Lideranças sindicais cobram políticas mais efetivas de combate à violência contra a mulher na Petrobrás

As federações participaram do Primeiro Fórum de Combate à Violência Sexual na Petrobrás e cobraram medidas mais efetivas contra os assédios, que envolvam as CIPAs e sejam extensivas às empresas contratadas, cujas trabalhadoras são as mais impactadas

[Por Alessandra Murteira, da comunicação da FUP]

Dirigentes sindicais petroleiras e dos marítimos participaram no dia 10 de julho do Primeiro Fórum de Combate à Violência Sexual na Petrobrás, que reuniu representantes dos trabalhadores e lideranças das áreas de saúde, responsabilidade social, recursos humanos, assistência social e do jurídico da estatal. A representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobrás, Rosangela Buzanelli, também esteve presente.

Conquista do Acordo Coletivo de Trabalho, o Fórum foi um espaço de troca de experiências e debates de proposições para garantir o respeito à diversidade na Petrobrás e ampliar e fortalecer as medidas de combate a todas as formas de assédio e violência contra as mulheres, inclusive a sexual.

O evento reuniu cerca de 70 pessoas, majoritariamente mulheres, mas contou também com a participação de algumas lideranças masculinas, tanto sindicais, quanto gerenciais. A FUP foi representada por integrantes do Coletivo Nacional de Mulheres Petroleiras e da Frente Petroleira LGBTQIA+, além de dirigentes dos sindicatos e do assessor do Dieese, Cloviomar Cararine, que fez uma apresentação sobre a participação das mulheres no Sistema Petrobrás.

A estatal brasileira é a que tem a menor presença de trabalhadoras entre as principais petrolíferas do mundo. Atualmente, a Petrobrás tem cerca de 8 mil mulheres em seu efetivo próprio e 22% de participação feminina nos cargos de chefia. Uma marca histórica, mas que está ainda muito aquém das outras empresas do setor. Na BP, por exemplo, as mulheres representam 39% da força total de trabalho, sendo que são maioria em cargos de chefia (55%).

As dirigentes sindicais ressaltaram em suas falas que a violência contra as mulheres está diretamente relacionada à invisibilidade dessas trabalhadoras, que sofrem discriminação no ambiente de trabalho que ainda é hostil à presença feminina, com diferenciação de direitos e de salários.

Elas relataram que os casos de assédio e de violência sexual são fruto dessa organização de trabalho machista, que muitas vezes protege os assediadores, um problema grave, que ainda não foi superado e que precisa de um enfrentamento maior por parte dos gestores da Petrobrás.

As federações reforçaram a importância dos processos de escuta das vítimas de violência no trabalho serem também de acolhimento e extensivos a todo o Sistema Petrobrás, inclusive às empresas contratadas, cujas trabalhadoras são invisibilizadas e as mais impactadas.

As entidades também cobraram uma política mais efetiva de prevenção e combate aos assédios, que envolva as CIPAs e tenha participação das representações dos trabalhadores na investigação, da mesma forma que as comissões de acidentes.

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As dirigentes sindicais enfatizaram ainda a necessidade de maior participação dos homens nos cursos para desconstrução do machismo e das masculinidades tóxicas, além do reconhecimento do adoecimento e sofrimento no trabalho causados por assédios e violências.

A coordenadora do Programa Petrobrás Contra a Violência Sexual e no Trabalho, Ana Gawrystewski, falou sobre as ações de prevenção e como funcionam os canais de denúncia e os processos de apuração, responsabilização dos envolvidos e acompanhamento das vítimas. Ela reforçou o compromisso da interlocução constante com os sindicatos.

As entidades sindicais enfatizaram que o Fórum de Combate à Violência Sexual na Petrobrás não deve ser só um espaço de escuta, mas também de acolhimento de propostas.

FUP: “Ter mais mulheres no alto escalão da Petrobrás é inspirador, mas temos que trazer essa mesma lógica para as unidades”

A diretora da FUP, Patrícia de Jesus, destacou a trajetória da participação das mulheres no movimento sindical petroleiro e o consequente avanço nas conquistas de direitos, como o atual ACT, que garantiu cláusulas importantes de melhoria das condições de trabalho e de combate à violência e aos assédios.

Bárbara Bezerra, atual coordenadora do Coletivo Nacional de Mulheres da FUP, enfatizou a necessidade de maior participação das mulheres nos espaços de poder e que as tentativas de apagamento do protagonismo feminino na história do Brasil são as raízes das diversas formas de opressão e de violência contra as mulheres no ambiente de trabalho. “Ter mais mulheres no alto escalão da Petrobrás é inspirador, mas temos que trazer essa mesma lógica para as unidades, tornar o ambiente menos hostil para as mulheres”, afirmou.

A diretora da FNP, Ana Paula Baiao, afirmou que as formas de violência no trabalho afetam todas as pessoas, mas com muito mais frequência as mulheres e as pessoas LGBTQIA+, lembrando que o assédio moral é uma das modalidades de violência que mais adoece os trabalhadores.

Cecília Rodrigues, diretora da federação do marítimos (FNTTAA), criticou duramente a inexistência de mulheres marítimas nos efetivos próprios da Petrobrás, ressaltando que todas são de empresas contratadas. Segundo ela, a estatal já empregou cerca de 45% da categoria no Brasil e hoje não chega a 10% de representação no setor e que a luta da entidade é para trazer os padrões internos da Petrobrás de combate à violência de gênero para os mais de 100 navios afretados.

“A Petrobrás afreta navios com péssimas condições a bordo, com tripulações quase 100% masculina. Ter mais mulheres a bordo é uma forma de garantir condições melhores de trabalho e segurança para as mulheres e termos uma marinha mercante nacional é fundamental para que as mulheres possam estar a bordo e crescerem em suas carreiras”, afirmou.