A imprensa do Sindipetro-NF transcreveu o discurso de posse de José Maria Ferreira Rangel na Coordenação da FUP, em 17 de agosto de 2014. Leia a íntegra abaixo:
“Companheiros e Companheiras, gostaria de dizer que me sinto muito honrado com a confiança depositada em mim para conduzir a Federação nos próximos três anos. Confiança essa da categoria petroleira, dos meus colegas da direção da FUP, dos sindicatos, dos funcionários das entidades sindicais e da federação.
Dizer que é uma triste ironia do destino, porque ontem estávamos realizando um ato em defesa da vida e hoje, no dia da nossa posse, recebemos a triste notícia que temos um colega com 80% do seu corpo queimado, fruto de mais um acidente de trabalho nessa companhia.
Penso eu que, qualquer tipo de discurso que venha fazer sem falar do respeito à vida, que não existe hoje na companhia, ficaria em segundo plano.
Porque o que estamos vivendo dentro de nossa empresa, e cada trabalhador e trabalhadora sabe disso, é o endurecimento cada vez maior das relações de trabalho. É uma precarização cada vez maior nas relações de trabalho e que tem trazido para nós trabalhadores um fardo muito pesado. E nós não arraigamos, porque somos pessoas dedicadas, porque talvez muitas outras categorias já tivessem abandonado essa causa.
Eu quero só lembrar, porque sou um abnegado na discussão da área de saúde e segurança. A Federação já teve outros abnegados… Só pra gente recordar, quando os sindicatos lembram que estamos muito próximos de uma grande tragédia na Petrobrás, é porque no último Plano de Demissão Voluntária que a Petrobras fez foi em 1999 e que foi concluído no ano de 2001, foi quando vazou Baía de Guanabara, vazou Paranaguá e afundou P-36.
Se nós transportarmos aquela realidade para a atual, presenciamos agora a saída de mais de 8 mil trabalhadores da Petrobrás. E que nós, se não tivermos uma política clara, e essa é uma responsabilidade de toda categoria, especificamente de quem dirige a categoria, se não tivermos uma política clara para combater essa produção, produção, produção a qualquer custo, nós vamos continuar chorando nossos mortos.
No ultimo período, não sei se vocês sabem, o refino bateu o recorde de refino de derivados e da produção de petróleo. Aí a gente se pergunta: – a custo de que? Ou a custo de quem? Então é essa reflexão que nós temos que fazer, dia após dia. E a frente da FUP eu vou levar a todo instante para toda categoria, porque sem a sensibilização de vocês, não adianta falar palavras de ordem, porque a gestão da companhia não se sensibiliza, não adianta continuar fazendo de conta que nada acontece. Nós temos que assumir as nossas responsabilidades, enfrentar o gestor da companhia e dizer pra ele, que mais importante do que qualquer coisa dentro dessa empresa, é o respeito à vida do trabalhador. E nós não vamos abrir mão disso!
Nossa Federação, Moraes e meus companheiros de direção, têm que olhar para frente e trabalhar para transformar nossa luta por saúde e segurança como referência no mundo do trabalho no Brasil. E olhar para aquelas empresas que de fato praticam e não brincam de fazer segurança e marketing e aprender com elas. Esse é um desafio e é a melhor homenagem que podemos fazer a todos que se foram, às suas famílias, que sofrem os acidentados e falecidos. É um compromisso de luta diária!
21 anos da FUP
Nenhuma entidade chegaria aos 21 anos se não tivesse o trabalho que nossa Federação tem, muito provavelmente não chegaríamos até aqui. Tivemos um momento difícil, nas relações com outras correntes políticas, mas com trabalho, organização, seriedade e falando a verdade como é prática das correntes que hoje integram a FUP, nós conseguimos consolidar cada vez mais a nossa entidade. O jornalista do Sindipetro-SP perguntou o que posso definir como marco, nesses 21 anos de Federação, eu não tenho dúvida em afirmar que foi a ousadia em elaborar o Projeto de Lei para mudar a Lei do Petróleo em nosso país. Outros segmentos preferiram usar palavras de ordem, mas nossa Federação se reuniu, estudou e com ajuda das assessorias elaborou um projeto de lei. Essa é nossa maior conquista!
Projeto dos Trabalhadores
Desafios nós temos inúmeros, a começar por uma pergunta simples à classe trabalhadora desse país: – Nós vamos querer continuar a viver na senzala ou vamos dar um grito de liberdade?
Porque os projetos que estão em curso tem diferenças básicas sim. Com todas as críticas que cada um de nós tem aos projetos do governo que começou com Lula e está com Dilma, não podemos negar que tirou milhões de pessoas da linha de pobreza, que possibilita ao filho do operário galgar às universidades, que tem uma política de salário mínimo, que aumenta a renda do trabalhador, que mesmo insistindo nas questões dos Leilões, continua fazendo da Petrobrás uma empresa estratégica dentro do nosso país.
Não podemos vacilar! Temos que dizer isso para a população. Não adianta fazer discurso só para a nossa categoria. Temos que dizer para o restante da sociedade que, diferente de nós que temos acesso a outras mídias, só assiste à Rede Globo e acham que o Brasil é o que passa na emissora. Os mesmos que durante a Copa do Mundo lotaram os estádios e tiveram a coragem de xingar a nossa presidenta, e vaiaram como fizeram no velório de Eduardo Campos. Então nós temos essa tarefa, que é urgente para cada um de nós. Vamos definir os rumos do país, que provavelmente terá os frutos que colhidos não por nós, mas por nossos filhos e netos é uma obrigação de cada trabalhador e trabalhadora e de uma Federação, que se consolidou com referência no movimento sindical brasileiro e até fora desse país.
Norte Fluminense
Quero aqui deixar um abraço aos meus colegas do Norte Fluminense. Dizer da exata dimensão que eu tenho… Porque eu só cheguei aqui porque vocês quiseram que eu chegasse aqui. Não teria conseguido ser coordenador do sindicato, ser conselheiro de administração da Petrobrás, e hoje estar assumindo a coordenação da FUP se não fosse por vocês. Vocês diretores, vocês funcionários, a categoria que mesmo nos momentos de crise sempre respaldou a minha coordenação. Porque ela sabe que, no seu íntimo, às vezes a verdade dói, mas ela tem que ser dita. E particularmente eu tenho a coragem de falar essa verdade. Às vezes ela pode não gostar do que está ouvindo naquele momento, mas no momento seguinte ela vai ter a clareza de que o que foi dito, o que foi feito, é o melhor para a categoria.
Não tem como não me emocionar quando falo de uma entidade que vivi desde a sua criação. Não tem como não me emocionar quando falo de uma entidade que, dia após dia, foi se tornando referência dentro do movimento sindical. Não tem como não me emocionar quando falo de uma entidade que tem, ao longo da sua história, risos, choros, lágrimas como as de hoje, mas que este momento, é um momento de como pai vê o seu filho sair de casa, mas sabe que é necessário, é isso o que estou fazendo. Mas vou estar olhando por vocês, de longe, aonde eu estiver. Enquanto Deus me der saúde e forças eu vou continuar nessa luta com vocês. Um abraço a todos vocês”.