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Democracia ou golpe?

Convocados pela CUT, outras centrais sindicais e diversos movimentos sociais, mais de 200 mil brasileiros foram às ruas no último dia 13 nas principais capitais do país com uma pauta claramente definida: defesa da Petrobrás, da democracia, da reforma política e dos direitos trabalhistas. No dia 15, uma outra manifestação, apoiada pela mídia e patrocinada por empresários e grupos de oposição ao governo, afrontou o povo brasileiro pelo tom golpista dos que cobravam o impeachment da presidente Dilma e a intervenção militar (leia mais na página 03).

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A verdadeira Petrobrás, a mídia não mostra

Nacionalização de encomendas revitalizou a indústria naval, gerando mais de 380 mil empregos

Em dezembro de 2000, a indústria naval brasileira empregava apenas 1.910 trabalhadores, reflexo do desmonte que o setor sofreu nos anos 90. A partir de 2003, com a decisão política do governo Lula de nacionalizar as encomendas da Petrobrás, a indústria naval voltou a se reerguer e fechou 2014 com 82.472 empregos diretos e mais de 300 mil indiretos, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).

A Petrobrás responde por mais de 90% da carteira de encomendas dos estaleiros instalados no país. Segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), 23 dos 50 maiores projetos offshore do mundo estão hoje no Brasil. Estudo do Sinaval revela que o setor tem tido um crescimento médio de 19,5% ao ano, desde 2004, e movimenta atualmente R$ 149,5 bilhões.

Evitar o retrocesso

Esse ciclo de recuperação da indústria naval, no entanto, pode ser interrompido, se as tentativas de enfraquecimento da Petrobrás não tiverem a devida resposta da sociedade. Os ataques especulativos que visam inviabilizar economicamente a estatal colocam em risco as contratações no Brasil de plataformas, sondas, navios petroleiros e barcos de apoio. “Já estamos sofrendo as consequências dessa crise, com demissões em diversos estaleiros, que reduziram ou paralisaram obras. Pelo menos 10 mil postos de trabalho já foram fechados”, alerta Edson Rocha, coordenador do Setor Naval da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT.

“A defesa da Petrobrás passa pela defesa da política de conteúdo nacional, que tem garantido empregos e investimentos no Brasil, e, principalmente, pela defesa do pré-sal, que desde a sua descoberta tem sido objeto de disputa dentro e fora do país. Esses são os grandes interesses que estão por trás das tentativas de desmonte da Petrobrás”, ressalta o coordenador da FUP, José Maria Rangel, frisando a importância dos petroleiros se engajarem nas diversas frentes de luta em defesa da estatal.

Deputados e senadores retomam Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás

A FUP e seus sindicatos, assim como outras entidades classistas e movimentos sociais, participarão no próximo dia 24 do relançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Petrobrás, composta por 42 senadores e 210 deputados federais, que tem por objetivo articular uma grande luta nacional pelo fortalecimento da empresa e contra as constantes tentativas de privatização da estatal.

Para a senadora Vanessa Grazziotin (PcdoB\AM), uma das integrantes da Frente, é inadmissível “criminalizar a companhia”, que hoje é a maior produtora de petróleo do mundo entre as empresas de capital aberto. “Não se pode confundir a Petrobrás com a corrupção praticada por alguns”, declarou. A solenidade de lançamento da Frente Parlamentar está prevista para às 17h do próximo dia 24, no Plenário II, Anexo II, da Câmara dos Deputados.

 

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Manifestações confrontaram dois projetos opostos de país

No dia 13, as cobranças dos trabalhadores foram por direitos e pelo fortalecimento das conquistas sociais do país nos útlimos anos; pelo fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, principal porta de entrada para a corrupção;  foram em defesa da Petrobrás e contra as tentativas de privatização da empresa. No dia 15, em vez de reivindicar mudanças e melhorias para o país, os manifestantes exibiram cartazes e faixas com suásticas nazistas, transbordando intolerância e ódio de classe.

Segundo pesquisas do Datafolha, 82% dos que foram à Avenida Paulista  no dia 15 tentar derrubar a  presidente Dilma Rousseff  votaram em Aécio Neves no segundo turno.  “Eles não buscam reivindicações específicas e sim o poder. Disputam o Estado”, destaca o jornalista Paulo Moreira Leite, alertando que “a constante referência à intervenção militar” nas manifestações do dia 15  “anunciam abertamente uma tentativa de reverter o processo democrático”. 

As manifestações dos dias 13 e 15 de março confrontaram para a sociedade dois projetos antagônicos de país.  É fundamental que a classe trabalhadora e os setores progressistas intensifiquem a luta em defesa da democracia, da soberania e contra o retrocesso. A Petrobrás é o principal centro dessa disputa e os petroleiros, mais do que nunca, precisam se posicionar e mostrar de que lado estão.   

