MST prossegue Jornada Nacional de Lutas com novas ocupações

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Imprensa da CUT – O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) deu seguimento nesta quarta-feira (26/7) à sua Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, iniciada ontem (25) como parte das comemorações do Dia do Trabalhador Rural. O movimento continuou realizando ocupações de latifúndios e promovendo manifestações em diferentes regiões do Brasil.

Nesta madrugada, o movimento ocupou uma área no Rio Grande do Norte ligada ao deputado Henrique Eduardo Alves, atualmente preso, e um complexo de fazendas com 700 hectares em Minas Gerais, de propriedade do empresário preso por corrupção Eike Batista.

No Rio Grande do Norte, a construção dessa obra tem impactado diretamente a região, reconcentrando de forma autoritária e ilegal as comunidades rurais e as áreas de assentamentos, sem indenização justa, expulsando as famílias do campo para viverem nas periferias das cidades, em detrimento da instalação das empresas do agronegócio.

“Essas terras obtidas ou envolvidas nos esquemas de corrupção precisam ser confiscadas e destinadas a famílias Sem Terra, para que elas tenham trabalho e produzam alimentos pro campo e pra cidade”, declara Gilmar Mauro, da direção do MST. Outros dois latifúndios foram ocupados também nos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná.

Além das ocupações de terras, o MST ocupou nesta quarta-feira o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), na paraíba, no Maranhão e em Pernambuco. O órgão havia sido ocupado ontem também em Sergipe e na Bahia. Ainda no Maranhão, o movimento realizou na terça-feira uma manifestação bloqueando a entrada da Base Militar de Alcântara, contra sua entrega para os Estados Unidos.

Desde a madrugada de terça-feira (25), o movimento iniciou uma série de ações ocupando áreas de propriedade do ministro Blairo Maggi, (no Mato Grosso) do coronel João Baptista Lima, parceiro e possível “laranja” de Michel Temer (em São Paulo), de Ricardo Teixeira, (no Rio de Janeiro), ex-presidente da Fifa procurado pela Interpol, e do senador Ciro Nogueira, no Piauí.

Em MG, ocupadas fazendas de Eike Batista

Na madrugada desta quarta (26), foi ocupado um complexo de fazendas em Minas Gerais pertencentes ao empresário Eike Batista, preso por corrupção ativa e lavagem de dinheiro. As fazendas ocupadas têm cerca de 700 hectares, e localizam-se em São Joaquim das Bicas, região metropolitana de Belo Horizonte. Cerca de 200 famílias sem-terra participaram da ação.

As terras fazem parte da MMX Mineração e Metálicos, empresa falida do empresário e encontravam-se abandonadas. Em nota, o MST apontou que a área sofreu constantes violações ambientais com a atividade mineradora frequente em seu solo.

Em conversa com o Brasil de Fato, Silvio Neto, da coordenação estadual do MST, contou que foram três as motivações centrais do movimento para ocupar essas terras. Em primeiro lugar, ele aponta as consequências causadas pelas atividades da mineradora para a região.

Neto argumenta que a região metropolitana de Belo Horizonte está sendo fortemente atingida por uma crise ambiental e econômica, agravada pela empresa de Eike. “No aspecto da crise ambiental, a atividade que a MMX do Eike Batista exerceu aqui na região comprometeu o abastecimento de água de toda a região metropolitana”, disse.

O movimento também aponta a desigualdade refletida na situação, argumentando que, enquanto Eike Batista responde ao processo por corrupção em prisão domiciliar, milhares de famílias da região enfrentam a crise financeira acompanhada da falta de emprego, terras e moradia digna.

Por último, o MST coloca que também pretende pressionar o poder público e os órgãos ambientais responsáveis pela distribuição de terras por meio da reforma agrária e pela fiscalização das violações ambientais cometidas pelo empresário na área.

Desde o início de março, cerca de 600 família sem-terra ocupam a fazenda Santa Terezinha, no município de Itatiaiuçu, do mesmo empresário, também em Minas Gerais. O acampamento denominado “Maria da Conceição” continua com a ocupação até hoje.

Luta

Em sua jornada iniciada nesta terça-feira (25), que carrega o lema “Corruptos, devolvam nossas terras!”, o MST também pretende denunciar a relação do agronegócio com o golpe parlamentar e midiático que retirou Dilma Rousseff da presidência do país. 

O movimento reivindica a saída do presidente golpista, Michel Temer (PMDB), o fim da retirada de direitos sociais por meio das reformas impopulares impostas por Temer e sua base aliada e eleições diretas para a Presidência da República.

“Nós não vamos permitir que os golpistas e os corruptos continuem atacando os nossos direitos, tentando retirá-los. O MST, com essa jornada, mostra que vai haver resistência e vai haver luta no Brasil, e que essa é a disposição da nossa organização que reflete a disposição do povo brasileiro”, completa o integrante do MS

Em Sergipe, movimento ocupa Incra

Em Aracaju, cerca de 200 famílias Sem Terra do acampamento Chico Mendes II ocuparam a sede do Instituto acional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). 

As famílias exigem o cumprimento de acordo firmado pela autarquia da aquisição do imóvel da área da fazenda Junco para que seja destinada para a Reforma Agrária.

Segundo Carlos Alberto da direção estadual do MST, “os Sem Terras seguirão em luta e resistência até que a situação seja resolvida com os órgãos responsáveis.

Também como parte da Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, mais de 10 mil pessoas saíram às ruas reivindicando dentre outras coisas o Fora Temer e Diretas Já!.

Perímetro Irrigado de Apodi é ocupado no RN

Na noite da terça-feira (25), a militância do MST ocupou o Projeto do Perímetro Irrigado Santa Cruz de Apodi, articulado pelo político Henrique Eduardo Alves (PMDB), atualmente preso por corrupção.

Conhecido como “Projeto da Morte”, o Perímetro Irrigado fica localizado na Chapada do Apodi do Rio Grande do Norte, região que vem sendo palco de conflitos entre representantes do agronegócio e camponeses desde 2012. O projeto é resultado de uma articulação de Alves, então Ministro da Integração Nacional, junto à bancada ruralista e as multinacionais do agronegócio.

Em junho deste ano, o político foi denunciado pelo Ministério Público Federal do Rio Grande do Norte pelo esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de ao menos R$ 11,5 milhões em propinas, que também envolveu o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB). As denúncias foram realizadas no âmbito da Operação Manus, um dos desdobramentos da Lava Jato. 

Os projetos de Perímetros Irrigados fazem parte dos “grandes projetos” elaborados durante a Ditadura Militar, em aliança com fazendeiros e empresas do agronegócio, para supostamente alcançar o “desenvolvimento” e o “combate à seca” no nordeste. Estudos de impacto ambiental destacam que o projeto de Santa Cruz de Apodi não teria viabilidade técnica, pois a água existente na região apenas o viabilizaria por cinco anos, além de beneficiar um modelo de agricultura baseado no uso intensivo de agrotóxico.

Com informações de Mayara Paixão, do Brasil de Fato e do MST.