pouco mais sobre o Armazém do Campo. “Fiquei muito feliz quando soube que agora a gente tem um espaço de venda de alimentos da agricultura familiar, sem agrotóxicos, vindos dos assentamentos. Um lugar acessível. Entrei aqui, comprei um suco, com mesmo preço do mercado e encontrei outros produtos mais baratos que na feira”, contou.
Marielle presente
A festa de inauguração teve início com um ato político, que aconteceu a partir das 11h da manhã. Entre os convidados estiveram diversos representantes de movimentos, partidos e organizações populares, como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a Consulta Popular, o Levante Popular da Juventude, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Federação Única dos Petroleiros (FUP), Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindpetro-NF), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), o Movimento Humanos Direitos (MHUD), o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o Partido Socialismo e Liberdade (PSol), o Partido dos Trabalhadores (PT), o Sindicato dos Engenheiros (Senge) e a Frente Brasil Popular.
Em meio às falas sobre a importância política da inauguração do Armazém do Campo, foram relembradas a memória e a luta da vereadora Marielle Franco (PSol), assassinada em março deste ano. O crime, que tirou sua vida e do motorista Anderson Gomes, completou seis meses na última sexta-feira (14) e ainda aguarda resolução.
Durante o ato, a mãe de Marielle, Marinete Silva, agradeceu publicamente que o nome de sua filha estava sendo lembrado com carinho e bravura. “Estamos vendo aqui hoje que é possível fazer uma política séria igual a que a Marielle fazia”, acrescentou.
Serviço
O Armazém do Campo no Rio de Janeiro fica na rua Mem de Sá, 135, na Lapa. O horário de funcionamento é de segunda a sábado, das 9h às 19h. Mais informações na página do Facebook Armazém do Campo RJ e pelo Instagram @armazemdocampo.rio.
[Foto: Durante a inauguração, as prateleiras lotadas colocaram em evidência a diversidade da produção do MST / Pablo Vergara]