Mulheres petroleiras discutem impactos da construção social de gênero

Da imprensa da FUP – Reunidas no Instituto Cajamar, em São Paulo, para debater propostas conjuntas de avanço na organização das mulheres petroleiras, cerca de 50 delegadas da FUP e da FNP participaram na manhã desta quarta-feira, 24, da segunda mesa temática do Encontro Unitário. O evento, que teve início na terça (23), prossegue até esta quinta (25), com um total de quatro mesas temáticas e uma plenária final para encaminhamentos.

O debate tratou de “Formas de opressão e construção social de gênero”, com participação da economista Marilane Teixeira, pesquisadora do CESIT/IE-Unicamp, da assistente social Clara Saraiva, pesquisadora da UFRJ, e da advogada Karina Mendonça. A mesa foi coordenada pelas petroleiras Elizabeth Sacramento (FUP/ Sindipetro BA) e Raíra Coppola (FNP/Sindipetro RJ).

Foto: Andressa Delbons

As palestrantes falaram sobre os impactos da reprodução social e como é fundamental que o Estado e as empresas se responsabilizem pela produção da vida (cuidado humano) com a mesma prioridade que dedicam à produção de bens e serviços.

Marilane Teixeira explicou que o trabalho doméstico não remunerado é um processo de construção social resultante da divisão sexual do trabalho, que o capitalismo se utiliza para inferiorizar a mulher. Ela afirmou que a desvalorização do cuidado com a vida humana deveria é uma forma de segregação que se revela também na desigualdade salarial.

Marilane Teixeira: “O cuidado com a vida humana deveria ter um valor muito maior do que o cuidado com as coisas materiais”‘ | Foto: Andressa Delbons

“Atividades ligadas diretamente ao cuidado humano, como a enfermagem, por exemplo, tendem a ser desvalorizadas em relação àquelas que tratam do cuidado com as coisas materiais, como a engenharia, por exemplo”, destacou a economista, afirmando que o cuidado com a família deve ser responsabilidade de todos, não só das mulheres, mas do Estado e das empresas.

Clara Saraiva fez uma abordagem histórica da reprodução social, destacando que a violência cotidiana que as mulheres enfrentam é resultante de processos ideológicos conservadores, que visam aprisionar as mulheres no papel de bela, recatada e do lar. Ela destacou que a pressão que essas ideologias exercem se refletem nas formas como se estruturam as famílias no estado capitalista.

Clara Saraiva reforçou que o Estado e as empresas devem assumir a responsabilidade pelo trabalho de cuidado que recai sobre as mulheres | Foto: Andressa Delbons

“Na mesma casa que tem amor, tem violências psicológica, moral, patrimonial, física… o mesmo vale para os diversos espaços sociais, inclusive os locais de trabalho”, declarou Clara, ressaltando que, no caso das mulheres petroleiras, há também um atravessamento da divisão social de trabalho, pois a indústria petrolífera é um ambiente historicamente masculino.

A advogada Karina Mendonça lembrou que a construção social de gênero está tão embrenhada na sociedade que acompanha a mulher quando ela ingressa no mercado de trabalho. “Quando rompem com essa construção social de gênero, as trabalhadoras sempre estarão em posição de disputa”, citando como exemplo as dificuldades e resistências dos homens em serem comandados por mulheres.

Karina Mendonça destacou que a negociação do ACT é a grande oportunidade das mulheres petroleiras avançarem no combate aos assédios e opressões | Foto: Andressa Delbons

Ela afirmou que, apesar do machismo estrutural e dos assédios que assolam as mulheres nos ambientes de trabalho e poder, esse cenário vem sendo alterado, ainda que lentamente, com avanços na legislação e a construção de políticas de equiparação de salários e de combate aos assédios e à violência contra as mulheres.

Karina destacou que a negociação do Acordo Coletivo de Trabalho é uma grande oportunidade para as mulheres petroleiras garantirem proteção contra assédios no ambiente de trabalho.  “Está nas mãos das mulheres essa tarefa, pois são vocês que sofrem essa violência e, portanto, as que mais têm condições de propor um conjunto de normas para combater as diversas formas de opressão nas empresas, principalmente, os assédios moral e sexual”, afirmou

Foto: Alessandra Murteira/FUP

O Primeiro Encontro Unitário de Mulheres Petroleiras da FUP e da FNP prossegue ao longo da tarde, com a mesa temática “Exemplos de políticas de resistência e combate ao machismo”, com participação de Michelle Ferreti, cofundadora e diretora do Instituto Alziras, e de Aline Bernard, diretora do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.

No final da tarde, as mulheres petroleiras discutirão os instrumentos existentes na Petrobrás para combate às opressões (políticas de equidade de gênero e de responsabilidade social) na última mesa temática do encontro, que terá a presença de Cláudia Leitão, ex-ouvidora da Transpetro, e da assistente social da Petrobrás, Ana Paula Baião.

Acompanhe a cobertura do Encontro Unitário de Mulheres Petroleiras da FUP e da FNP nas redes sociais das federações.