Lula: “Eu voltei e estou com mais coragem para lutar”

Érica Aragão / Da Imprensa da CUT – “A única coisa que eu tenho certeza é que eu estou com mais coragem de lutar do que quando eu sai daqui”. Esta foi a afirmação que o ex-presidente Lula fez a milhares de pessoas que vieram vê-lo e ouvi-lo em frente a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, neste sábado (9).

Lula se referiu ao seu último discurso, no dia 7 de abril de 2018, quando decidiu cumprir a ordem judicial do ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PSL), Sérgio Moro, então juiz da 13ª Vara Criminal de Curitiba, no mesmo local em que voltou agora, um ano e sete meses depois de mantido preso político na capital paranaense.

“Lutar para tentar recuperar o orgulho da gente ser brasileiro, para que as mulheres possam levar o seus filhos no supermercado e comprar o suficiente pra eles comerem, para que o trabalhador possa ter seu emprego com carteira assinada e leve pra casa no fim do mês o dinheiro para garantir a alimentação de sua família. Lutar para que o trabalhador possa ter o direito de ir ao cinema, ir ao teatro, de ter um carro, de ter uma televisão, de ter um computador, um celular, de ir ao restaurante e de poder todo final de semana reunir a família fazer um churrasco tomar uma cerveja gelada. Que é na verdade o que deixa a gente feliz”, afirmou o ex-presidente.

Lula disse que vai fazer muita luta e não é em um dia e depois de três meses outra, segundo ele, será todo dia.

Andar pelo Brasil para recuperar o país

O ex-presidente disse que está disposto a voltar a andar por este país, junto ao ex-ministro da Educação Fernando Haddad, a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, dos companheiros dirigentes sindicais e parlamentares da legenda.

“Porque não é possível que a gente consiga viver nesse país vendo cada dia mais os ricos ficarem cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, afirmou Lula se referindo à crise política, social e econômica em que o país está mergulhado desde o golpe de 2016 e que se intensificou com o governo de Bolsonaro, que tem implementado no Brasil, junto com o ministro da economia, Paulo Guedes, um governo ultraliberal que empobrece milhares de trabalhadores e enche o bolso e os caixas dos mais ricos.

“Eu quero que eles expliquem por que que eles não vão aumentar mais o salário mínimo, por que destruíram a Previdência Social, por que querem destruir a nossa Petrobras, o BNDES, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal. Vão ter que contar por que resolveram criar uma carteira de trabalho verde amarela que vai ter empregos intermitentes ou nem vai ter registro em carteira. Eles vão ter que explicar porquê estão apresentando o projeto econômico que vai empobrecer ainda mais a sociedade brasileira”, questionou o ex-presidente.

Lula disse que imaginou que enquanto estivesse em Curitiba eles iam recuperar o país, mas não. O povo ficou mais pobre, tem menos saúde, menos casa, menos emprego e quase 50% da população está ganhando no máximo R$413, pontuou, complementando: “Nós só salvaremos esse país se tivermos coragem de fazer um pouco mais, porque nós já provamos que é possível governar este país para o povo mais necessitado, que é possível colocar o pobre na universidade, que é possível colocar o povo nas escolas técnicas, que é possível melhorar o ensino fundamental e que é possível gerar milhões de empregos com carteira assinada”.

Sobre o “fora Bolsonaro” o ex-presidente disse que é preciso respeitar o resultado das eleições, mas que esse país não merece o governo que tem, que manda os filhos contarem mentira todos os dias através das fake news.

“Eu tenho certeza que se a gente tiver juízo e se a gente souber trabalhar direitinho, em 2022, a chamada esquerda, que o Bolsonaro tem tanto medo, vai derrotar a ultradireita que nós tanto queremos derrotar”.

O ex-presidente falou também sobre as manifestações no Chile, da eleição da Bolívia, da solidariedade que tem que ter com o povo venezuelano e da retomada do poder progressista na Argentina.

Por que Lula foi cumprir a decisão judicial

No mesmo lugar de onde nunca deveria ter saído há um ano e sete meses, ao som da trompetista Fabiano Leitão tocando a histórica “olé olé olé olá, Lula Lula”, que emocionou as milhares pessoas presentes, o ex-presidente contou como era sua rotina, quando recebia visitas e até disse que fez amizades na cela onde foi mantido preso político.

Lula relembrou aquele dia triste em que se despediu para ir à Curitiba e fez questão de repetir o motivo que o fez persuadir os militantes e amigos a compreenderem o papel que ele tinha que cumprir.

