Com o tema “Política, sociedade e inclusão: o desafio de mobilizar a classe trabalhadora em um ambiente de pluralidade identitária”, a mesa 3 do 21º Congrenf promoveu um dos debates mais instigantes do congresso. A mediação foi conduzida pela diretora do Sindipetro-NF, Bárbara Bezerra, e teve como convidadas a professora doutora Márcia Regina da Silva Ramos Carneiro (UFF Campos) e a professora Áurea Yuki Sugai, diretora do Instituto Federal Fluminense em Macaé.
A proposta da mesa foi discutir como a diversidade e as pautas identitárias se inserem nas lutas sociais e sindicais, sem perder de vista a centralidade da luta de classes. Bárbara abriu os trabalhos com uma reflexão contundente: “Quando colocam um tema como pauta identitária, tentam reduzir o debate. Dividem as pessoas em grupos e fazem a exclusão de forma mais precisa”, alertou.
O coordenador do Sindipetro-NF, Sergio Borges, reforçou a necessidade de união entre as lutas sociais. Em referência a história contada por Normando Rodrigues, ocorrido na véspera, lembrou que “todos os trabalhadores são as babás apanhando diariamente”. Segundo Sergio, “o maior desafio é debater entendendo que temos nossas particularidades, mas sem desprezar a luta de classes que envolve todas as pessoas. As pautas identitárias têm que nos unir e potencializar nossa força”- disse.
A professora Áurea Yuki trouxe à tona os desafios da inclusão na indústria do petróleo. Ela destacou como ainda é difícil incluir pessoas com deficiência, mulheres e outros grupos historicamente marginalizados. “Foi uma conversa muito enriquecedora. Coloco o IFF à disposição para estreitar os laços, porque essa pauta é muito importante para nós também”, afirmou.
Em uma fala densa e crítica, a professora Márcia Carneiro abordou a origem eurocêntrica das relações de trabalho no Brasil e os riscos do crescimento da extrema direita no país. “O Brasil não vive um fascismo institucionalizado, mas convive com atitudes e discursos autoritários — muitas vezes inspirados ou associados ao fascismo histórico — que precisam ser analisados com precisão conceitual e rigor histórico”, explicou.
Márcia destacou ainda a importância de diferenciar manifestações autoritárias de manifestações fascistas. “É preciso cuidado com o uso indiscriminado do termo ‘fascismo’. Precisamos compreender o que caracteriza o fascismo historicamente e o que são apenas atitudes fascistas”. Segundo ela, a nova direita brasileira se articula com redes internacionais de extrema direita e neonazismo, fenômeno que se espalha pelo país e exige resposta firme da sociedade e do Estado.
A mesa também promoveu reflexões profundas sobre o papel das tecnologias e as novas formas de dominação no mundo do trabalho. Bárbara alertou que, mesmo com o avanço tecnológico, o pensamento capitalista segue desenvolvendo formas mais sofisticadas de controle sobre os trabalhadores. Ela também criticou culturas arraigadas como o machismo, o racismo e a ideia de que todo trabalhador tem que sofrer para merecer dignidade, o que, segundo ela, reforça a submissão da classe trabalhadora.
A professora Márcia fez um convite à reflexão: – onde está o fascismo em cada um de nós? Como podemos romper com as estruturas de opressão e construir um mundo melhor a partir da inclusão, da educação e da transformação das relações humanas?”
O debate reafirmou a importância de integrar pautas identitárias às lutas estruturais, enxergando a diversidade como força agregadora na construção de uma sociedade mais justa, democrática e igualitária.