 

CUT prepara novas mobilizações

Após fazer um balanço das manifestações dos dias 13 e 15, a Executiva Nacional da CUT informou que irá ampliar e fortalecer a luta em defesa da agenda da classe trabalhadora. “É nossa tarefa impedir que a direita sorrateiramente amplie apoio em setores populares para o retrocesso, explorando o descontentamento que existe na sociedade”, ressalta a Central em nota divulgada nesta quinta-feira, 19, convocando os trabalhadores para as próximas mobilizações que ocorrerão nos dias 07 de abril e primeiro de maio.

A CUT avaliou que os atos do dia 13 de março foram “massivos e representativos em todas as capitais”, apesar das tentativas da mídia em desqualifica-los. “Levamos às ruas a defesa da democracia, da Petrobrás como patrimônio do povo brasileiro, pelos direitos dos/as trabalhadores/as, em defesa da Caixa Econômica Federal 100% pública; defendemos que o combate à corrupção se faz com reforma política e fim do financiamento empresarial de campanha; defendemos a mudança da política econômica e que somos contra que o ajuste fiscal recaia nas costas dos/as trabalhadores/as (não às MPs 664 e 665)”, ressalta a Executiva da CUT.

A Central destaca a importância da luta contra o retrocesso. “O mandato popular dado a Dilma no segundo turno de 2014 não foi para uma pauta de aumentar os juros e promover políticas recessivas para conter a inflação. Para a CUT, o combate à crise se faz com crescimento econômico, mais empregos e salários, investimento público e ampliação de direitos, o que implica em mudar a atual política econômica. Por isso, vamos manter e intensificar nossas mobilizações com a continuidade da Jornada de Lutas, com nossa pauta, construída conjuntamente com os movimentos sociais”.

 

 

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O povo não é bobo..

Rede Globo apoiou a ditadura e continua golpista

 

A chamada grande mídia (que os blogueiros e movimentos sociais denunciam como Partido da Imprensa Golpista) foi o principal fator mobilizador das manifestações do dia 15, que cobraram o impeachment da presidente Dilma. Os jornais impressos, rádios  e TVs abraçaram de tal forma a “causa”, que chegaram até a divulgar dicas de como chegar aos locais dos protestos. Nas manifestações do dia 13, a mídia agiu de forma oposta, tentando esvaziar, desmobilizar e desqualificar os atos convocados pela CUT e movimentos sociais.

 

“A Globo foi a central de operações do dia 15. E o teatro de operações foi a Paulista. A direita foi pra rua, mas não podia falar sozinha”, revelou o jornalista Rodrigo Viana, em seu blog Escrivinhador. “Havia um discurso ensaiado dos repórteres, em que se escondia do público o viés militaresco dos manifestantes. Na Globo, tudo se resumia a uma manifestação de famílias”, destacou o jornalista. “Da mesma forma como fez na preparação do golpe militar de 1964, ela apresenta os organizadores das marchas como cidadãos em luta contra a corrupção e pela democracia”,  explica Altamiro Borges, presidente do Centro de Estudos de Mídias Alternativas Barão de Itararé, que prepara para o dia 27 de abril um seminário para discutir os 50 anos de poder e hegemonia da Rede Globo.

 

Nas redes sociais já estão circulando várias  manifestações repudiando as manipulações da emissora. Um  grande ato “pelo fim da concessão da Rede Globo dentro da lei” será realizado no dia primeiro de abril em vários estados do país, fomentando o debate sobre a necessidade de regulação dos meios de comunicação, como determina a Constituição brasileira. O evento convocado há menos de uma semana no facebook já tem 12 mil interessados. No twiter, outra convocatória que viralizou foi a de um grande apitaço no dia primeiro de abril a cada notícia mentirosa que for veiculada pelos telejornais. A ideia foi anunciada pelo jornalista Xico Sá.

 

Um outro olhar jornalístico

Diante da parcialidade cada vez maior dos meios tradicionais de comunicaçao, o jornalismo colaborativo tem ganho espaço nas redes sociais, com reportagens que se diferenciam da grande mídia. São relatos e coberturas engajadas, que buscam olhares diferentes sobre um mesmo fato. Assim como ocorreu com o Mídia Ninja na cobertura das manifestação de junho de 2013, nos atos e protestos dos dias 13 e 15 de março, o Jornalistas Livres teve uma grande repercussão, com matérias, fotos e vídeos compartilhados a cada segundo.

O grupo foi criado para cobrir as manifestações, com o objetivo de construir um contraponto a respeito dos acontecimentos, relatando fatos que a mídia invisibiliza ou deforma. Em sua página no facebook, eles se autodeclaram como “Jornalistas Livres em defesa da democracia: Cobertura colaborativa de narrativas independentes e plurais, contra a parcialidade da mídia tradicional”. O grupo não se considera um coletivo e sim uma rede que continuará disputando a narrativa hegemônica da grande mídia,  além de propor debates sobre o papel do  jornalismo na atual conjuntura. Em uma semana de existência, a página deles no Facebook já possui cerca de 20 mil curtidas e alcançou mais de 1 milhão de pessoas.Acesse:  facebook.com/jornalistaslivres.