“Eu precisava provar que o então juiz Moro não era juiz era um canalha que estava me julgando. Eu precisava provar que o Dallagnol não representa o Ministério Público, que é uma instituição séria, e que montou uma quadrilha com a força tarefa da Lava Jato, inclusive pra roubar dinheiro da Petrobras e das empreiteiras. E eu tinha certeza que os delegados que falaram contra mim mentiram em cada palavra que escreveram”, disse Lula.

“Se eu tivesse saído do Brasil eu seria tratado como fugitivo e eu resolvi ir para pertinho deles para poder provar todas estas mentiras para a sociedade”, afirmou o ex-presidente ao se referir a inúmeros pedidos para não ir à Curitiba e sim para outro país ou para a embaixada de algum outro país feito por amigos e pela militância.

Lula e sua missão

O ex-presidente conta que ao sair do SMABC naquele 7 de abril ele tinha uma missão. Numa solitária, Lula disse que teve que se preparar espiritualmente para não ter ódio e sede de vingança com seus algozes.

“Porque eu queria provar que mesmo preso eu dormia com a minha consciência muito mais tranquila, mais do que a deles. Durmo toda noite com a consciência limpa”.

“Eu duvido que o tal do Dallagnol, Moro e até Bolsonaro durmam com a consciência tranquila que eu durmo. Eu duvido que o ministro demolidor de sonhos, destruidor de empregos e de empresas públicas brasileiras, chamado Guedes, durma com a consciência também”.

As mentiras contra Lula

Lula lembrou do discurso que Jair Bolsonaro (PSL) fez esta semana e que acabou se entregando que sua eleição se deve as farsas da Lava Jato.

Neste dia Bolsonaro contou, em um discurso recheado de ironias na formatura de policiais federais, um dia após decisão do STF que beneficiou Lula, que “se a missão dele [Sergio Moro] não tivesse sido bem cumprida, eu também não estaria aqui” e que “em parte, o que acontece na política no Brasil devemos a Sergio Moro”.

O ex-presidente também contou que tem dez processos e que “é uma mentira atrás da outra” e contou que no mesmo dia que inventaram uma mentira para prender a ex-presidenta Dilma Rousseff bateram na porta da cela dele às 6 horas da manhã para entregar uma intimação.

Espantado e sem entender nada, o ex-presidente disse: “Eu já estou preso”.

Marielle e Queiroz

O ex-presidente lembrou da vereadora do Rio de Janeiro, assassinada em 14 de março de 2019, e disse que é preciso uma perícia séria nas informações ditas pelo porteiro sobre a liberação do assassino da vereadora horas antes do crime. Ele se referiu ao porteiro que disse a policia que um dos acusados de matar Marielle pediu para ir na casa de Bolsonaro horas antes do crime.

“Este crime não foi solucionado até hoje. A gente precisa saber quem mandou matar a nossa guerreira”, afirmou.

Lula lembrou também que é preciso que expliquem onde está Queiroz, o ex-assessor do filho de Bolsonaro, então vereador no Rio de Janeiro, Flavio Bolsonaro.

Ele foi acusado de fazer rachadinhas no mandado do Flávio e que até hoje não foi dar explicações sobre o que realmente acontecia naquele mandato.

Lula criticou a TV aberta

Lula disse que além de ler livros e acompanhar as notícias, ele era obrigada a ver TV aberta. O ex-presidente lembrou que os debates televisivos sobre as eleições 2018 não tinha nenhum convidado à esquerda e criticou a programação diária de outros canais.

“Agora eles só querem gente que pensa a mesma coisa”, denunciou.

“A TV do Silvio Santos e a Record estão uma vergonha. A Globo continua a mesma vergonha até agora não colocou uma matéria do Intercept Brasil, veículo de imprensa que está denunciado a lava jato”, falou o ex-presidente Lula.

Pronunciamento

Lula disse que quer fazer um pronunciamento à nação dentro de uns 20 dias. Ele contou que quer pensar com calma, escrever, rascunhar seu discurso para que caso faça alguma fala mais dura não pareça que está com ódio ou raiva de tudo o que aconteceu com ele nestes 580 dias.

“Aos 74 anos de idade eu não tenho direito de ter ódio no meu coração, na verdade não sabia que iria me apaixonar com esta idade”, disse Lula

 

[Foto: Elineudo Meira / Reprodução CUT]