IV Plenafup: Aprendizado até em votação com caneca crachá

Reunidos desde a quinta, 6, em um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), delegados da IV Plenária Nacional da Fup estão passando por uma experiência que não se limita ao debate de ideias e propostas. O local do evento, que continua até este domingo, 9, está fazendo diferença. 

A vida rústica de um assentamento, o convívio com os produtores rurais, os alojamentos e banheiros coletivos, a troca política com os militantes do MST, tem promovido ensinamentos para os dois lados envolvidos: petroleiros e agricultores.

Caneca crachá

Até mensagens ecológicas estão contidas em pequenas mudanças no modo tradicional de fazer eventos. Os delegados se surpreenderam, por exemplo, com o crachá de votação utilizado no evento, que tem um formato de caneca.

“Havíamos identificado que poderia haver falta de copos para todos os participantes, e também queríamos gerar o mínimo de lixo (com a utilização de copos plásticos). Então surgiu inicialmente a proposta de colocar uma caneca no kit do delegado. Mas logo percebemos que ela poderia ficar esquecida nas mochilas e alojamentos. Então veio a ideia de transformá-la em crachá, que tem que ser obrigatoriamente utilizado na votação e que, portanto, sempre estará junto com o delegado”, explicou o diretor da Fup e integrante da Comissão Organizadora da Plenária, José Genivaldo da Silva, o pai da ideia da caneca crachá.

Consciência de classe

Integrante da direção nacional do MST e coordenador do Assentamento Normandia, em Caruaru (PE), Jaime Amorim explica que toda a concepção presente em abrigar eventos como a Plenafup está em desenvolver consciência de classe e sinalizar para a sociedade que cada categoria ou segmento dos trabalhadores não está isolada.

“Os petroleiros podem saber que não estão sozinhos, assim como nós do MST sabemos também que não estamos. Na luta pela Soberania e contra os leilões do petróleo nós estamos presentes, assim como sabemos que podemos contar com os petroleiros na luta pela Reforma Agrária”, disse.

Amorim também destacou, em entrevista coletiva para a Imprensa Sindical, hoje, durante a Plenafup, que este tipo de interação entre trabalhadores urbanos e rurais serve para quebrar preconceitos de ambos os lados.

Estereótipo da roça

“As pessoas acham que o produtor rural só pode viver no mato, que não precisa de casa com piso cerâmico, de não precisa de banheiro, que não precisa de sofá, de eletrodoméstico. E muita gente se surpreende quando entra nas casas da nossa agrovila e encontra tudo isso”, disse.

Realizada pela segunda vez (a primeira foi no assentamento Contestado, em Lapa (PR), em 2009), a experiência de realizar a plenária da Fup em um assentamento deixa, além do reforço nos laços políticos, legados estruturais para as comunidades que abrigam o evento.

Do hotel para o assentamento

Como explica o diretor da Fup, o valor que seria gasto com hospedagens em um hotel para os 150 delegados, além de assessores e convidados, é disponibilizado para que o assentamento realize obras e reformas em sua estrutura.

De acordo com Jaime Amorim, a plenária da Fup no Normandia deixará como herança uma estação biodigestora (que utiliza resíduos orgânicos e reutiliza a água gasta nos serviços de cozinha e limpeza, para produzir gás, adubo orgânico e água para a irrigação). Também foi construído um quiosque, adquiridos equipamentos industriais para a cozinha, reformados os alojamentos e adquiridas camas e colchões, em um investimento de R$ 364 mil.

Esta estrutura está integrada ao Centro de Capacitação Paulo Freire, espaço para que o MST e demais entidades dos movimentos sociais abriguem eventos, promovam cursos e qualifiquem a luta popular.

Antigo lugar da elite

O assentamento Normandia é um dos 220 instalados em Pernambuco. A área abriga 40 famílias, em lotes de 10 hectares para o plantio e terrenos de 1.250 metros quadrados para uma casa na agrovila. Segundo Amorim, o local foi sede da Fazenda Normandia, que costumava reunir a elite política, econômica e militar durante a recente ditadura brasileira, em articulações para a manutenção do regime.

“Este lugar servia de abrigo para conspirações contra o povo. Agora, serve para construir a luta do povo”, disse Amorim.