Manifesto de P-31 repudia punições de petroleiros e denuncia insegurança

Os petroleiros da plataforma P-31, na Bacia de Campos, enviaram ao Sindipetro-NF manifesto onde repudiam punições aplicadas pela gerência da Petrobrás por indicação de um grupo de trabalho que apurou a insegurança na unidade.

“Nestas duas últimas semanas todos os envolvidos em liberação de serviço (emitentes e técnicos de seguranças) na casa de bombas, durante o intervalo de tempo no qual ocorreram os eventos, vêm sendo advertidos de forma escrita”, denunciam os trabalhadores.

O Sindipetro-NF exige que as punições sejam retiradas e avalia que os verdadeiros culpados pela insegurança na plataforma são os gestores, que tratam com displicência as questões de SMS relacionadas aos trabalhadores e às instalações.

Confira abaixo a íntegra do manifesto aprovado por assembleia a bordo neste domingo, 5.

Manifesto dos Petroleiros de P-31

Em assembleia realizada em 05 de Junho de 2016, nós, funcionários da Petróleo Brasileiro S.A. embarcados na unidade marítima Petrobras 31, viemos através desta, repudiar a ação punitiva tomada pela Gerência da Petrobras em relação ao evento ocorrido na casa de bombas e solicitar a anulação do Grupo de Trabalho (GT) e das advertências proferidas em virtude do mesmo.
Primeiro iremos relatar de forma objetiva o contexto associado ao tema: Há anos é de ciência das lideranças o histórico de válvulas dando passagem na casa de bombas. Histórico esse que consta em passagens de serviço e já foi planejado para ser executado em parada de produção, porém devido a falhas de gestão, as válvulas não foram trocadas, inclusive o trecho que apresentou o vazamento de água oleosa.
É prática comum na unidade quando há vazamentos em tubulações, tentar saná-los com abraçadeiras, massas compósitas e outras técnicas provisórias que tornam-se permanentes.
No mês de Abril de 2015 houve o primeiro vazamento no trecho citado na casa de bombas que foi sanado com a utilização de uma abraçadeira. No dia 5 de Janeiro de 2016, o vazamento neste trecho retornou, no dia 7 de Janeiro foi feito uma PT extraordinária afim de reapertar a abraçadeira, não obtendo sucesso e agravando a situação ainda mais, de tal forma que não foi possível utilizar nenhum recurso técnico para saná-lo de forma “definitiva”. Desta forma, culminouno shutdown 3P na plataforma, após os sensores de gás detectarem o vazamento.
A equipe de bordo após conseguir mitigar o vazamento, continuou com as operações normalmente, inclusive com offloading. Os cipistas solicitaram reunião extraordinária, a qual foi realizada no dia 11/01/2016 às 18:30h na sala de reunião e questionaram qual seria a solução a ser tomada no caso de vazamento em qualquer trecho de tubulação e que estavam subestimando a criticidade do evento. Estas não sabiam ainda sobre a mudança de criticidade da RTI “B” para RTI “C”.
Após à reunião no dia 18/01/2016, o vazamento se agravou mais uma vez. Abordado o caso com o COEMB, foi decidido com ciência do GEPLAT, realizar manobra operacional para diminuir a pressão na linha com a intenção de facilitar o ajuste da abraçadeira e mitigar novamente o vazamento. No dia 19/01/2016, às 05:00h foi feito by pass dos sensores de gás da casa de bombas e iniciou-se a manobra operacional que resultou na ativação dos sensores que estavam em by pass (a plataforma continuou produzindo até às 12:00h,horário que foi solicitado pela gerência de terra a paralisação da produção).
Após intervenção da ANP, originada por denúncias, a plataforma foi interditada por dois longos períodos e foi criado uma equipe de GT para analisar os eventos.
Foi designado como coordenador da equipe do GT o Gerente de Inspeção, uma das áreas envolvidas no acidente, havendo assim conflito de interesse técnico. Nestas duas últimas semanas todos os envolvidos em liberação de serviço (emitentes e técnicos de seguranças) na casa de bombas, durante o intervalo de tempo no qual ocorreram os eventos, vêm sendo advertidos de forma escrita.
Em um dos casos a gerência diz no documento que o desvio (falta de uma assinatura) colocou em risco as instalações e todas as pessoas a bordo da plataforma.
As planilhas de auditoria de PT da Bacia de Campos possuem um elevado numero de desvios de PT, porém só houve punição em P-31.
Não existe registro de ações educacionais com o objetivo de reduzir os desvios encontrados e as PT’s nas quais os desvios sofreram punição, foram auditadas pelo GT.
Lembramos que temos um código de ética a ser seguido onde o 1º principio diz:
“O respeito à vida e a todos os seres humanos, a integridade, a verdade, a honestidade, a justiça, a equidade, a lealdade institucional, a responsabilidade, o zelo, o mérito, a transparência, a legalidade, a impessoalidade e a coerência entre o discurso e a prática são os princípioséticos que norteiam as ações do Sistema Petrobras”.Caso os desvios citados sejam cabíveis solicitamos abrangência das advertências citadas para todo o Sistema Petrobras.
Diante dos fatos supracitados, as gerências foram orientadas pelo coordenador do GT a aplicar sanções punitivas. Deste modo, nós de P-31 chegamos à conclusão que a gerência entendeu que o evento ocorreu devido às PT’s de calderaria para sanar o vazamento e limpeza do ambiente devido ao vazamento e não a má gestão a qual todos estamos submetidos.
Foram responsabilizados pelo evento os emitentes e técnicos de segurança que interviram no vazamento, por conta de desvios encontrados na PT, e não a gerência, que é responsável pelas válvulas dando passagem, pelas linhas oxidadas, pelo by pass de mais de 7 horas para manter a unidade produzindo e inúmeras outras façanhas de ingerência e negligencia com a vida dos colaboradores de bordo. Os gerentes e coordenadores, que nada sofreram, são os responsáveis pela priorização e efetivação dos serviços que ocorrem na unidade.
É inadmissível e um absurdo inenarrável a gerência delegar toda a sua culpa para os funcionários responsáveis pela execução do serviço, em um acidente originado pela negligência dos mesmos e este, só não alcançou dimensões maiores devido a capacidade técnica, o comprometimento e atuação intensa destes no evento.
Perante o cenário relatado, nós embarcados em P-31, manifestamos de forma escrita nosso repúdio e deixamos bem claro que não são aceitáveis as punições aplicadas e não iremos aceitar a transferência de responsabilidade pelo evento, diante disso, através desta assembleia, deliberamos por:
a) Solicitar ao sindicato o envio deste Repúdio ao canal de reclamação (Ouvidoria) da empresa e retornar as demandas.
b) Cancelamento do GT e das advertências. Elaboração de uma equipe isenta, a qual não seja liderada por uma área envolvida.