Incra de Bolsonaro quer despejar Centro de Formação Paulo Freire, em Pernambuco

Petroleiros realizaram seu IV Plenafup em 2013 neste Centro de Formação criado há 20 anos pelo MST

Da Imprensa da CUT – Em um país que sofre com a escassez de recursos para a educação, um juiz da 24ª Vara Federal de Caruaru autorizou o despejo do Centro de Formação Paulo Freire. Localizado na cidade de Caruaru, em Pernambuco, o centro foi fundado há mais de 20 anos, em 1998, tão logo foi criado o Assentamento Normandia, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Em nota, o MST manifestou repúdio à tentativa de despejo solicitada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e aceito pelo juiz que determinou a imediata reintegração de posse, inclusive com uso de força policial. E pede ajuda na luta contra a reintegração do Centro que é hoje um patrimônio educacional do estado do Pernambuco.

”Caso não haja a desocupação espontânea do executado no prazo concedido, expeça-se mandado de reintegração na posse, ficando desde já autorizado: a) o uso de força policial, b) o arrombamento, se necessário, c) condução coercitiva do executado para a DPF, em caso de resistência, d) a remoção dos bens móveis que estejam no imóvel e) remoção dos animais para o “Curral de Gado” do Município de Caruaru/PE, ficando desde já autorizada a doação ou o abate desses semoventes”, afirma o juiz na sentença.

Incra orientou criação do centro
Foi a equipe técnica do próprio Incra que, em 1998, orientou que a sede do assentamento Normandia fosse utilizada de forma coletiva para a capacitação e formação dos assentados do estado.

Assim, informa o MST, logo após a criação do assentamento e em comum acordo com o Instituto, a cooperativa dos assentados repassou a casa sede e mais 14 hectares para criação de um espaço de formação e capacitação dos assentados. “Ainda no ano 1999 foi criado oficialmente o Centro de Formação Paulo Freire, desde então, existe todo um processo que é feito na tentativa de legalizar a área”, explica nota do Movimento.

“No ano de 1999 foram construídos um auditório, e alguns alojamentos. Hoje, a casa sede tem capacidade para abrigar cerca de 240 pessoas, já o auditório comporta uma média de 800 pessoas. Além disso, o espaço conta com cozinha, refeitório, telecentro, Casa da Juventude, Academia das Cidades, criada em parceria com o governo do Estado, Academia do Campo, uma quadra esportiva e, recentemente uma Ciranda Infantil (creche), que foi construída em parceria com a FUP (Federação Unificada dos Petroleiros).”

O espaço conta, ainda, com três agroindústrias que pertencem à cooperativa agropecuária de Normandia: de beneficiamento de carne; raízes e tubérculos: e a de pães e bolos.

Parceria com universidades

Além de atender os assentados de todo o estado, o Centro de Formação tem parcerias na área da educação com a prefeitura de Caruaru para a realização de duas turmas de ensino fundamental. E com o governo estadual para a realização do curso Pé no Chão, com base em vivências e práticas em agroecologia.

O MST ressalta, ainda, parcerias com diversas universidades como a UFPE, UPE, IFPE, Fiocruz, UFRPE, UAG, IPA, e, mais recentemente, o curso de geografia com UPE.

“Realizamos também o primeiro curso popular de veterinária em parceria UFRPE. No espaço tem sido desenvolvida a formação de professores das escolas dos assentamentos e do Programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA), onde já reunimos mais de dois mil professores; curso de especialização em Promoção e Vigilância em Saúde Ambiente e Trabalho, com a Escola de Governo de Brasília/Fiocruz-BSB; especialização em Educação na Saúde com ênfase na formação de preceptores de Residência Multiprofissionais em Saúde, com o Instituto; Residência Multiprofissional em Saúde da Família com ênfase em saúde da população do campo, com a UPE; especialização em Educação do Campo em parceria, com a UPE; entre tantos outros cursos e atividades realizadas nesse espaço de formação que o INCRA quer destruir”, diz a nota. “Como visto, o Centro de Formação Paulo Freire tem parcerias com quase todas as instituições estatais existentes que direta ou indiretamente realizam atividades apropriando-se das estruturas do local.”

O MST afirma que não há razão nenhuma para o Incra pedir a reintegração de posse, “a não ser a motivação ideológica de tentar impor ao MST uma derrota no estado de Pernambuco”. E informa que o Movimento busca todas as formas possíveis para impedir que “essa insanidade” aconteça.

“A destruição de toda essa estrutura será um retrocesso enorme não só para o Sem Terra, mas para toda a população de Pernambuco. Diante da tragédia que se anuncia, convocamos todas e todos para nos ajudar a salvar o Centro de Formação Paulo Freire”, finaliza a nota.