Ministérios lotados de suspeitos

Na contramão do seu discurso moralista, o presidente Bolsonaro reúne nos seus 22 ministérios (sete a mais do que os 15 que o então candidato prometia durante a campanha) nomes que incluem investigados em denúncias de crimes eleitorais, omissão de patrimônio e fraudes.

 

Ricardo Salles

O último nome a compor o primeiro escalão do novo governo foi do advogado Ricardo Salles, para o Meio Ambiente. O Ministro foi secretário estadual do Meio Ambiente do governo de Geraldo Alckmin (PDB) em São Paulo. Em sua gestão no governo paulista, Salles atuou contra os institutos de pesquisa, operou transações com imóveis estaduais e alterou de maneira irregular o plano de manejo da Várzea do Tietê, área de proteção ambiental, para beneficiar empresários ligados à Fiesp.Em maio de 2017, o mais novo ministro de Bolsonaro se tornou réu após o Ministério Público Estadual (MPE-SP) ajuizar ação civil pública ambiental e de improbidade contra ele.

 

Onyx Lorenzoni

O discurso contraditório começou com a nomeação de Onyx Lorenzoni para assumir a Casa Civil. Em maio de 2017, o então deputado federal do DEM pelo Rio Grande do Sul admitiu publicamente ter recebido R$ 100 mil em fundos secretos do frigorífico JBS, nas eleições de 2014, configurando o crime de caixa 2, o qual o juiz Sérgio Moro considerou perdoável depois de Lorenzoni ter reconhecido o erro e pedido “desculpas”. Porém, no último mês, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin determinou a abertura de apuração sobre o pagamento de caixa 2 ao futuro Chefe da Casa Civil. De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), os delatores da JBS dizem que houveram dois repasses de R$ 100 mil: um em 2014 e outro, em 2012.

O futuro Chefe da Casa Civil já foi investigado por supostamente receber R$ 175 mil em propinas da Odebrecht. Porém, em junho deste ano, o inquérito sobre Lorenzoni foi rejeitado pelo STF.

 

Paulo Guedes

Chamado de “posto Ipiranga de Bolsonaro”, ministro da Fazenda, Paulo Guedes, também está sob duas investigações separadas por fraudes em fundos de investimento. Desde o começo de outubro,Guedes é investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) por gestão fraudulenta e temerária à frente de fundos de investimentos (FIPs) que receberam R$ 1 bilhão, entre 2009 e 2013, de fundos de pensão ligados a cinco empresas estatais.

As principais suspeitas envolvem os aportes no FIP BR Educacional que, no primeiro ano aplicou todo o dinheiro recebido dos fundos de pensão na HSM Educacional – agora chamada BR Educação Executiva, na qual ele era membro do Conselho de Administração. A HSM Educacional adquiriu uma empresa argentina, fora do negócio, por R$ 16,5 milhões. O negócio não foi bom e ambas as empresas acabaram perdendo dinheiro para os acionistas nos anos seguintes.

A segunda investigação envolvendo o “guru econômico” de Bolsonaro é sobre uma possível fraude de investimento que sua empresa fez na Enesa Participações. Acionistas confiaram no julgamento do economista com R$ 112 milhões. Gerido pela BR Educacional, empresa ligada a Paulo Guedes, o FIP causou perda total aos seus cotistas, entre eles o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica (Funcef), que detinha 20% de suas ações.

 

Marcos Pontes

O astronauta Marcos Pontes,  chefe do novo Departamento de Ciência, Tecnologia e Comunicação, a ser criado, também não possui sua ficha limpa. De acordo com o The Intercept Brasil, o tenente-coronel da Reserva da Força Aérea Brasileira, escondeu ativos por mais de uma década e violou o Código de Conduta Militar.

Pontes foi investigado por supostamente possuir sociedade na empresa Portally Eventos e Produções. O astronauta, no entanto, sempre negou sua associação com a Portally, já que o Código Militar Brasileiro proíbe que militares participem de qualquer atividade comercial enquanto estiverem no serviço ativo.

Após a investigação contra ele caducar na Justiça, Marcos Pontes, que já estava em regime de reserva naquele momento, tornou-se o principal acionista da empresa, detendo 80% do controle.

 

Luiz Henrique Mandetta

Escolhido para assumir o Ministério da Saúde, Luiz Henrique Mandetta é investigado por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de informatização da saúde em Campo Grande, capital de seu estado, onde foi secretário.

A denúncia é de que ele tenha influenciado na contratação de empresas para o serviço, conhecido como Gestão de Informação da Saúde (Gisa), em troca de favores em campanha eleitoral. De acordo com a Folha de S.Paulo, em uma ação civil pública, na qual Mandetta é alvo, a Justiça do Mato Grosso do Sul mandou bloquear um valor total de R$ 16 milhões de bens dele e dos demais envolvidos.

 

Augusto Heleno

O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Bolsonaro, general Augusto Helenofoi condenado em 2013 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por assinar convênios ilegais de R$ 22 milhões para os Jogos Militares de 2011, sediados no Rio. A condenação foi confirmada em 2016 e ordenou que ele pagasse uma multa de R$ 4 mil.

De acordo com a decisão do Tribunal, os institutos, que deveriam prestar serviços durante os jogos, não poderiam ter sido contratados sem um concurso público, além de não haver provas de que as parcerias beneficiariam o exército.

 

Tereza Cristina

O primeiro escalão do presidente de Bolsonaro também conta com Tereza Cristina como ministra da Agricultura. Ela é tratada pelo apelido Musa do Veneno, dado pelos próprios ruralistas quando, em maio, promoveu uma festa para comemorar a aprovação do chamado Pacote do Veneno –projeto que revoga a atual Lei dos Agrotóxicos e flexibiliza as regras para o uso de pesticidas agrícolas, muitos deles proibidos nos Estados Unidos e Europa.

Quando foi Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agrário e Produção do governo do Mato Grosso do Sul, Tereza concedeu incentivos fiscais à JBS na mesma época em que arrendou propriedade ao grupo, entre 2011 e 2012. Em 2014, ela recebeu mais de R$ 100 mil em doações de campanha do frigorífico. Eleita pela primeira vez em 2014, ela acumulou um aumento de quase 50.000% em seus ativos desde então.

 

Damares Alves

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que já começou sua gestão disseminando preconceito ao afirmar que “meninos vestem azul e meninas rosa” também tem uma lista de acusações.

A ONG Atini, fundada por Damares, é alvo de acusações do Ministério Público e de indigenistas, que falam em tráfico e sequestro de crianças e incitação ao ódio contra indígenas.

Em 2016, a Polícia Federal pediu à Fundação Nacional do Índio (Funai) informações sobre supostos casos “de exploração sexual e tráfico de índios”. No despacho estaria a ONG de Damares e outras duas. A informações são do jornal Folha de S. Paulo.

 

 

Marcelo Álvaro Antonio

 Antonio, cujo nome verdadeiro é Marcelo Henrique Teixeira Dias, é o Ministério do Turismo e seu nome consta como sócio da Voicelider, empresa com dívida ativa de 59,9 mil reais no INSS. Curiosamente, o número no CNPJ está errado na declaração que ele prestou ao TSE. O Banco do Brasil também cobra dívidas da empresa na Justiça. Antonio e familiares constam como réus em duas ações de usucapião que tramitam na justiça mineira.