Da Imprensa da FUP – A morte do caldeireiro Carlos Rodrigo Medeiros, de 43 anos, após ser atingido na cabeça durante uma movimentação de carga na Replan, não foi uma tragédia. Foi uma morte anunciada. Uma morte que a gestão da Petrobrás poderia ter evitado. Alertas não faltaram. Desde denúncias feitas pela FUP e pelo Sindipetro Unificado sobre a falta de efetivos para operar a Replan, até ocorrências diversas de vazamentos e incidentes, que, por si só, já apontavam o que estava por vir.
A precarização das condições de trabalho, sobretudo dos empregados contratados, e a redução drástica de efetivos dos últimos anos transformaram as refinarias, terminais e demais unidades operacionais do Sistema Petrobrás em bombas-relógio. Uma situação que as entidades sindicais denunciam sistematicamente, cobrando ações efetivas da empresa para garantir um ambiente seguro de trabalho e o direito fundamental de todo trabalhador e de toda trabalhadora voltarem vivos para suas famílias.

O desmonte recente do Sistema Petrobrás fez despencar os quadros próprios da empresa, que caíram de 86.108 trabalhadores, em 2013, para 46.730 empregados, em 2023, retrocedendo a patamares semelhantes aos da década de 1990. O caldeireiro Carlos Rodrigo era funcionário da empresa QWS, contratada da Replan. A refinaria, assim como outras unidades, está passando por uma expansão significativa, mas não fez o mesmo com os efetivos de trabalhadores, que seguem muito abaixo do número mínimo necessário para operar com segurança.
Essa incoerência da gestão da Petrobrás é acompanhada por uma série de negligências com a vida dos trabalhadores, desde a permissão de gambiarras, até a imposição de dobras exaustivas nos turnos. A situação se agrava com a política de redução de custos anunciada pela presidenta Magda, que, faz indignar ainda mais a categoria, ao cogitar manter o pagamento de dividendos extraordinários para os acionistas, enquanto a empresa “aperta os cintos”.
Ou seja, corta dos trabalhadores para elevar ainda mais os já exorbitantes ganhos dos acionistas. É a repetição da mesma política de precarização dos governos neoliberais, que resultou em níveis inaceitáveis de terceirização e numa série de acidentes, em que mais de 80% das vítimas eram trabalhadores contratados. Ao longo destas três últimas décadas, 404 trabalhadores morreram em unidades do Sistema Petrobrás, dos quais 331 eram prestadores de serviço e 73, empregados próprios.
Desde 2020, tivemos 19 vidas ceifadas, todas de trabalhadores contratados. Só no ano passado, foram seis companheiros mortos em acidentes na estatal. Os que perdem a vida são os mesmos sem direitos elementares, como benefícios e salários em dia, vítimas da precária e insegura política de contratação da Petrobrás. Vide os trabalhadores da LCD, que estão mobilizados reivindicando o pagamento de salários há mais de um mês atrasados.
Em fevereiro de 2025, a FUP e a FNP, junto com seus sindicatos, participaram de dois importantes fóruns com os gestores do Sistema Petrobrás, onde apresentaram uma série de propostas para uma política permanente de recomposição dos efetivos próprios e de mudanças estruturais no modelo de contratação da empresa. Além disso, as entidades sindicais vêm participando de Grupos de Trabalho para garantir condições seguras para os prestadores de serviço. Propostas não faltam. Alertas também não. Quantos mais terão que morrer para que a gestão da Petrobrás priorize a vida dos trabalhadores e das trabalhadoras?
[Foto: Marcelo Aguillar]