Do Brasil de Fato – Há duas semanas, o acampamento Edson Nogueira foi despejado, por ordem judicial, do latifúndio que ocupava em Rio das Ostras, no interior do Rio de Janeiro. Organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e chefiadas majoritariamente por mulheres, as cerca de 150 famílias dirigiram-se para uma terra pública e ociosa em Macaé no último dia 21 de abril e, desde então, estão em conflito com a prefeitura em busca de uma vida digna.
Uma reunião entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o poder executivo local e os acampados estava marcada para esta semana, mas foi cancelada pelo poder público. O acampamento, no entanto, segue firme, de acordo com a acampada Rosa, mãe de duas filhas.
Oriunda da comunidade Nova Holanda, em Macaé, Rosa é uma das 82 mulheres que chefiam suas famílias e estão no acampamento.
“Tem sobrado esperança, fé e determinação para continuarmos na luta. Meu sonho é poder olhar um dia para as minhas plantações e dizer: ‘todo o sacrifício valeu a pena’”, afirmou.
A última renda fixa de Rosa vinha de uma carrocinha de lanches que ela colocou em frente de casa, mas, sem condições de manter a atividade, ela viu no acampamento uma oportunidade de melhorar de vida.
“O acampamento hoje para mim está sendo uma forma de esperança, de eu trabalhar como produtora rural, podendo assim ser assentada e produzir meu próprio alimento, já que vivemos no país do desemprego. Viver coletivamente para mim é uma novidade, pois nunca havia vivido assim, nunca dividi tanta coisa, principalmente espaço com tanta gente como tenho vivido aqui”, contou.
Rosangela, mineira de 48 anos e mãe solteira de dois filhos, disse que aprendeu acupuntura no acampamento e que lá há solidariedade entre as pessoas.
“O acampamento Edson Nogueira tem resistido. Não tem quase nada, mas tem tudo. Tem tudo porque cada um junta um cadinho, leva. Falta tudo, mas a gente tá sempre se ajudando um ao outro. E isso, com a boa vontade da companheirada, sempre ajuda. Um levanta o outro, quando tá desanimado, porque a luta é isso, um companheiro ajudar o outro”, descreveu.
Criada na roça, filha de agricultores e morando há 27 anos em Rio das Ostras, Rosangela disse que já trabalhou como vendedora, cozinheira, em salão de beleza, bar e padaria. Sem emprego, disse que aprendeu no movimento a não abaixar a cabeça e que lutar por terra é um direito seu.
“Quando a gente reclama, quando a gente faz a luta, quando a gente ocupa terra improdutiva, aí a gente é criminalizado. Mas é um montão de terra parada. Esperando pra que? Pra vender pra agronegócio? E o montão de gente passando fome? E a favela cheia? A gente já não aguenta mais. Então, a gente tem que fazer luta mesmo. Se unir o povo ainda mais. Se lutando tá difícil, se não lutar fica pior ainda˜, analisou.
O sonho da militante sem terra é ter uma propriedade para plantar e ter uma vida digna, longe da violência urbana. “Porque o povo fala ‘ah, o MST é violento’, mas nós não somos, não. Violentos são os bandidos, é a criminalização, é a opressão que nós vive, isso é uma violência”, concluiu.
A próxima reunião para discutir o futuro das famílias está marcada para a hoje, 22.