Morre Jacó Bittar, petroleiro fundador do Sindipetro-SP, do PT e da CUT

Guilherme Weimann / Do Sindipetro-SP – Morreu no início da madrugada desta quinta-feira (26), o petroleiro mais prestigiado da história do país. Jacó Bittar faleceu aos 81 anos em decorrência do Parkinson, doença que o atingia há alguns anos.

Nascido no dia 12 de outubro de 1940, em Maduri, no interior de São Paulo, Jacó é filho de pai sírio, Athanásio Bittar, e mãe brasileira, Jacy Rodrigues Guilherme Bittar.

Com o falecimento do pai, em 1950, mudou-se para Santos (SP), onde cursou o primário e, posteriormente, o curso industrial básico, formando em operador de máquinas operatrizes.

Na cidade, jogou e assistiu a muitos jogos de futebol. Apesar de ser torcedor do Palmeiras, frequentou muitas vezes a Vila Belmiro para ver o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia. O seu ídolo, porém, era o palmeirense Mazzola.

Em 1957, aos 17 anos, Jacó ingressou nas Docas e permaneceu por cinco anos, de aprendiz a ajustador. Saiu em 1962, após passar no concurso da Petrobrás.

Na estatal, tornou-se operador na Fábrica de Fertilizantes, no setor de ácido nítrico, em Cubatão (SP). Em 1971, com a privatização da unidade, Jacó tinha a opção de se transferir para a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), que ficava ao lado da fábrica na qual trabalhava, ou para a Refinaria de Paulínia (Replan), que seria inaugurada.

Vida sindical

Decidiu se mudar do litoral para o interior paulista, onde fundou e se tornou o primeiro presidente do Sindipetro de Petroleiros de Paulínia, com sede na cidade de Campinas (SP), em 1973. Sua primeira batalha foi pela equiparação do valor-hora, já que percebeu existia uma diferença salarial entre os trabalhadores da RPBC e da Replan.

O sindicato, naquele período de plena ditadura militar, era extremamente vinculado à Petrobrás – a fundação da entidade, por exemplo, ocorreu dentro da refinaria. Mas com o passar dos anos, Jacó e outros militantes foram peças fundamentais para o surgimento de um novo sindicalismo, que conquistou autonomia e fez eclodir uma das maiores greves da categoria.

Em 1983, foi uma das lideranças da paralisação dos petroleiros da Replan. Além de estabilidade no emprego, os trabalhadores estavam em consonância com o chamado para a greve-geral do sindicalismo brasileiro. A reação da Petrobrás, entretanto, foi implacável: 153 trabalhadores demitidos apenas na Replan, incluindo Jacó.

Com isso, ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT), também em 1983, entidade na qual se tornou o primeiro secretário de Relações Internacionais.

Vida partidária

Logo depois, adentrou de vez no partido que havia ajudado a fundar três anos antes, em 1980, junto com o futuro presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. No Partido dos Trabalhadores (PT), foi eleito prefeito de Campinas em 1988.

No seu terceiro ano de mandato [1989-1992], mudou-se para o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Sua gestão foi marcada por uma revolução na Sanasa – empresa pública responsável pelo saneamento básico da cidade –; pela despoluição da lagoa do Taquaral; pela modernização da frota de ônibus, além de descontos para a população carente e passe livre durante dois domingos de cada mês; e por um projeto de plantio de um milhão de mudas de árvores pela cidade.

Legado

No dia 27 de agosto de 2021, na sua última visita ao Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), que sucedeu o Sindicato dos Petroleiros, Jacó já estava um pouco debilitado pela doença de Parkinson.

Logo no início da entrevista, que ainda permanece inédita, Jacó se desculpou pela dificuldade em responder às perguntas. “Não sei se eu vou conseguir desenvolver um tema, porque eu tenho Parkinson, mas espero que seja o suficiente”, ponderou.

Considerado o melhor orador que já passou pela categoria e pelo PT, frequentemente sendo comparado ao Lula, Jacó demonstrou um esforço enorme para expressar alguns pensamentos que, aparentemente, estavam fervilhando na sua cabeça.

Ao ser questionado sobre a importância da memória, entretanto, não precisou de muitas palavras para demonstrar sua opinião sobre o tema: “O importante é fazer a história”.

Jacó deixa três filhos e milhares de petroleiros e petroleiras.

Jacó: presente, hoje e sempre.