Rede Brasil Atual – A lama com rejeitos de mineração que vazou após a ruptura de barragem em Mariana (MG), em novembro, aparenta ter alcançado ao litoral sul da Bahia, na região de Trancoso e Porto Seguro, ou seja, próximo ao arquipélago de Abrolhos. A informação foi divulgada na noite desta quinta-feira (7) pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Técnicos dos órgãos sobrevoaram a região e observaram a presença da mancha de lama perto do arquipélago de Abrolhos, uma das mais importantes áreas de preservação da vida marinha na costa brasileira. “Os técnicos que sobrevoaram a região tiveram praticamente a certeza de que é a lama da Samarco”, afirmou a presidente do Ibama, Marilene Ramos.
A chegada da lama à região de Abrolhos ocorreu após a mancha de rejeitos ter invertido a tendência de seguir ao sul no mar, a partir da foz do Rio Doce, como vinha sendo observado. “A mancha que vinha se espraiando na direção sul ao longo do litoral do Espírito Santo, nos últimos dois dias, em função de um vento sul muito forte, também se espraiou para o litoral norte”, disse Marilene.
Foi identificado, assim, o crescimento de duas manchas de lama sobre a lâmina d’água oceânica a partir do litoral capixaba. Esse material, agora, entendeu-se do litoral norte capixaba até o Sul da Bahia, próximo à região de Trancoso e Porto Seguro.
Uma mancha de turbidez mais densa, ou seja, com maior concentração de lama, cresceu de 260 quilômetros quadrados para 392 quilômetros quadrados apenas entre terça-feira e quarta-feira desta semana. Isso resultou em uma extensão dessa mancha por cerca de 40 quilômetros ao norte da costa capixaba – além de outros 30 quilômetros ao sul. Neste caso, a lama continua no litoral do Espírito Santo e ainda não há estimativa se pode chegar à Bahia, apesar do avanço.
Já a mancha com menor concentração de lama avançou de 4.470 quilômetros quadrados para 6.197 quilômetros quadrados no mesmo período. Foi exatamente está mancha que chegou a Abrolhos, após se estender por cerca de 200 quilômetros entre o norte da costa capixaba e sul da Bahia.
Ameaça
A chegada da mancha de lama ao litoral sul da Bahia pode significar uma ameaça à vida da reserva marinha, devido ao banco de corais que forma Abrolhos, onde peixes e outros animais vão se reproduzir. Isto porque, sem luz do sol, a reprodução de algas para alimentação fica prejudicada, entre outros impactos. “O Parque Nacional de Abrolhos é uma das maiores diversidades ambientais do Atlântico”, observou o presidente do ICMbio, Cláudio Maretti.
De acordo com o presidente do ICMBio, Abrolhos é “uma das áreas de maior biodiversidade de corais de todo o Atlântico” e de importância científica altamente relevante. “O primeiro impacto que vem disso é a diminuição da produtividade da vegetação marinha, o fitoplâncton, e da produtividade dos corais. É como se agente pusesse uma mancha preta, uma fumaça preta, escura, tapando a Mata Atlântica ou a Floresta Amazônica que ela não pudesse receber o sol todo dia e continuar sua fotossíntese”.
Apesar do indicativo de avanço da lama, testes serão feitos para medir a qualidade da água e detectar se a origem da lama que compõe a mancha é efetivamente a que foi jogada no Rio Doce após a ruptura da barragem da Samarco, empresa controlada pela Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.
O teste para mensurar a presença de metais pesados na água marinha deve ficar pronto em dez dias após as coletas, iniciadas hoje. “Não há comprovação de origem e dano. À medida que evoluirmos nessa certeza, as decisões serão tomadas”, disse Mareti, em referência a punições que podem ser aplicadas à empresa.
Punição
O ICMBio ainda não multou a Samarco pelo impacto, mas o presidente do órgão disse que o órgão pode exercer seu “poder de polícia” para punir a empresa caso a mancha se consolide em Abrolhos. Mareti afirmou que “as autuações virão”.
A presidente do Ibama criticou a Samarco e suas controladoras, a Vale e BHP, por terem recorrido judicialmente de cinco multas aplicadas pelo órgão e que somam R$ 250 milhões. As multas deveriam ser sido pagas em 21 de dezembro. “As empresas podiam entrar com uma solicitação de entrar com um pedido de conversão da multa em investimento na região. Mas buscaram judicialização, o que é uma pena”, disse Marilene.
Ela cobrou uma postura mais proativa da Samarco, que, segundo a presidente do Ibama, tem adotado apenas medidas emergenciais no entorno do Rio Doce e de Mariana. “A atitude que se espera é que a empresa e suas controladoras, ao invés de travar uma disputa judicial, busquem propor um plano de trabalho num horizonte de dez anos que leve a bacia (do Doce) a uma situação que ela tinha antes desse desastre”, afirmou