Imprensa do MST e da CUT – Dois trabalhadores mortos. Esse foi o saldo de uma das muitas ações violentas contra trabalhadores e trabalhadoras rurais que vem aumentando nos últimos anos no Brasil, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Rodrigo Celestino e José Bernardo da Silva (conhecido como Orlando), ambos coordenadores do Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais sem Terra (MST) da Paraíba, foram baleados na noite do sábado (8), na hora da janta.
O crime ocorreu no assentamento Dom José Maria Pires, em Alhandra, a cerca de 45 km de João Pessoa. Segundo relatos de testemunhas, por volta das 19h30, dois homens encapuzados entraram na área onde vários agricultores jantavam, mandaram os outros se retirarem e atiraram contra as vítimas.
Durante o velório de José Bernardo, um integrante do MST lamentou a morte do companheiro e se referiu ao ódio e a violência estimuladas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
“É lamentável um trabalhador tombar dessa forma. Me desculpe quem votou nele, mas isso é fruto de uma ditadura que começa em 2019”.
O ódio do novo governo
Bolsonaro já expressou ódio aos movimentos sociais em diversas oportunidades, falou em tipificar ocupações como ações terroristas e, confirmando sua intenção de exterminar o movimento dos trabalhadores sem terra indicou para ministro do Meio Ambiente do novo governo o advogado Ricardo de Aquino Salles que, durante a campanha pelo Partido Novo, sugeriu uso de munição e fuzil contra a esquerda e o MST. Salles foi advertido pelo partido por apologia à violência.
Em evento sobre segurança pública realizado na Associação Comercial do Rio de Janeiro, realizado em maio deste ano, Bolsonaro defendeu o uso de lança-chamas contra os movimentos.
“A propriedade privada é sagrada. Temos que tipificar como terroristas as ações desses marginais. Invadiu? É chumbo!”, disse o futuro presidente, enquanto a plateia ria, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
Uma semana antes do segundo turno das eleições, em 27 de outubro, em uma transmissão ao vivo na Avenida Paulista, ele se referiu aos integrantes do MST e do PT como “marginais vermelhos” que seriam banidos da ‘pátria’. Bolsonaro disse que faria uma “faxina mais ampla”.
Para o líder do MST, João Pedro Stédile, o assassinato “é resultado da propaganda de violência e impunidade que o capitão neofascista fez durante a campanha”.
Já para a senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffman, que considerou o crime muito grave, a violência deve crescer antes da posse do novo presidente.
“A execução dos dois companheiros do MST na Paraíba é muito grave. A violência contra lideranças sociais deve crescer em todo o Brasil, antes mesmo da posse de Bolsonaro”, disse por meio de nota.
Em nota, o MST cobrou justiça e a punição dos culpados e convocou a militância a denunciar o crime. “Justamente dois dias antes das comemorações do Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, são assassinados de forma brutal dois trabalhadores sem terra. Convocamos aos que defendem os trabalhadores e trabalhadores, denunciar a atual repressão e os assassinatos em decorrências de conflitos no campo”, diz trecho da nota.
CPT denuncia onda de ódio
Também em nota, a Comissão Pastoral da Terra, afirmou que a “brutalidade do latifúndio, acompanhado pela ganância e pela especulação do capital, tem se alimentado por uma onda de ódio de classes sociais e por um sentimento, espalhado nos últimos meses, de justiça pelas próprias mãos, pregado pelas ‘lideranças’ políticas do país”.
O último relatório da Pastoral revelou um aumento de 16,5% nos assassinatos no campo em apenas um ano – o total pulou de 61 para 71, sendo 31 ocorridos em cinco massacres (44%), entre 2016 e 2017. O estudo mostrou também que as tentativas de assassinatos subiram 63% e as ameaças de morte, 13%.
Solidariedade à família de Orlando e Rodrigo
O velório de Orlando foi realizado na capela Nossa Senhora de Aparecida, no assentamento Zumbi dos Palmares, município de Mari-PB, no domingo.
Família, militantes e amigos compareceram ao ato em homenagem ao companheiro Orlando. Rodrigo Celestino foi velado em João Pessoa em cerimônia para familiares e amigos. Orlando é irmão de Odilon da Silva, também assassinado há nove anos na Paraíba. Odilon era do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Acampados
Segundo o portal do MST, o local onde foi montado o acampamento é a Fazenda Igarapu, que havia se transformado em um bambuzal por ter sido abandonada e estar improdutiva. Desde 2017, 450 famílias já produzem nas terras, de propriedade do grupo Santa Tereza.
Nota do MST:
“O que seria deste mundo sem militantes? Como seria a condição humana se não houvesse militantes? Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso. É que os militantes não vêm para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos’. (Ex-presidente Uruguaio, Pepe Mujica)
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-PB) perde nesta noite de sábado (08) por volta das 19:30 dois militantes: José Bernardo da Silva, conhecido por Orlando e Rodrigo Celestino. Foram brutalmente assassinado por capangas encapuzados e fortemente armados. Isso demonstra a atual repressão contra os movimentos populares e suas lideranças. O ataque aconteceu no Acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra na Paraíba. Área da Fazenda Garapu, pertencente ao Grupo Santa Tereza, ocupada pelas famílias em julho de 2017.
Exigimos justiça com a punição dos culpados e acreditamos que lutar não é CRIME. Nestes tempos de angústia e de dúvidas sobre o futuro do Brasil, não podemos deixar os que detém o poder político e econômico traçar o nosso destino. Portanto, continuamos reafirmando a luta em defesa da terra como central para garantir dignidade aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade.
Justamente dois dias antes das comemorações do Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro, são assassinados de forma brutal dois trabalhadores Sem Terra. Neste sentido, convocamos a militância, amigos e amigas, aos que defendem os trabalhadores e trabalhadores, denunciar a atual repressão e os assassinatos em decorrências de conflitos no campo.